No princípio Elohim criou o céu e a terra. E a terra era deserta e vazia, e o espírito de Elohim esvoaçava sobre as águas. Nesse tempo, Deus repousava a sós consigo próprio. Deus tinha, na altura, um estranho nome: Abismo. Este nome não significa que ele fosse uma cavidade abrupta, ou a vasta extensão dos oceanos primordiais. Significa que era superior a todas as qualidades humanas. Abismo ignorava, igualmente, as qualidades que é costume atribuir a Deus: ciência, sabedoria e verdade. Não era o Todo, não era o Uno, não era o Bem, nem o Pai, nem o Senhor. Quem era, então, esse Deus indizível e incompreensível, acerca do qual não se podia afirmar nem negar nada? Talvez seja possível arriscar que Abismo era o imenso Nada, o ilimitado Não-Ser que contém em si a possibilidade de todos os nomes que existem. É-nos dito no mito que junto a Abismo repousava uma entidade feminina: Silêncio. Silêncio foi concebida na negação de todo o espaço e na negação de toda a linguagem. Abismo e Silêncio fundiam-se e anulavam-se numa perfeita unidade andrógina. No fim, a pureza absoluta deste par foi violada. Abismo depôs uma semente em Silêncio, surgindo, deste modo, um acto de criação no coração do Não-Ser. Silêncio ficou grávida e gerou Intelecto, em tudo semelhante a Abismo e Silêncio. No entanto, enquanto Abismo e Silêncio se mantiveram na obscuridade e na incompreensibilidade, Intelecto habitou a luz clara do ser, do conhecimento e da palavra.
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
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1 comentário:
Cara Cláudia, saúdo a sabedoria que trouxe a este espaço.
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