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No primeiro Caderno desta série, A VIDA DE MASARYK, reconstitui, Agostinho da Silva, a vida desse célebre político checo, salientando o quanto neste a política* era meio, não fim: “A acção exterior aparecia em Masaryk como um elemento e um efeito desta elevação progressiva do espírito; ia-se fortalecendo e ampliando o interesse pela política pela influência na maneira de ser e de viver dos outros homens: nenhum gosto da política de administração ou da batalha por um cargo mais honroso; a ele lhe caberia honrar os cargos se alguns tivesse e a política não era mais a seu ver do que uma forma de educação; o verdadeiro político devia ter sempre a política como um meio: o objectivo a que o deviam levar todas as suas energias era o melhoramento moral do povo não esquecendo nunca, porém, que em geral é difícil a moralidade a quem se não encontrou na vida com liberdade económica e política; impossível, mesmo, uma real moralidade.”[1].
No segundo, O FERRO, colige, Agostinho da Silva, uma série de dados a respeito do ferro, inclusive quanto ao comércio, dizendo-nos que “há cada vez mais a tendência da utilização local dos minérios e é possível que dentro de poucos anos só circulem em maior quantidade os produtos manufacturados que requerem uma boa preparação técnica; exceptua-se naturalmente o comércio com os países que necessitam de produtos industriais e não têm nem ferro nem hulha”[2].
No terceiro, HISTÓRIA DO EGIPTO ANTIGO, começando por destacar o poder absoluto do faraó enquanto especificidade do regime político egípcio – “Durante o antigo império, o faraó mantém as características do período anterior; é um ser divino que ninguém ousa desrespeitar e que, teoricamente, nem ordena: constrói o mundo, modela-o conforme o seu desejo; o homem que obedece ao faraó não é uma livre inteligência decidindo se quer ou não submeter-se à ordem; é um elemento do universo que a vontade toda poderosa do soberano maneja conforme o que lhe parece melhor; dele vem toda a felicidade para o Egipto e é fora de dúvida que, para os reis melhores, nada há que rectificar na opinião dos súbditos; o sistema hidráulico do Egipto, a paz interna, a prosperidade crescente teriam sido impossíveis, dadas as circunstâncias de toda a vida humana da época, se uma forte autoridade central, um déspota esclarecido, não tivesse ordenado e vigiado todo o trabalho.”[3] –, acaba por constatar o quanto, “embora conservando algumas características próprias, o povo egípcio vai adoptar em grande parte os costumes gregos, depois os costumes romanos, contribuindo assim pela sua parte para a uniformização da cultura mediterrânica”[4].
No quarto, A ESCULTURA GREGA, destacando igualmente um período inicial[5], denuncia depois uma decadência: “na escultura posterior vão acentuar-se os caracteres de decadência, apesar do génio de um Praxíteles, de um Scopas ou de um Lisipo; o nu feminino aparece como um dos caracteres dominantes e rapidamente passa de uma forma de beleza, banhada em ar divino, afastada de todo o impulso de desejo, para as Vénus helenísticas era que prepondera o sensual e em que o vestuário, se algum existe, apenas serve para sublinhar a provocação da nudez; ao amor, sentimento forte e digno, raro no mundo, iniciador, com Platão, na beleza universal, substitui-se a voluptuosidade que está mais ao alcance de uma sociedade em decadência; o fim da democracia aristocrática, a influência das civilizações asiáticas, o desprezo da cidadania, por um lado nos grandes reinos governados por déspotas, por outro lado no individualismo mais forte do que tudo o que era possível no esplendor de Atenas, leva os homens a aceitar facilmente o que é temporal, o que se mostra como aparência, abandonando a busca das essências que se apresentavam ao grego do século V como a mais nobre ocupação humana, como a única verdadeiramente digna de homens; entram na arte o sofrimento e a miséria, a alegria que explode violenta e se não mantém como força de alma, a dor que abre, romanticamente, a boca das estátuas e romanticamente lhes contorce os braços; entram na arte as representações de velhos e de crianças, que não têm, como é evidente, interesse humano superior, e que a escultura do grande período punha de lado, numa nítida preferência pelo adulto na plena posse dos seus meios, na plena consciência das suas possibilidades.”[6].
No quinto, AS VIAGENS DE STANLEY, Agostinho reconstitui todas as peripécias deste aventureiro britânico, salientando o quanto este “não hesitava no emprego da força”[7], sem que, contudo, em algum momento se tivesse deslumbrado com a fama: “o foragido do asilo era agora Sir Henri Stanley, mas nem por um momento o perturbou o favor do público; tinha sempre a mesma opinião da humanidade e tinha a certeza de que a vaga passaria”[8].
No sexto, A REFORMA, manifesta Agostinho da Silva uma perspectiva positiva deste movimento religioso, por mais que, como reconhece, por via dele “a fé tenha perdido”: “no conflito, a fé perdeu e hoje há numerosos agrupamentos de reformados que são pouco mais do que sociedades de filosofia e de acção moral; como os domínios humanos comunicam todos entre si, não foi duradouro o aborto político e social que se incluía na Reforma: o gosto da liberdade estendeu-se a outros campos e seria fácil traçar a história de muitos movimentos revolucionários mostrando o seu acordo com doutrinas protestantes e até a sua filiação nos rebeldes do século XVI. E, se a humanidade não tivesse ganhado mais nada com a Reforma, bastaria o que se conseguiu nos domínios da pedagogia para que se pudesse verificar progresso: a afirmação de que a todo o fiel devia ser possível ler os textos sagrados levou à criação de escolas populares com métodos e ambiente novos; fundaram‑se ginásios (escolas secundárias), academias e faculdades; escrevem-se numerosos tratados de pedagogia, dá-se o primeiro impulso para a obra de Coménio, de Basedow, de Froebel; e é aos colégios protestantes que vão buscar o seu modelo, pelo que respeita a organização, os Jesuítas que, no fim do século XVI, iniciam a sua actividade pedagógica.[9].
[1] A vida de Masaryk, Lisboa, Edição do Autor, 1941, p. 11. Ainda assim, como ressalva, “não aceitava a não-resistência ao mal de Tolstoi e achava que pior que a violência é a injustiça e que não pode haver sobre a revolução violenta uma condenação moral: uma revolução pode ser necessária” (ibid., p. 17).
[2] O Ferro, Lisboa, Edição do Autor, 1941, p. 15.
[3] História do Egipto antigo, Edição do Autor, 1941, p. 10.
[4] Ibid., p. 27.
[5] A Escultura Grega, Lisboa, Edição do Autor, 1941, pp. 10-11.
[6] Ibid., pp. 19-20: “O mais importante, para o escultor da primeira época da arte grega, é, por conseguinte, o estudo do corpo masculino e do arranjo do vestuário da mulher; por um lado é sua preocupação dar humanidade aos corpos, fazer que se movam livremente, arrancá-los a tudo o que o ritualismo religioso lhes deu de imobilidade e de rigidez”.
[7] As Viagens de Stanley, Lisboa, Edição do Autor, 1942, p. 13.
[8] Ibid., p. 19.
[9] A Reforma, Lisboa, Edição do Autor, 1942, p. 19.
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