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No primeiro Caderno desta série, O PETRÓLEO, faz, Agostinho da Silva, uma história da descoberta do petróleo e seu aproveitamento, salientado o quanto este se tornou essencial para a “civilização moderna”*: “O petróleo é essencial para a civilização moderna: aparece como veremos em grande número de actividades, mas o seu papel é preponderante no que respeita aos transportes; o aumento de número de veículos automóveis, de linhas de aviação, de navios que o utilizam nos seus motores torna-o um produto indispensável; se o petróleo se esgotasse subitamente, aniquilaria toda a organização de transportes de mercadorias e o mundo sofreria a maior catástrofe da sua história (…).”[1].
No segundo, A VIDA E A ARTE DE VAN GOGH, reconstitui, Agostinho, a vida do célebre pintor holandês, salientando dois aspectos. Em primeiro lugar, a sua capacidade de trabalho*: “…desenhava 12 horas por dia e já às quatro da manhã se encontrava no campo a surpreender os efeitos do céu; corrigia-se pela meditação dos grandes artistas do passado e pela contemplação cada vez mais penetrante do que os seus olhos viam; não lhe escapava nenhum elemento dos que verdadeiramente podiam servir à sua preparação; estabelecera como princípio firme que só são grandes os que querem ser grandes e que a inspiração na arte não vem como uma fada benfazeja aos ociosos, mas como o resultado dum longo, paciente e inteligente trabalho.”[2]. Em segundo lugar, o seu amor pela humanidade*: “…era pelos homens que trabalhava e o seu amor pelo mundo inteiro era afinal o amor da humanidade[3].
No terceiro, O SAHARÁ, Agostinho faz uma detalhada descrição da vida no deserto, salientando, nesta, o fenómeno do nomadismo*: “Ao contrário do que acontece connosco o nomadismo é, no deserto, o sinal de opulência e de superioridade; só o pobre, só o homem sem meios ou então sem carácter, se fixa à terra; o nobre põe acima de tudo a liberdade de errar pelo deserto e o gosto de trabalhar o menos possível; andam em grupos com o gado, em busca de pastagens onde se estabeleçam até as esgotarem; a notícia de que choveu num ponto distante às vezes centenas de quilómetros é o sinal de partida para todos os bandos; carregam-se os camelos à pressa, metem-se as mulheres nos «bassur» espécie de grandes cestas cobertas que as protegem das vistas dos outros homens, junta-se o gado e inicia-se a viagem que dura dias e dias; os homens vão geralmente montados, as crianças mais pequenas metidas aos dois e aos três em sacos e só com a cabeça de fora, as velhas a pé.”[4].
No quarto, A VIDA DE PIERRE CURIE, reconstitui, a vida do célebre físico francês, exaltado, nesta, tal como a respeito de Van Gogh, a sua capacidade de trabalho, neste caso em prol da ciência: “…mesmo o trabalho constituía para ele um elemento indispensável na vida: adorava a luta dramática que trava o sábio com a natureza para lhe arrancar o seu segredo, as longas horas de laboratório, com os homens que se movem silenciosos e serenos, absorvidos no seu meditar; nenhum jogo era mais apaixonante do que montar uma experiência, vê-la progredir na incerteza, no desconhecimento do que vai surgir, ou esperar ansiosamente que o resultado venha confirmar a teoria que se arquitectou; ali; se sentia puramente que o prazer do jogo supera o de ganhar ou perder; a experiência inútil ou falhada dava-lhe horas de vibração tão intensas como a experiência com bom êxito; e era ainda mais do que a segunda, excitante e tónica; na vitória havia sempre um sabor de desalento, um vago sentir que se passou a ser inútil, já que se atingiu o objectivo; mas no erro que se cometeu, que promessas de novas horas de profundo interesse, de aparelhos a imaginar, de montagens elegantes, de outro violento palpitar perante a decisão; era seguro que nenhum artista vivia tão intensamente como ele; e no viver intensamente encontrava Pierre Curie o meio de suportar os próprios males da vida.”[5]
No quinto, AS ESCOLAS DE WINNETKA, faz, Agostinho da Silva, a defesa de uma nova pedagogia, salientado dois aspectos. Em primeiro, o sentido da responsabilidade: “não tem nada que se criar o «obediente», tem que se criar o «responsável», o responsável perante si próprio, perante a sua escola, perante a sua cidade, o seu país, perante a Humanidade inteira”[6]. Em segundo lugar, a necessidade de atender ao “ritmo particular” de cada um: “o trabalho do aluno deve seguir o seu ritmo particular, de que é absurdo impor ao menos inteligente ou menos voluntarioso que aprenda uma determinada matéria no mesmo tempo que outro companheiro superior a ele”[7].
No sexto, HISTÓRIA DA HOLANDA, exalta Agostinho, uma vez mais, o “pensamento racionalista e científico”*: “Como sempre, os espíritos mais elevados libertaram-se dos fanatismos e inclinaram-se para o pensamento racionalista e científico; o cartesianismo e o espinozismo, que os pastores populares detestavam e que atacavam violentamente, tinham grande número de simpatizantes entre os mercadores e os nobres; foi mesmo graças ao apoio dos magistrados, à sua tolerância e compreensão que Descartes e Spinoza deveram a possibilidade de construírem os seus sistemas e de os expor; na França e na Espanha do seu tempo a empresa ter-lhes-ia sido completamente impossível. O ambiente de prosperidade, de vida tranquila, de valorização das curiosidades espirituais contribuiu também para o desenvolvimento da cultura (…).”[8].
[1] O Petróleo, Lisboa, Edição do Autor, 1940, p. 15. Ao mesmo tempo, alerta para a sua justa comercialização: “Parece, porém, possível substituir esta atitude de combate pela da cooperação e pelo desejo do avanço científico e técnico; e deve-se, pela união dos consumidores, poder manter a mesma largueza de concepção e realização que demonstram os trusts sem os inconvenientes da sua tirania económica.” (pp. 25-26).
[2] A vida e a arte de Van Gogh, Lisboa, Edição do Autor, 1940, p. 18.
[3] Ibid., p. 19. Daí ainda estas palavras: “…a claridade, o sol, os tons vibrantes, eis o que tinha de ser o seu trabalho de futuro; não lhe agradava o desprezo do desenho que mostravam os impressionistas, nem a desumanidade de quase todas as suas telas em que apenas se procuravam efeitos técnicos; não queria que o artista fosse um pregador, nem um propagandista; mas repugnavam-lhe os que não mostravam nos seus quadros um coração compassivo da desgraça dos homens.” (p. 22).
[4] O Sahará, Lisboa, Edição do Autor, 1940, pp. 19-20. A respeito das gentes mais pobres, escreveu ainda: “A penetração francesa acabou com a escravatura, também existente no Sahará, no que ela tinha de dependência política e pessoal; mas deixou subsistir a dependência económica, que é mais forte ainda, e levantou para o escravo, transformado em proletário, problemas de subsistência que até aí não existiam.” (ibid., p. 21).
[5] A vida de Pierre Curie, Lisboa, Edição do Autor, 1940, p. 11-12. Não obstante qualificá-la como “a irmã e a igual da poesia e do amor” (ibid., p. 14), não ignorava Pierre Curie, ainda segundo Agostinho, os seus “perigos”: “Não ignorava que a ciência é também, de certo modo, perigosa para a humanidade pelos meios técnicos de destruição que põe ao alcance «dos grandes criminosos que arrastam os povos para a guerra»; mas tinha uma fé profunda em que o lado bom dos homens acabaria por sobrepor-se ao lado mau e em que no fim de tudo tirariam maiores bens do que males das novas descobertas que se fossem fazendo.” (ibid., p. 13).
[6] As Escolas de Winnetka, Lisboa, Edição do Autor, 1940, p. 6.
[7] Ibid., p. 6. Obviamente, tem Agostinho a consciência da dificuldade – senão mesmo da impossibilidade – de implementar este tipo de ensino num regime massificado: “É difícil não aceitar qualquer destes princípios, mas é muito difícil pô-los em prática, visto que a divisão de alunos por classes parece impossibilitar um ensino individualizado e um desenvolvimento livre da personalidade.” (ibid., p. 7).
[8] História da Holanda, Lisboa, Edição do Autor, 1940, p. 17. Daí também, alegadamente, “o avanço das ideias dos protestantes” no plano da religião (cf. ibid., p. 6).
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