«Uma mulher seca, que nunca conheceu o amor, de passado trágico e futuro marcado pelo desejo de auto-afirmação; uma mulher de mentalidade despótica, adversa à espiritualidade dos valores, crente de que a única dimensão do bem reside na sua utilidade social; uma mulher cuja especialização académica consiste na manipulação de estatísticas, moldando a realidade à medida dos seus interesses; uma mulher que usa o trabalho, não como forma de realização, mas como modo de exaltação do poder próprio, criando, não o respeito, mas o medo em seu redor; uma mulher ensimesmada, arrogante, feia e triste, que ama a solidão e despreza os homens; uma mulher autoritária e severa consigo própria, imune ao princípio da tolerância; uma mulher que ambiciona ser Ministra.»
Não gosto de estar a escrever sobre um livro que ainda não li.Mas trata-se duma leitura que desde já antecipo como a que me trará mais motivos para saborear este Verão com uma cara pouco estival.
Não me vou referir à Ministra que parece ser o modelo desta obra que antecipo desde já como magistral, o Miguel Real não sabe escrever mal, rima e está bem. E não é um homem maldoso, mas é frontal e apresenta-se sempre como ele é, o que é excelente.
E exemplos para darem razão ao modelo não faltam por aí. O mundo está aberto aos que hoje em dia são designados como psicopatas sociais, os pequenos ditadores de si que não perdem uma ocasião para treparem para o galho seguinte, mesmo que para isso tenham que precipitar no chão quem lhes fizer frente. Infelizmente as escolas estão cheias destes espécimes da zoologia da humanidade trepadeira, um género por si só, capaz de tudo para garantir a sua expansão neste ecossistema doente a que chamamos sociedade. A recente figura do director é um corolário deste movimento de fundo. Muitos directores acabaram de tomar posse e já se ouvem ecos de favoritismo, prepotência, quero-posso-e-mando. Era normal um professor chegar, recém-colocado, a uma escola, dirigir-se ao conselho directivo (depois passou a "executivo"), pedir para ser recebido por algum responsável e ouvir: "colega, espere que o colega (ou a colega) já o recebe", agora a música é outra: "infelizmente a senhora directora não pode recebê-lo, porque está em despacho". Uma pessoa até sai dali a pensar que agora a educação entrou mesmo no primeiro mundo.
E quantos de nós não reconhecemos exemplos do mais acabado do tipo de personalidade descrito no trecho acima citado? Não é preciso apontar para a senhora dos olhos feios e cara de má, principalmente quando o assunto são os professores. O que é estranho é que há professores assim que vivem para os cargos e para a canalhice. Neste sentido, a divisão da carreira docente em duas categorias, a de professor-só-professor e a de professor-titular vem na linha desta política da bílis tecnocrática que foi imposta ao nosso país nos últimos quatro anos, uma política da impostura, quando o sistema educativo necessitava clarificação e regulação ética e epistémica, e não me estou a referir às "habilitações" de certas figuras cimeiras da cena mediática, porque, no fundo, o que conta são as "habilidades" e o sobe-sobe-pavão-sobe. Política do pavão, portanto.
Sempre pensei que um professor deveria ser tutelar e não "titular", que coisa tão novo-riquenta, tão cheia de aristocracismo decadente...
Só um exemplo: numa escola que não vou dizer o nome, mas pode ser uma escola perto de si, caro leitor, quão longe andamos de ver o que está perto, havia um professor que mantinha a rede informática da escola, fazia a manutenção dos computadores, cada vez em maior número, ajudava os colegas em todos os enrascanços performáticos, seus e das suas máquinas, sempre com um sorriso e com total disponibilidade. Para além do mais tinha formação académica nessa área. Uma pessoa competente, portanto. A páginas tantas a lei impôs a existência dum coordenador TIC nas escolas. E naquela escola, quem foi nomeado? O abnegado professor de informática? Não, porque esse era professor-só-professor e, de acordo com a opinião dos dirigentes, o cargo deveria ser exercido por um professor titular. E assim foi, a escola passou a ter como coordenador TIC alguém que batia as palmas sempre que conseguia ligar um computador. E isto não é uma anedota, foi visto claramente visto. Mas atente-se que outras escolas seguiram outras metodologias, pelo que seria tremendamente injusto partirmos daqui para a generalização. E só para que conste: o tal professor continua a exercer as suas primitivas funções, sem o lustro do "cargo", é claro, mas, tendo a tal figura titular como avaliadora, e estando a avaliação dos professores tão engatada como está, que pai de família iria afrontar o "sistema"? Pianinho, portanto, que isto não está para reivindicações e lutas por classe.
Come e cala que não és de gala.
Có-córó-có-có que aqui só se faz ó-ó. E cantar de galo, só por regalo.
É a política do Estalo, quer dizer do Estado!
É tempo da carreira docente ser uma carreira decente. Pois, mas... e depois? Se morrerem as vacas ficam os bois! E dos bois, fazem-se vacas? Depende das vagas, dos contingentes e das "quotas"! Devíamos ser governados por cotas! Em vez de governo do barril, deveríamos ter um governo baril. Enganei-me: em vez dum governo "baril", pá! Devíamos ter um governo do barril, nem que fosse de água-pé!
Leia pois o livro, caro leitor e vai ver como é que se pescam personagens no triz. Acho que este livro não envergonharia o Eça. O país talvez continuasse. É o país que somos e talvez o que queremos. Será que não ganhamos vontade de ter outro?! De fazer bem? (O "o" não vai ali para o meio para não assustar ninguém).
1 comentário:
O pior é que há boas possibilidades de ser o país que queremos...
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