A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

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quinta-feira, 21 de maio de 2009

São Nuno Álvares Pereira, Herói e Santo para o Altar da Pátria, pai e amigo do povo

Nenhuma outra figura nacional revestiu esta couraça – Herói e Santo! Nenhuma outra foi tão brava e forte em libertar o País; e tão generosa e amiga dos pobres.

Vivemos hoje num pleno contraste: desconsidera-se e até se suprime o ideal da Pátria; e esmaga-se a pobreza com um lauto cabedal de riqueza e bens; perante os lázaros, que jazem ao portão com os cães a lamber-lhes as feridas. E é este Portugal, que dizemos: - está no caminho certo. Fala-se em cidadania, para matar a sede e a fome.

Herói como nenhum outro, expôs a vida e montou a máquina militar na planície de Aljubarrota para derrotar drasticamente D. João de Castela, que se queria apoderar do trono de Portugal, pois casara com a nossa infanta D. Beatriz filha de el-rei D. Fernando, que contava então 13 anos de idade. Ficara a menina-rainha em Ávila, cercada de donas e donzelas em preces contínuas pelo bom êxito da campanha de seu marido (1).

O rei de Portugal não tinha mãe, nem irmã, nem esposa que rezassem por ele. Era-lhe mãe, solícita e cuidadosa no serviço de oração, como diz Fernão Lopes, “a sua mui leal e fiel servidora a cidade de Lisboa” (2).

Sabendo que era inevitável o recontro, a gente da cidade começou a fazer seus votos e procissões, “rogando muy afincadamente ao muy alto Deus e a sua preciosa Madre que hás quisesse ajudar contra seus inimigos”. No dia 15 de Agosto à tarde, enquanto o povo estava na Sé para cantar “a devota oração se Salve Regina”, como costumava fazer em todas as igrejas, chegou um mensageiro com boas novas. Confirmada na madrugada seguinte a notícia da vitória, ordenaram nesse dia uma procissão em que foram todos descalçados, levando a imagem de S. Jorge, “e asy chegaram a Santa Maria da Escada honde diserã misa e preguaçaõ e se tornaraõ muy ledos para suas casas” (3). Depois estabeleceram uma série de procissões de acção de graças que deviam celebrar-se em Lisboa “dês emtão pera todo sempre, naquela somana dAssunção da Benta Virgem” (4). Na visita ao mosteiro da Graça, haviam de dizer-se, depois do sermão, “sete misas cantadas a honra dos sete guoivos da Virgem Maria” (5). As câmaras de todo o país comemoravam anualmente a vitória de Aljubarrota, a 14 de Agosto com uma procissão solene, instituída por carta de 11 de Março de 1482, a qual foi suprimida por Filipe I e restaurada por D. João IV (provisão de 12 de Junho de 1611).

Em todos os tempos o povo e o estado e a história de Portugal, proclamaram estes factos e cultivaram a sua memória. A nível civil, é lembrada em monumentos, praças e instituições; a nível religioso, é celebrada em igrejas, imagens e associações. Figura incontornável da nossa história, importa revitalizar a sua memória e dar a conhecer o seu testemunho de vida. Para além de ser um modelo de santidade, no seguimento radical de Cristo, que “não veio para ser servido mas para servir” (Mt. 20, 28), apraz-nos pôr em relevo alguns aspectos de particular actualidade, para todos os homens e mulheres de boa vontade: Nuno Álvares Pereira foi um homem de Estado, que soube colocar os interesses da Nação acima das suas conveniências, pretensões ou carreira. Fez da sua vida uma missão, correndo todos os riscos para bem servir a Pátria e o povo.

Em tempo de grave crise nacional, optou corajosamente por ser parte da solução e, numa entrega sem limites, enfrentou com esperança os enormes desafios sociais e políticos da Nação.

Coroado de glória com as vitórias alcançadas, senhor de imensas terras, despojou-se dos seus bens e optou pela radicalidade do seguimento de Cristo, como simples irmão da Ordem dos Carmelitas. Não se valeu dos títulos de nobreza, prestígio e riqueza, para viver num clima de luxos e grandezas, mas optou por servir preferencialmente os pobres e necessitados do seu tempo.

Vivemos num tempo de crise global, que tem origem num vazio de valores morais. O esbanjamento, a corrupção, a busca imparável do bem estar material, o relativismo que facilita o uso de todos os meios para alcançar os próprios benefícios, geraram um quadro de desemprego, de angústia, de pobreza que ameaçam as bases sobre as quais se organiza a sociedade. Neste contexto, os testemunho de vida de D. Nuno constituirá uma força de mudança em favor da justiça e da fraternidade, da promoção de estilos de vida mais sóbrios e solidários e de iniciativas de partilha de bens. Será também um apelo a uma cidadania exemplarmente vivida e um forte convite à dignificação da vida política como expressão do melhor humanismo ao serviço do bem comum (6).

Para darmos uma referência às nossas Ilhas dos Açores, podemos referir que o movimento pastoral de renascimento jovem, que se situou na acção do Padre Nunes da Rosa, no Pico: Padre João Goulart Cardoso, no Faial; Padre Bulhões e Ernesto Ferreira, em S. Miguel, nos princípios do século XX, se apoiaram nesta figura modelar de jovem, pajem da Corte, homem e modelo patriota em defesa da moral pública e da Pátria em perigo. Daqui a série de imagens de Nuno Álvares que apareceram nas nossas igrejas e os movimentos juvenis que o tomaram como patrono.

Disse,

Pe. Júlio da Rosa
Horta, 26 de Abril de 2009

(1) Oliveira, Padre Miguel de; Santa Maria na História e na Tradição Portuguesa; Lisboa, 1907, pag. 53.
(2) Fernão Lopes, Crónica de D. João I, vol. II, cap. XL e XLVI.
(3) Idem.
(4) Ibidem. XLVIII.
(5) Ibidem.
(6) “Exemplo heróico em tempo de crise”; Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa por ocasião da canonização de Nuno Álvares Pereira; in “Família Carmelita”, ano XVIII, nº 63, Março de 2009, pág. 7 e seg.

Publicado no semanário Tribuna das Ilhas de 08 de Maio de 2009.

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1 comentário:

João de Castro Nunes disse...

A propósito da canonização do Condestável, D- José Policarpo afirmou: "O Estado convive mal com a realidade (...) da santidade".

BRAVURA, SANTIDADE E VILANIA

A Sua Eminência o Cardeal Patriarca de Lisboa

Vossa Eminência tem toda a razão
no que respeito diz à santidade,
perante a qual não há conformidade
por parte do governo da nação.

Os nosos governantes não se dão,
na sua quase generalidade,
com tudo quanto cheire, na verdade,
a sentimentos de... religião.

Preferem ver no santo condestável,
e mesmo assim com certas reticências,
o paladino audaz e formidável.

Na maioria, suas excelências
convivem mais a gosto, dia a dia,
com as demonstrações de... vilania!

JOÃO DE CASTRO NUNES