A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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sábado, 2 de maio de 2009

Cadernos de Agostinho da Silva (excertos e notas): 2ª série

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No primeiro Caderno, O PLANETA MARTE, colige, Agostinho da Silva, uma vasta série de dados astronómicos, exaltando, como é típico nesta fase, o progresso da ciência, realçando, nesse progresso, o papel dos gregos: “…os Gregos, inte­ligentes e curiosos, que observaram também os astros, não porque os adorassem, como deuses, mas porque desejavam esclarecer o mistério do céu, explicar de modo racional o que eram estas estrelas e as razões que as faziam mover-se. Foram estes Gregos, a quem nós devemos tanto da nossa civilização, que deram aos astros que não cintilam e se deslocam por entre as estrelas o nome de planetas, que significa exactamente «errantes»”[1].
No segundo, VIDA DE LESSEPS, reconstitui, Agostinho da Silva, um percurso heróico – o de Lesseps, na sua demanda pela construção do Canal do Suez –, bem expresso nestas palavras: “Para qualquer outro, o golpe em plena carreira teria marcado o fim de tudo; para Lesseps, com a sua energia criadora, com o seu instinto de ataque à vida, ele foi apenas o sinal de passagem para a grande tarefa que o esperava”[2]; “Lesseps não era, porém, nem dos que esperam nem dos que desistem”[3].
No terceiro, POR TRÊS OVOS DE PINGUIM, narra, igualmente, um percurso heróico – mas, neste caso, de um trio, em prol do progresso da ciência, no caso zoológica: “Falavam pouco; cada um concentrava as suas energias para o trabalho indispensável a realizar e para as horas piores que haviam de chegar; nos instantes mais duros, Cherry Garrard murmurava para si, infatigavelmente: «Meteste-te nelas: agora aguenta, aguenta, aguenta, aguenta»; e aguentava mais um se­gundo, depois outro e outro, até a hora de repousar nos sacos de dormir.”[4]; “O espectáculo dos pinguins chocando os ovos era bem interessante para os três exploradores; viam o que nunca ninguém vira, o que tinham conseguido à força de vontade, de paciência, de sacrifício próprio; novos caminhos se abriam para a ciência e por seu esforço os tinham aberto.”[5]; “Os três ovos foram entregues em 1913 ao Museu de História Natural de Londres por Cherry-Garrard. O Prof. Assheton, encarregado de os estudar, morreu sem ter completado o seu trabalho; foi Cossar Ewart quem chegou, sobre este assunto, a algumas conclusões interessantes; os rudimentos de penas encontrados na região da cauda e das patas do mais velho dos em­briões de pinguim contido nos ovos são anteriores aos de escamas que aparecem nas patas; as penas das aves não seriam, portanto, o resultado da transfor­mação das escamas; seriam fundamentalmente diferentes. Nas aves primitivas o revestimento do corpo devia ser composto de escamas e de penas; por mo­tivo desconhecido, o desenvolvimento de escamas teria parado e então as penas teriam recoberto todo o corpo do animal.”[6].
No quarto, A ARTE PRÉ-HISTÓRICA, é toda a Humanidade que se assume como o agente de progresso, ainda que Agostinho não deixe, nesta, de destacar a “iniciativa dos homens de génio”: “…o estudo da pré-história leva-nos à conclusão de que o homem não surgiu na terra logo senhor de todas as técnicas e mais ou menos como o conhecemos hoje; foi uma evolução lenta e custosa, tanto no tipo físico como nas indústrias, que século a século foi desprendendo o homem da animalidade pri­mitiva; foi o trabalho constante, persistente, cada vez mais inteligente do próprio homem que lhe deu, a cada ano que passava, um domínio mais seguro sobre os animais e as coisas; o esforço das multidões somou-se à iniciativa dos homens de génio desconhecidos para que ao fim de centenas ou de milhares de anos a humanidade se encontrasse num plano de relativa civilização; o pouco que somos, a nós próprios o devemos; e nada melhor do que o estudo desse longo e lento tactear que se chama a pré-história nos pode dar confiança no futuro da nossa raça. Não são só as técnicas que se desenvolvem, é a própria capacidade craniana que aumenta de um modo sensível. Os que afirmam que a humanidade não poderá nunca aumentar em inteligência e trazem como argumento a comparação entre os homens de hoje e os homens do Egipto ou de Atenas ou da primeira China cometem um erro grosseiro; porque os 3.000 ou 5.000 anos que nos separam dessas civilizações nada significam à vista das centenas de séculos das indústrias pré-históricas; a duração da história é ínfima em relação à da pré-história.”[7].
No quinto, O BUDISMO, partindo de uma visão geral das religiões enquanto “criações dos fiéis” – sem que isso, contudo, esvazie a sua importância[8] –, Agostinho da Silva desenvolve sobre o budismo uma perspectiva particularmente ambivalente: “…a sua atitude perante a vida é uma atitude de fraqueza e não de força; para nós, em geral, a vida apresenta-se como um conjunto de ale­gria e de dores que tem de ser compreendido como um todo e que é, talvez, possível modificar, pela acção indi­vidual ou colectiva, naquilo em que nos não agrada; o ter como projecto o «querer ser» não é visto como fonte de dor, mas, pelo contrário, como uma fonte de energias e de felicidade; não temos o desejo de nos afastarmos do mundo, mas de nele lutarmos pela sua modificação, porque, se somos pessimistas quanto ao presente, somos optimistas quanto ao futuro e con­fiantes nas possibilidades do homem; ora o budismo aparece-nos sobretudo como uma religião de pessimistas e de cépticos; é porque nada jamais se poderá con­seguir que o nirvana é desejável./ É, no entanto, preciso acentuar que o budismo alguma coisa trouxe de positivo para a humanidade; marcou a distinção, em que numerosos filósofos insis­tiram, do mundo aparente e do mundo real; deu o valor supremo à experiência individual e ao sentido crítico, proclamando que é cada um o guia de si pró­prio e que ninguém deve aceitar o que só tem por si a autoridade; põe a bondade e a compreensão como forças poderosas nas relações entre os homens e ensina que se não deve odiar o adversário, mesmo que, acrescentaremos nós, o tenhamos de afastar do nosso caminho; trouxe a primeiro plano o sofrimento dos homens, por que muitos não dão; finalmente proclamou que os verdadeiros movimentos humanos transcendem sempre os limites estreitos das nações e das castas.”[9].
No sexto e último Caderno da segunda série, HISTÓRIA DOS ESTADOS UNIDOS, há a destacar uma visão tendencialmente crítica dos Estados Unidos da América – não só a respeito da sua vocação “expansionista”[10], bem como, sobretudo, da sua matriz “capitalista”, em que Agostinho da Silva antevê (no início dos anos quarenta, assinale-se) “o problema essencial do mundo moderno”: “As duas Presidências de T. Roosevelt e o quadrié­nio de Taft, se tiveram êxitos na política externa e em melhoramentos materiais, como, por exemplo, a aber­tura do Canal de Panamá, falharam por completo quanto à solução da questão económica interna. Em 1914, o início da guerra europeia, em que os Estados Unidos intervieram por impulsos económicos e morais, marcou uma trégua que durou até à crise de 1920, em­bora Wilson tivesse tornado algumas medidas contra os capitalistas, ao mesmo tempo que os auxiliava a do­minar o petróleo mexicano. A prosperidade econó­mica, provocada pela afluência de encomendas da Eu­ropa, era de tal ordem que dava para alguns aumentos de salários e para uma boa disposição geral a favor do operariado. A crise, porém, reacendeu a questão social e as presidências de Harding, de Coolidge, de Hoover, nada fizeram para a resolver; ficou‑se nos velhos expedientes de partido ou puseram-se em primeiro plano questões relativamente secundárias como a da proibi­ção de bebidas alcoólicas que apenas produziu os bootleggers (contrabandistas) e os gangsters. O New Deal de F. Roosevelt, eleito pela primeira vez em 1933, que consistia numa série de planos de reorganização eco­nómica, foi julgado inconstitucional e abandonado, pelo menos nos pontos mais importantes; o grande capitalismo ficou mais uma vez vitorioso e é ele quem, na realidade, governa a nação. Os Estados Unidos que atingiram um nível extraordinário no que diz respeito à qualidade e quantidade dos produtos têm hoje, perante si, o problema essencial do mundo moderno: o da distribuição equitativa desses mesmos produtos pelos homens que os fabricaram.”[11].

[1] O Planeta Marte, Lisboa, Edição do Autor, 1940, p. 4.
[2] A Vida de Lesseps, Lisboa, Edição do Autor, 1940, pp. 5-6.
[3] Ibid., p. 8.
[4] Por Três Ovos de Pinguim, Lisboa, Edição do Autor, 1940, pp. 7-8.
[5] Ibid., pp. 17-18.
[6] Ibid., pp. 24-25.
[7] A Arte Pré-Histórica, Lisboa, Edição do Autor, 1940, pp. 3-4. Veremos que depois, em outros textos seus, esta visão do “progresso da Humanidade” será relativizada. Ainda assim, Agostinho manterá a sua perspectiva positiva em relação à técnica, aqui já bem expressa: “nos homens reside a tendência para o jogo, para a actividade desinteres­sada, mas que ela se não liberta e se não afirma, como é natural, senão quando o homem consegue organizar as suas técnicas de modo a dar satisfação às necessi­dades imediatas” (ibid., p. 18).
[8] “A propósito de quase todos os fundadores de reli­giões se tem posto a questão de se saber se a sua existência é uma realidade ou se, pelo contrário, todos os pormenores acerca da sua vida não passam de uma criação dos fiéis. O problema não tem grande impor­tância porque, em religião como em política, o que vale não é o que de facto sucede, mas aquilo que os homens julgam que sucede; a ideia que a humanidade formou de um acontecimento é a verdadeira força propulsora; numa religião interessa muito mais o corpo da dou­trina e o que se supõe ter sido o vulto do seu funda­dor do que todas as limitações ou negativas que a crí­tica histórica, com possibilidades bastante pobres e meios bastante falíveis, possa ter levantado no que se refere ao iniciador do movimento. De resto, alguém o devia ter principiado, e as próprias lendas têm a uti­lidade de nos fornecer elementos para o estudo da impressão que o acontecimento fez no mundo e da forma por que foi apreciado o comportamento do fun­dador.” (O Budismo, Lisboa, Edição do Autor, 1940, p. 18).
[9] Ibid., pp. 21-22. Veremos que depois, em outros textos seus, Agostinho da Silva, nunca renegando o seu apego ao mundo, expressará uma maior receptividade em relação à tradição budista, bem como a outras tradições orientais, ao mesmo tempo que a sua perspectiva sobre o Ocidente se torna, também ela, mais ambivalente.
[10] “A vitória plena do capitalismo industrial e finan­ceiro marcou-se pela eleição de Mac Kinley em 1897. Como consequência, não só se organizou no interior a defesa contra todos os movimentos populares, pela dura repressão de greves e tumultos e pela manutenção do desemprego para sustentar os salários baixos, como também se entrou numa fase de expansão imperialista; era preciso obter novas fontes de matérias primas, novos mercados para colocação dos produtos manufacturados; felizmente, era possível apresentar o movimento como manifestação do espírito humanitá­rio e «missionário» dos Estados Unidos e assim o tomou a maioria da população; Cuba, Porto Rico, as Filipinas sofriam o governo injusto e retrógrado dos espanhóis; as lutas internas e o acidente da explosão do couraçado «Maine» forneceram o pretexto imediato da intervenção das forças americanas; os espanhóis foram batidos e os novos territórios entraram na posse dos Estados Unidos que educariam os povos para a independência e lha dariam quando os vissem em es­tado de se governarem por si próprios; é preciso, no entanto, dizer-se que os tumultos de Cuba tinham sido provocados por um imposto de importação sobre o açúcar votado nos Estados Unidos para favorecer os importadores democratas da Luisiânia.” (História dos Estados Unidos, Lisboa, Edição do Autor, 1940, p. 24).
[11] Ibid., pp. 25-26.

2 comentários:

Ariana Lusitana disse...

Vi esses cadernos na Feira do Livro muito baratos, o do budismo vou comprar, gostei de ler.

Paulo Borges disse...

Não posso deixar de notar que estas considerações sobre o budismo revelam um conhecimento muito insuficiente, feito de ideias feitas dominantes no século XIX. Agostinho virá mais tarde, no contexto do seu catolicismo ecuménico, a ter uma compreensão mais ampla e valorativa do budismo, que assume como interlocutor fundamental, chegando a declarar-se "meio tibetano".
Por outro lado, pretender compreender o budismo apenas a partir do Pequeno Veículo, sem considerar Mahayana e Vajrayana, é como pretender compreender o cristianismo apenas a partir dos evangelhos considerados canónicos, sem ter em conta os evangelhos gnósticos.