A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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terça-feira, 5 de maio de 2009

Um Tríptico Europeu: III. Espírito

Agora peço-vos para escutar uma coisa pequena, porque entendo que as coisas pequenas falam, como falam – quando falo eu – o trigo e o falcão. E que enquanto elas falarem, não se deduz da liberdade ganha pelos que perderam a Pátria que seja bom que as Pátrias se percam. Não se deduz da queda inevitável dos impérios que seja bom o desprezo pelos impérios. E se não é isto o que nos une, não sei o que possa ser.

Nós mesmo não procedemos muito mais razoavelmente quando o chamado Salão Bösendorf foi demolido. E contudo esse salão estava destinado simplesmente à música de câmara e não era mais do que um edifício sem importância e sem arte, que antes havia sido escola de equitação do príncipe de Lichtenstein e que, apenas com um simples revestimento de madeira, havia sido modestamente adaptado para fins musicais. Mas a sua sala de concertos tinha a ressonância de um velho violino, e era lugar sagrado para os amantes da música porque ali haviam dado concertos Chopin, Brahms, Liszt e Rubinstein e ali se haviam ouvido pela primeira vez os mais célebres concertos.
E era esse santuário que ia ser demolido, substituído por outro edifício destinado a outros fins. (…)
Então, quando no último espectáculo dado nessa casa se fizeram ouvir as derradeiras notas de Beethoven, tocadas mais admiravelmente do que nunca pelo quarteto Rosé, ninguém abandonou o seu lugar. Fazíamos ruído e aplaudíamos, e muitas senhoras soluçavam, pois nenhum de nós queria acreditar que fosse a última despedida, Por fim apagaram as luzes do salão para nos obrigarem a retirar. Mas foi inútil nenhum dos quatrocentos ou quinhentos fanáticos saiu do seu lugar. Continuámos ainda ali meia hora, uma hora, como se com a nossa presença pudéssemos fazer com que o santuário fosse salvo. E quanto lutámos, nós, os estudantes, com petições, demonstrações e exposições, para que a casa onde morrera Beethoven não fosse demolida! Arrasar cada uma dessas casas históricas de Viena era como que arrancar-nos pedaços da própria alma.


Uma pátria longe, um império antigo, a voz das coisas na noite da última noite.

Um tríptico europeu.

5 comentários:

Ana Margarida Esteves disse...

Vivi uma temporada na Austria. Um pais que, bizarramente, tem muito em comum com Portugal em termos de origem e destino. No melhor e no pior. No sublime e no horrivel. Na paradoxal propensao para o cosmopolitismo e para o provincianismo mais abjecto.

Paulo Borges disse...

Casimiro, grato por evocar Zweig e esta Viena. Curiosamente, se para mim sentir-me português é cada vez mais sentir-me cidadão de todo o mundo e até do universo, sentir-me europeu é cada vez mais sentir-me pertencente a essa Europa central, que fala alemão, com uma extensão para os países eslavos e a grande Rússia.

Aprecio muito as suas evocações, docemente melancólicas e saudosas, do que passou e passa, embora com elas não se compadeça uma das leis fundamentais de todo o existente: a impermanência. Todavia, num outro sentido, é a mesma impermanência que torna possível que tudo possa sempre ressurgir, embora jamais na mesma forma. Desculpe insistir, mas creio que Proteu é invencível e não haverá jamais herói que o fixe. Tentá-lo é votar-se a um fracasso trágico. Por mais belo que tentá-lo seja.

Casimiro Ceivães disse...

Como disse em comentário anterior à Ana Margarida, Portugal é na Europa a Áustria do Oeste, a "Marca do Oeste".

E a Europa Central que fala alemão conheceu (e deixou morrer) aqueles europeus que podiam dizer como Carlos V "falo alemão com os cavalos, italiano com as mulheres, francês com os homens e espanhol com Deus".

Ao contrário do que talvez pareça (não tinha pensado nisso) não tento fixar Proteu. Pensando agora, diria que quero evitar que ele olhe a Medusa.

Paulo Borges disse...

Espero que não esteja de acordo com Carlos V e com esses europeus porque em alemão está pensado e escrito muito do que de mais profundo há na cultura europeia. Mais grave do que já não se lerem os livros franceses é nunca se terem lido os alemães que nunca foram nem serão traduzidos. Pior só é quase ninguém ler o sânscrito, o hebreu e o árabe.

Casimiro Ceivães disse...

É curioso o que se pode extrair da frase "o alemão é uma boa língua para falar com um cavalo"...

Eu estou péssimo nisso. Não falo nem sei ler alemão nem latim, e só com muita dificuldade o italiano...

Mas como Deus também entende português...