A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
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Donde vimos, para onde vamos...

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Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

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sexta-feira, 19 de junho de 2009

Identidade nacional continua viva

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É sobejamente conhecida a capacidade de adaptação do povo português e a arte de bem receber os estrangeiros. Especialistas na área do "desenrascanço" e na improvisação, os portugueses sempre conseguiram dar a volta nos momentos de crise, embora passando por grandes dificuldades.

Textos: Elisabete Cruz

Com a globalização e o fortalecimento do projecto europeu, nunca a mobilidade e a partilha de informação e experiências foi tão grande entre os diferentes povos. No entanto, moldada por vários séculos de história, a nossa identidade enquanto portugueses continua bastante presente, sendo várias as características que nos diferenciam.

Fomos um povo determinado com Afonso Henriques, aventureiro com os Descobrimentos e adormecido durante a ditadura. Todas essas, e muitas outras, vivências terão contribuído para o que somos hoje e seremos no futuro. “A identidade cultural é um continuado sem rupturas, uma herança que se reproduz e se adapta ao longo dos milénios”, salienta Moisés Espírito Santo, sociólogo.

Paulo Borges, professor de Filosofia, na Faculdade de Letras de Lisboa, afirma que “talvez a maior característica do povo português seja ser incaracterizável”, o que “tem permitido a flexibilidade de conviver e dialogar com todos os povos e culturas”.

Segundo o filósofo, os nossos antepassados tinham um “fundo libertário e anárquico” e foi o amor a independência que originou Portugal e que o manteve contra as tentativas de integração em Castela”. “Foi isso que nos fez recortar fronteiras e que, depois, nos fez rompê-las, tornando-nos viajantes e habitantes de todo o mundo”.

Hoje, “parece que essa insubmissão e arrojo escasseiam”, adianta Paulo Borges, referindo que nos deixamos “governar por minorias”, como acontece em toda a Europa, “pois a maioria abstém-se nas eleições”: A capacidade de luta “confina-se a indivíduos e grupos que pugnam apenas por interesses particulares, na cultura, na política e na economia”.

Admitindo que somos um povo pessimista, Moisés Espírito Santos revela que os portugueses são “passivos, rotineiros, avessos à inovação e afeitos à dependência”. Teremos ainda “tendências parasitárias”, procurando “enriquecer sem trabalho, à custa de astúcias, da sorte, de rezas e de fraudes”.

Moisés Espírito Santo constata que uma das características da cultura portuguesa é a “ostentação”, que surgiu na época da Renascença, e reflecte a ausência de “individualismo sociológico”. “É como se se pensasse: ‘Eu só sou feliz e rico se os outros o notarem’. Quer dizer, faz depender a felicidade pessoal do julgamento dos outros, como na ruralidade gregária”.

A ERA DOS DESCOBRIMENTOS

“Não somos aventureiros. Somos fugitivos.” O sociólogo defende que os Descobrimentos foram “uma fuga às condições de pobreza” e “a recusa das transformações económicas que se processavam na Agricultura, no Comércio e na Indústria”.

“Os Descobrimentos resultaram numa inegável epopeia, mas não foi pela vontade das pessoas ou das elites. Foi por efeitos secundários da cultura, enviezados e involuntários”, acrescenta.

Por seu lado, Paulo Borges realça que as características de um povo são “fruto do que fizemos no passado e do que desejamos ser no futuro”. A era da Epopeia marítima marcou-nos “profundamente”, deixando sobretudo a “saudade de um apogeu e de uma grandeza que não são apenas do poder e da riqueza material, mas sobretudo, de termos vivido e convivido à escala do planeta”.

É, por isso, que “o pequeno Portugal e a limitada Europa não nos podem satisfazer plenamente” O problema é que, “em vez de assumirmos o sentido mais fundo do nosso desejo de grandeza, andamos em busca de vãs compensações como o sermos campeões do mundo de futebol, termos a maior ponte, o maior centro comercial...”

Os portugueses são um povo onde a emigração desde cedo foi incentivada e cuja adaptação não é difícil. Moisés Espírito Santo explica que nos adaptamos “bem às outras culturas pelo mesmo mecanismo sociológico que conduz à dependência e ao parasitismo social”.

“ ‘Adaptar-se’ corresponde a ‘optar por ficar dependente’, ‘não se diferenciar’, por facilitismo, por preconceito de inferioridade, por imitação, fazer como fazem ‘os outros, os superiores’, em prejuízo das diferenças culturais”.

Mas, segundo o sociólogo, os emigrantes são “criativos no estrangeiro”, porque “se libertaram dos comportamentos gregários e comunitários de origem que travavam a inovação e a vontade de emancipação”.

IMPREVISIBILIDADE SUPERA-NOS

A “imprevisibilidade” que Paulo Borges encontra nos portugueses é uma mais-valia para levar a que o País ultrapasse as dificuldades que surgem. “Tudo depende de assumirmos um grande desafio colectivo, que nos leve a superar-nos e a darmos o melhor de nós mesmos para o realizar.” O desafio será vivermos não para nós, mas para o bem comum”.

O filósofo acredita que “uma pequena nação como Portugal pode tomar-se grande pela defesa de um grande ideal universal, benéfico para todos, como a defesa da natureza, do meio ambiente, dos direitos humanos e dos direitos de todos os seres vivos, com todas as consequências sociais, políticas e económicas disso”.

Denominando a isto “patriotismo trans-patriótico e universalista”, Paulo Borges defende que só colocando “o melhor da nossa cultura e das nossas energias e potencialidades ao serviço da felicidade e bem-estar de todos”, poderemos ser “um dos embriões dessa nova civilização a que todos no fundo aspiramos, miticamente designada como Quinto Império”.

DA ORGANIZAÇÃO À DESORGANIZAÇÃO;

A diferença entre os povos é a cultura, que “começa na educação familiar e reproduz-se durante a vida do adulto”, defende Moisés Espírito Santo. O sociólogo lembra que “na sociedade rural, os portugueses eram escrupulosamente organizados no contacto com a terra e os animais”.

Utilizam a ordem “milenária”, com um sistema social “da pequena colectividade, de cariz comunitário, fraternal e de controle social inter-vizinhança”. A desorganização social surge com a transição para um meio “urbano e anónimo”.

Verifica-se um desajuste entre o rural e a modernidade. “Falta-nos a cultura do ‘indivíduo sociológico’, auto-responsável – de que os nórdicos e anglo-saxões são protótipos. Tudo parte da educação familiar – que é a origem da Cultura.”

A identidade cultural portuguesa tem muito de “vontade de dependência, de desejos de proteccionismo, de assistencialismo (ou parasitismo), de recusa da autonomia ou diferença individuais, de submissão aos superiores”, afiança Moisés Espírito Santo.

O sociólogo recorda que os romanos, quando chegaram à Península, classificaram a cultura nortenha ibérica da época de “ginocrática”, matriarcal. “A mulher era quem decidia na família e quem, exclusivamente, cultivava a terra, trabalho desprestigiante para os ‘machos’”. Ainda hoje, a cultura portuguesa favorece a ligação à mãe.

Jornal de Leiria, 11 de Junho de 2009, páginas 4-5

2 comentários:

Eurico Ribeiro disse...

“Não somos aventureiros. Somos fugitivos.” O sociólogo defende que os Descobrimentos foram “uma fuga às condições de pobreza” e “a recusa das transformações económicas que se processavam na Agricultura, no Comércio e na Indústria”.

“Os Descobrimentos resultaram numa inegável epopeia, mas não foi pela vontade das pessoas ou das elites. Foi por efeitos secundários da cultura, enviesados e involuntários”

Ainda bem que há pessoas doutas que expressam enormes certezas sobre coisas que não podem ter a mínima ideia!
Se olharmos um pouco para a realidade da Irlanda, onde a pobreza era mais galopante do que neste extremo da península (a nossa região Minhota é até bem fértil), não se virão atacar o mar como nós à procura da referida salvação, porque aqui "a malta passava fome e tinha que se virar" a contragosto das elites e do povo!

Como pessoas de nível académico podem dizer coisas das quais não fazem a mínima ideia com tanta certeza? Acaso esta douta pessoa terá ouvido falar de São Bernardo de Clavaral? Se o tivesse percebia que os Descobrimentos já estavam planeados muito antes da nossa fundação e nós éramos o povo e a região mais favoráveis a essa empresa! E não porque se passava fome, com uma população muito inferior a um milhão de habitantes...
Indústria??? Meu caro, a revolução industrial ocorre em Inglaterra 700 anos depois da nossa fundação... duzentos anos depois do nosso pico máximo dos Descobrimentos!

No entanto isto serve com certeza para a eterna capa protectora que os portugueses inconscientemente ou conscientemente vão construindo em torno de si mesmos para se protegerem dos bárbaros...

Eurico Ribeiro disse...

Verifica-se um desajuste entre o rural e a modernidade. “Falta-nos a cultura do ‘indivíduo sociológico’, auto-responsável – de que os nórdicos e anglo-saxões são protótipos. Tudo parte da educação familiar – que é a origem da Cultura.”

Por muito que pense não consigo encontrar o indivíduo independente anglo-saxão, já que eles são rigidamente cumpridores (mesmo que as situações sejam ridículas no nosso ponto de vista) das regras.
Nós portugueses somos cumpridores até acharmos as regras desajustadas ou ineficientes e então "damos-lhes a volta" e fazemos como achamos melhor.
Este é que é um comportamento tipicamente nosso que funciona pouco como diz no regime de seguidismo. Para um português seguir alguém tem que lhe reconhecer valor (capacidade de liderânça ou poder), senão acha que é o outro que o deve seguir!

O problema aqui é que independentemente da capacidade e incapacidade, todo o português se acha um chefe em potência. Quando se tratam de ignorantes, é obvio que mais chefes se acham e por isso as asneiras que fazem são gritantes.

Não se deve confundir a meu ver as características essenciais de um povo com aspectos negativos que todos os povos têm, já que são constituidos por todo o género de pessoas.
Já agora os anglo-saxões são no seu lado negativo (uma maioria significativa por sinal) individuos quadrados, cujo excesso de cumprimento das regras "impostas" os leva por vezes a estravazar em actos de extrema violência e destruição.

A única coisa de que estou de acordo é com o carácter matriarcal da nossa civilização e vistas as coisas até parece que nos antecipámos uma série de séculos...