No passado dia 13 de Março fui um dos 200.000 trabalhadores que se passearam entre a rotunda do Marquês de Pombal e os Restauradores, o ambiente além de reivindicativo era também de festa com música, cânticos e alguma cerveja fresca que a tarde era de calor.
Por mais vistosas que sejam estas manifestações de descontentamento popular a verdade é que cada vez mais pouquíssimo – ou mesmo nada – pode ser feito para mudar a situação a que chegamos, sejam os habituais PS ou PSD no governo ou um qualquer outro partido tudo isso é irrelevante, o actual governo pode e deve ter ficado alarmado mas na realidade não há muito que possa fazer, a nossa política económica é pensada e concebida em Bruxelas, a Europa não é ainda uma pátria mas já possui um governo central embora a esmagadora maioria das populações das nações europeias viva ainda em negação deste facto.
Um ou dois meses antes das insurreições na Grécia os bancos anunciavam que a tendência das taxas de juro seria crescer nos anos mais próximos e quem tinha empréstimos ou pensava em efectuar um se devia mentalizar que os iria pagar caro… entretanto rebenta a revolta da juventude grega, “devolvam-nos a vida” era a frase de ordem de muitas das manifestações e revoltas nocturnas que culminaram no saque às sucursais das multinacionais e ainda no incêndio dos bancos – alguns portugueses – existentes no país, o ambiente era propício à revolução embora a dita cuja não tenha ocorrido.
Não sou economista, a maior parte da nossa população também não entende o jargão dos economistas por isso estou inserido numa confortável maioria absoluta, mas o facto é que embora estivesse tudo contra essa possibilidade… os juros baixaram e prevê-se que baixem ainda mais este ano, o elemento causal parece-me ter sido a juventude grega que ousou bater o pé, foi este o sinal vermelho que a banca usurária internacional vislumbrou lá ao longe, no país onde outrora os espartanos bateram também o pé à potência da altura: o Império Persa.
A verdade é que o Império Persa não dispunha do trunfo que a actual banca possui: os cidadãos do Império não se encontravam endividados para com este como todos nós actualmente nos encontramos endividados para com a Banca, os persas dispunham de exércitos, a Banca dispõe de tempo: tudo o que tem a fazer é amenizar um pouco a situação nos próximos 2 a 4 anos, passado esse período de tempo os insurrectos jovens gregos já terão contraído algum empréstimo para pagar os estudos, comprar casa ou comprar um automóvel e, tal como a esmagadora maioria da população, passará os seus dias com medo de perder o seu emprego, de não conseguir pagar as contas ao fim do mês, as noites de confrontos com a autoridade e apedrejamentos do Parlamento, o vandalismo de bancos, tudo isso não passará duma memória distante, o “devolvam-nos a vida” passa a uma nota de rodapé numa vida em que vivemos meramente para trabalhar já não para criarmos riqueza para nós próprios, mas tão só para pagarmos os empréstimos e dívidas que contraímos.
Tribuna das Ilhas
9 de Abril de 2009
Por mais vistosas que sejam estas manifestações de descontentamento popular a verdade é que cada vez mais pouquíssimo – ou mesmo nada – pode ser feito para mudar a situação a que chegamos, sejam os habituais PS ou PSD no governo ou um qualquer outro partido tudo isso é irrelevante, o actual governo pode e deve ter ficado alarmado mas na realidade não há muito que possa fazer, a nossa política económica é pensada e concebida em Bruxelas, a Europa não é ainda uma pátria mas já possui um governo central embora a esmagadora maioria das populações das nações europeias viva ainda em negação deste facto.
Um ou dois meses antes das insurreições na Grécia os bancos anunciavam que a tendência das taxas de juro seria crescer nos anos mais próximos e quem tinha empréstimos ou pensava em efectuar um se devia mentalizar que os iria pagar caro… entretanto rebenta a revolta da juventude grega, “devolvam-nos a vida” era a frase de ordem de muitas das manifestações e revoltas nocturnas que culminaram no saque às sucursais das multinacionais e ainda no incêndio dos bancos – alguns portugueses – existentes no país, o ambiente era propício à revolução embora a dita cuja não tenha ocorrido.
Não sou economista, a maior parte da nossa população também não entende o jargão dos economistas por isso estou inserido numa confortável maioria absoluta, mas o facto é que embora estivesse tudo contra essa possibilidade… os juros baixaram e prevê-se que baixem ainda mais este ano, o elemento causal parece-me ter sido a juventude grega que ousou bater o pé, foi este o sinal vermelho que a banca usurária internacional vislumbrou lá ao longe, no país onde outrora os espartanos bateram também o pé à potência da altura: o Império Persa.
A verdade é que o Império Persa não dispunha do trunfo que a actual banca possui: os cidadãos do Império não se encontravam endividados para com este como todos nós actualmente nos encontramos endividados para com a Banca, os persas dispunham de exércitos, a Banca dispõe de tempo: tudo o que tem a fazer é amenizar um pouco a situação nos próximos 2 a 4 anos, passado esse período de tempo os insurrectos jovens gregos já terão contraído algum empréstimo para pagar os estudos, comprar casa ou comprar um automóvel e, tal como a esmagadora maioria da população, passará os seus dias com medo de perder o seu emprego, de não conseguir pagar as contas ao fim do mês, as noites de confrontos com a autoridade e apedrejamentos do Parlamento, o vandalismo de bancos, tudo isso não passará duma memória distante, o “devolvam-nos a vida” passa a uma nota de rodapé numa vida em que vivemos meramente para trabalhar já não para criarmos riqueza para nós próprios, mas tão só para pagarmos os empréstimos e dívidas que contraímos.
Tribuna das Ilhas
9 de Abril de 2009
10 comentários:
Caro Flávio, a dívida é o fundamento dos sistemas monetários que hoje temos. E ela é o garante do conformismo, da conformidade dos indivíduos a modelos de ser e estar que lhes são extrínsecos, criando o mais férreo dos servilismos (é que abdicamos da nossa esfera de liberdade por um acto decisório).
Como se sai disto?
Caro companheiro, infelizmente se algum dia nos conseguirmos livrar do estado actual de servidão não será bonito de ver - haverá sangue, estamos imersos nesta não-vida em trabalhos que nos desagradam, sem tempo para a família, para nós próprios, eu diria que neste mundo moderno nem nos sobra tempo para "sermos" no sentido em que não nos concretizamos como seres humanos pensantes, somo mero gado eleitoral para os políticos e partidos e gado ordenhado e mantido em cativeiro pelos banqueiros e grandes empresas que patrocinam as campanhas desses políticos e partidos.
A solução? Voltar à terra, neste ponto creio que encontramos John Zerzan e Agostinho da Silva em conformidade.
Agora, como voltar à terra se temos empréstimos a pagar durante os próximos 40 anos? Estamos reféns do que temos, possuídos pelo que julgamos possuir.
Voltar à terra está ao alcance de muitos, desde os tempos da revolução hippie que se fala nisso. Suponho que somos nós, os lisboetas, que alimentam esse sonho: que dirão disso os adolescentes de Bragança ou de Lamego?
O mesmo com a dívida: quem aceitará viver em duas divisões com pais avós e irmãos, como durente milénios os camponeses viveram?
Ah, a verdadeira prisão não estará - no duche quente?
A prisão está no duche quente e em tudo o de que não abdicamos para continuar a alimentar a Grande Besta. Não haja ilusões: a única possibilidade de uma vida alternativa, seja no campo ou na cidade, reside apenas nos indivíduos e nas pequenas confrarias de seres mais conscientes e sensíveis que forem constituindo. Não creio que haja possibilidade, no estado a que chegámos, de mudar nações e o curso da civilização sem o concurso de uma catástrofe. Não há profundas tomadas de consciência colectivas. Apenas espasmos, como na Grécia.
Ao alcance de muitos? Só dos não endividados, eu não conheço nenhum...
A juventude está alienada pelo mundo americano que vê na televisão, um mundo moderno e urbano que, na prática, é uma ficção. Seja em Bragança ou Lamego, no Corvo ou longe em Vladivostok as ambições dos adolescentes são as mesmas: corpos belos e uma vida de luxo sem qualquer componente espiritual, o luxo material é o único alimento das esperanças dessa juventude desapegada da Terra e das terras dos seus antepassados.
Muitos, como eu, só percebem o que tinham depois de o perderem.
Paulo, infelizmente sou da mesma opinião, sem uma mudança abrupta, uma grande catástrofe, não haverá uma mudança.
Um mundo novo só poderá ser construído sobre as ruínas deste.
Flávio: penso que é açoriano, e não conheço a realidade dessa região. Mas no Continente, e em especial nas regiões do Norte e da Beira, poucos são os jovens neo-urbanos que não têm ainda parentes na 'terra'... semiabandonada. Mas de resto sim, claro que as imagens da televisão não são compatíveis com a vida dura da agricultura. Aliás, contra mim falo (se bem que não tenha TV nem automóvel...). Mas o que quero dizer com isto é que o 'devolvam-nos a vida' dos revoltados é uma coisa com tão pouco conteúdo como o último anúncio da Coca-COla. Significa ainda 'dêem-me o paraíso que a TV mostra', e não mais do que isso.
Paulo, não sei que lhe diga... a Grécia foi um espasmo, de aocrdo, e espasmos serão os próximos. A catástrofe tem (além do mais) o problema de facilmente se tornar a última esperança dos utopistas. E esses passam a entreter-se, enquanto a catátrofe não vem, a abrir brechas no que resta das muralhas. Depois, há a irritante esperança (deve ter raízes no cristianismo) dos 'fiéis' de que sobreviverão ao apocalipse. Mas digo-lhe muito seriamente; preparemo-nos. E que os que sabem e podem abandonar o mundo das cidades o façam - desde que por sua conta e risco. Ficam, é certo, os 'bárbaros' como aconteceu com Roma; e refiro-me aos 5 biliões de pessoas que não levaram com 50 anos de TV no pêlo e que não estão 'contaminados' com a moleza cristã-europeia. Que farão eles? Talvez o Flávio possa explicar a diferença entre jovens 'gregos' e jovens 'dos suburbios de Paris'...
Quanto à 'dívida' de que o Flávio e o PAulo Feitas falam, ela já se reduziu... são os famosos 50 trillion dollars evaporados desde Setembro. Acabou o dinheiro grátis (embora, de forma aparentemente paradoxal, seja agora que os juros estão a zero). O capitalismo, abençoado seja, está a pôr juizo em muitas cabeças. A bem ou (como é da vida) a mal.
Casimiro, na verdade, num sentido mais profundo, a catástrofe já chegou: de certo modo, todos fazemos parte dela. As únicas muralhas são as próprias brechas. Seja como for, não a espero, como não espero o quer que seja. Não espero, nem desespero, porque em absoluto nada há a ganhar nem a perder. Procuro viver para além disso e isso é a minha preparação: para o que não vem nem vai, para o que "é".
O que não impede que, no plano relativo em que a nossa consciência exterior se processa, que é o deste blogue e de tudo o mais, não lute por preservar o que há a preservar e por mudar o que há a mudar. Mas sempre sem esperar nem desesperar.
Caro Paulo, não posso estar mais de acordo com o que diz - deixando em aberto se no fim quereríamos ambos mudar e guardar o mesmo.
Teria mais a dizer, que é a razão mais funda das nossas (ilusórias?) discrepâncias aqui. Mas isso levaria a tratar o que para mim é do domínio do Mistério como se fosse do domínio do enigma. Um dia conversaremos, se lhe aprouver.
Conversaremos, pois. Tanto quanto o Mistério for conversável, sem conversão prévia. O que arrisca resultar em silêncio.
Toda a conversa é uma conversão...
Mas há sempre lugar para o reflexo dele (Mistério) em nós, "no plano relativo em que a nossa consciência exterior se processa, que é o deste blogue e de tudo o mais". E disso talvez se possa dizer muito...
Um abraço
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