A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
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Donde vimos, para onde vamos...

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domingo, 12 de abril de 2009

Um texto para o Bibliáguio...

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Eça de Queiroz – Ramalho Ortigão, Retrato da «Ramalhal Figura», A. Campos Matos (2009), Livros Horizonte, 111 pp.

É geralmente acoplado a Eça de Queiroz, ou como escritor interessante mas de valor flutuante, que encaramos Ramalho Ortigão. Após a leitura de Eça de Queiroz – Ramalho Ortigão, Retrato da «Ramalhal Figura», de A. Campos Matos, ficamos a pensar se não será justa essa condição, pelo menos se nos ativermos ao homem, e não apenas à obra do prosador exímio que Ramalho sem dúvida foi – «primoroso escritor e detestável pedante», nas palavras de Castelo Branco Chaves, citadas por Campos Matos (p.44). É o próprio autor do ensaio em epígrafe quem instala a dúvida. Respigando as palavras de Eça, segundo o qual Ramalho seria «um homem de bem», põe mesmo em causa a opinião do romancista – «Levanta-se aqui um pequenos problema: o de saber em definitivo se a Ramalhal figura seria de facto um homem de bem… Temos razões de sobra para pensar que Eça talvez se tem há enganado nesta apreciação, ou que, pelo menos, ela merece cuidadosos matizados.» (p.13) O decurso do livro confirma, creio, a suspeita. O grande queiroziano deixa-nos, efectivamente, de Ramalho um retrato desapiedado mas pleno daquele rigor e erudição a que nos habituou o autor do Dicionário de Eça de Queiroz. Conseguiu reunir um conjunto de informações e de documentos – para os quais terá sido de capital importância o convívio diuturno com a obra de Eça – que se me afiguram, a todos os níveis, de suma importância para o estudo da obra queiroziana e da problemática da história literária, para não falar de qualquer estudo comparativo que se possa levar a cabo entre a obra de Eça e Ramalho.

O presente ensaio compreende duas partes complementares. Num primeiro momento, o autor reúne o resultado dos seus estudos, que têm por objecto a relação entre os escritores epónimos, e, em particular, o espinhoso assunto da intervenção de Ramalho nas obras póstumas de Eça. Segue-se um conjunto de inestimáveis documentos, entre os quais se conta uma carta até agora inédita de Ramalho, além de outra correspondência trocada entre este escritor e figuras da maior importância para o caso, como a viúva de Eça. O conjunto é ainda enriquecido pela reprodução de alguns espécimes autógrafos, bem como de documentos fotográficos, que auxiliam a contextualização dos assuntos em apreço.

Começa A. Campos Matos por apresentar Ramalho, desfazendo alguns equívocos e lugares-comuns mais ou menos estabelecidos, como o de ter sido Eça aluno de Ramalho (por não haver nada que cabalmente o prove), no portuense Colégio da Lapa, de que seu pai, de resto, era o director. (Curiosamente, mais tarde, por 1870, também Antero estaria no Porto, em funções docentes, ou quase: examinador, no Liceu do Porto.) Neste momento da obra, Campos Matos começa por tecer, nas suas, digamos, peculiaridades, o retrato da «Ramalhal figura». Lendária, a sua vaidade, e porque não dizê-lo, futilidade, avulta em episódios como o que o autor aqui lembra, entre muitos que a este se poderiam juntar – «O seu apetite pelas condecorações não provinha desta época [1893]. Datava de muito antes. Quando foi a Paris em 1867, quis levar na lapela a insígnia de cavaleiro da Ordem de Cristo, escrevendo então ao literato Luís Augusto Palmeirim, poeta do ultra-romantismo, a pedinchá-la.» (p.16) Não estranhará saber Ramalho tão próximo dos luminares do ultra-romantismo, se nos lembrarmos que a sua adesão às causas da chamada Geração de 70 foi tardia, e que a sua posição inicial foi mesmo de oposição às rapaziadas do grupo em questão. Lembremos o famoso duelo (1866) com Antero, figura à qual, de resto, como lembra A. Campos Matos, Ramalho jamais se rendeu por completo. Nas palavras de Oliveira Martins, por Campos Matos citadas, «Entre o feitio cénico do ramalho e o nosso chorado Antero não havia, decerto, pontos de contacto.» (p.21)

A segunda parte da obra começa por apresentar a postura de Ramalho, «Forte ratão», na picante expressão do conde de Arnoso (p.26), perante a morte de Eça. Em carta ao genro, o autor dá notícia do acontecimento, mas, curiosamente, escassas linhas adiante, já a Ramalhal figura «fazia frases», como se diria na altura – «ao voltar, de tarde, encontrei-o na larga varanda do seu quarto, confortavelmente instalado numa poltrona lendo um romance inglês, fumando um cigarro de papel e contemplando a paisagem encantadoramente risonha que tinha em frente de si, sobre jardins, escalonados quase a pique e transbordante de rosas e jasmins, por entre pinheiros, até à beira da água, em baixo o doce espelhamento azul do lago Léman, riscado, pelo fumo dos vaporzinhos…» (p.56) Todavia, a displicência de Ramalho vai ainda mais longe, quando, em carta à mulher, na sequência do relato do triste facto, logo faz literalmente descer o tom da missiva – «A não ser esta grande consumição eu continuo bem de saúde. Para isso creio que contribuiu muito o uso de mel, que e, toda a Suíça e em parte da Itália comi sempre ao primeiro almoço» (p.59). De resto, em carta à filha, datada do mesmo dia, dirá, com a leveza que o caracterizava, ou que o caracterizou pelo menos neste ponto: «Nunca na vida fiz mais deliciosos passeios do que os que tenho feito aqui, no fundo de uma gôndola, com um charuto nos beiços, ao longo desses canais em que cada casa é uma maravilha de Arte» (p.62) Tudo isto, escassos dias após a morte de Eça…

O desaparecimento de Eça de Queiroz levantava, porém, uma outra questão: o que fazer dos vários materiais que compunham o espólio do autor. A viúva de Eça «punha Ramalho à cabeça das operações que iriam tratar da obra póstuma do marido» (p.23). Tratava-se, em primeiro lugar de A Cidade e as Serras. Logo aqui, a atitude de Ramalho se revelou questionável, ao pôr em causa o estado de acabamento do texto queiroziano, que, nas palavras de Matos Campos, apresentava, pelo contrário, «uma caligrafia de meridiana perfeição! Vê-se que se trata da versão pronta para ir para a tipografia» (p.25). Tal não impediu, no entanto, a clamorosa revisão de Ramalho, que grandemente danificou o original de Eça, em exemplos gritantes de que A. Campos Matos amplamente dá conta (pp.43-44). No entanto, Ramalho Ortigão rapidamente se descarta da penosa tarefa (!), remetendo o trabalho de revisão para Luís de Magalhães – «Já para a revisão e coordenação de A Cidade e as Serras a Senhora D. Emília me falara em V. considerando-o dentre os amigos do seu marido como o mais adequado a aliviar-me desse doce trabalho, que V. faria talvez melhor, mas de que eu procurei desempenhar-me o melhor que pude» (p.83).

O exemplo mais gritante da desfaçatez de Ramalho é o caso de O Mistério da Estrada de Sintra. Como se sabe, este «romance policial folhetinesco, ou romance-paródia» (p.45) foi o fruto da colaboração dos dois escritores, embora seja do conhecimento geral que a maior parte, e de indiscutível superioridade, coube a Eça. E a edição de 1885, a segunda, comprova-o, segundo o parecer dos especialistas. O problema emerge da quarta edição, de 1902 (visto que, conforme diz Campos Matos, a terceira nada de grave acrescenta, tirante pequenas revisões pontuais). Nesta, sim, após a morte de Eça, Ramalho leva de novo avante a sua acção gravosa de revisor. Uma vez mais, são muitas, e seríssimas, as alterações, perpetuadas até ao presente, em reedições e reimpressões – em clara traição à escrita e memória de Eça de Queiroz. Infelizmente, porém, o caso de O Mistério da Estrada de Sintra não fica por aqui. Convenientemente, após a morte de Eça, Ramalho defendeu como sendo projecto seu e fruto sobretudo do seu trabalho aquele romance. E mesmo em 1915, pouco antes da sua morte, pensando talvez na sua glória póstuma (segundo aventa Campos Matos), Ramalho Ortigão pretendeu pôr um ponto final póstumo – e sórdido – na questão, escrevendo ao então director do Diário de Notícias, Alfredo da Cunha, esclarecendo que se dirigira ao antigo director daquele diário «para lhe propor um romance que eu acabara de idear» (p.88) – isto quando se sabe de fonte segura (cartas, entre outros registos) que a ideia partira de Eça. Ramalho amplia, todavia, o logro, acrescentando – «a esse tempo eu não tinha a colaboração do Queiroz, que só lhe propus em amigável camaradagem depois de firmado o meu contrato com o Diário de Notícias» (p.88) – escusado será dizer que se tratava de uma rematada mentira.

Creio que as palavras do próprio A. Campos Matos poderiam ser as mais indicadas para concluir – «o estudo das relações entre Ramalho Ortigão e Eça de Queiroz transcende os episódios por vezes insólitos que podemos historiar, para se assumir, no que a Ramalho diz respeito, num caso muito especial de complexa interpretação psicológica e também literária» (p.51).

Hugo Pinto Santos

1 comentário:

Renato Epifânio disse...

Em secção da Revista NOVA ÁGUIA que se tem firmado. Chegou também já mais um texto, do Pedro Martins, sobre a Correspondência entre o Álvaro Ribeiro e o José Régio...