Este livro consiste de uma extensa entrevista levada a cabo por Marta Harnecker, socióloga e marxista chilena, a Hugo Chávez, o revolucionário e mediático presidente da República Bolivariana da Venezuela. O valor deste livro recai muito sobre o esforço da entrevistadora que em vez de repetir as perguntas habituais teve o cuidado de pesquisar todas as entrevistas já publicadas bem como obras biográficas de Chávez de modo a complementar a informação já existente e a inovar nas questões colocadas.
O resultado é este livro de leitura fácil editado pela editora portuense Campo das Letras, 224 páginas que se devoram quase de um só fôlego e que nos saciam a curiosidade relevante ao processo revolucionário em curso na Venezuela.
O que mais me impressionou nesta obra, além do cuidado documental da entrevistadora, foi o à vontade de Hugo Chávez em falar de temáticas incómodas, de apostas perdidas, de políticas que falharam, página sim página não são constantes as menções a erros do seu próprio governo, decisões erradas suas, coisas que ainda faltam fazer, outras que foram mal efectuadas, enfim, tudo aquilo que os políticos ocidentais se esforçam por ocultar, esquecer e fazer desaparecer dos seus currículos o mandatário bolivariano partilha descomplexadamente assumindo os seus erros e tentando, sempre, melhorar e evoluir.
E se os erros foram muitos, a verdade é que os sucessos também têm sido de saudar. Aqui está um livro para todos aqueles, curiosos, que desejem desvendar os altos e baixos da construção da “democracia participativa” que se encontra a decorrer na Venezuela, a primeira revolução efectuada nas urnas e na qual o exército e os militares não sucumbiram ao cliché sul-americano do golpe de Estado e da ditadura militar
14 de Maio de 2009
Fazendo - jornal comunitário
4 comentários:
Sem contestar alguns "sucessos" do regime do Chávez, que reconheço, ainda que me pareçam demasiado dependentes dos lucros de petróleo (mas, existindo lucros, é bom que eles beneficiem as camadas mais pobres; a questão é quando esses lucros baixarem, como já está a acontecer...), acho "curiosa" a admiração, ainda que por vezes envergonhada, de alguma da nossa esquerda bem-pensante europeia relativamente a Chávez, que a mim me faz lembrar o Mussolini. É, de longe, a meu ver, o líder político actual que mais se parece com ele...
Infelizmente também creio que o modelo revolucionário adoptado só funciona graças aos lucros.
Para o resto, uma consulta breve do http://aslinhasdechavez.blogspot.com e nota-se que, fosse o Chávez europeu, lhe chamariam outros nomes...
Sobre o apoio do PCP sugiro o livro de José Neves, pela Tinta da China, sobre o nacionalismo comunista português, "Comunismo e Nacionalismo em Portugal".
Até as bases que apoiam Chávez recordam as bases que apoiavam o dito italiano (marxistas e comunistas desiludidos, socialistas diversos, anarquistas e libertários quanto baste...) e com a recente criação dos Batalhões Socialistas, com farda e tudo, bom... o que vale é talvez a camisa não ser negra nem castanha.
Após a II Guerra Mundial muito se ocultou, e algumas coisas tão engraçadas como uma citação de Lenine: "É o único homem capaz de lavar a cabo a revolução em Itália".
Referia-se ao director dos jornais socialistas italianos "Avante!" (sim, a Internacional não era muita imaginativa neste campo) e "Luta de Classes"... o Benito Mussolini, o serafim do comunismo italiano que descambou em... bom, naquilo que vem nos livros de História.
E nem mencionemos que o Errico Malatesta foi um dos redactores da Constituição da República de Fiume... a Feira do Livro Anarquista está aí à porta e ainda me apedrejam se me arrasto sobre as origens ocultadas dos fascismos europeus.
Temos ainda o pensamento da esquerda pós II Guerra: apoiar o oposto de tudo o que a "extrema-direita" apoie, pois bem:
A extrema-direita e os neo-fascistas odeiam Chávez, logo a esquerda gosta dele.
É um pensamento simplista, mas é deprimente o quanto tem de verdade em muitas esferas da vida.
Mesmo não sabendo se foram hesitantes, agradeço as aspas que definem ‘democracia participativa’.
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