Comemorou-se nos passados dias 11, 12 e 13 de Abril o sétimo aniversário da Semana do Bravo Povo. Para os menos atentos às voltas que o mundo dá, no dia 11 de Abril de 2002 sucede um golpe de Estado que retira do poder o governo de Hugo Chávez, coisa banal na América do Sul. O senão é que ao contrário do habitual o povo saiu à rua em defesa da legitimidade do governo vítima do golpe de Estado e exige a libertação do seu presidente, Hugo Chávez.
Para aqueles, que como este vosso humilde escriba, são entusiastas e estudiosos da ciência política e da sua vertente geopolítica, torna-se flagrante a influência dos serviços secretos estadunidenses em mais esta tentativa de golpe de Estado (e tantas já houve…) num Estado soberano sul-americano que não serve os interesses da potência única, do Império mundial que actualmente são os Estados Unidos da América (tenho esperança em Obama, é a nossa luz ao fundo do túnel, mas não acredito em milagres).
A embaixada da Venezuela em Portugal convidou-me para a evocação da data, bem como uma miríade de simpatizantes do país, legações diplomáticas dos restantes países da América do Sul, diversas figuras da esquerda portuguesa e ainda um destacamento de estudantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, cujo porta-voz teve direito a intervenção improvisada impulsionada pelo afável general Lucas Rincón, ministro por três vezes sob Chávez e ainda Chefe da Casa Militar, Comandante da IV Divisão Blindada e Inspector e Chefe da Força Armada (na Venezuela, ao contrário de Portugal, não existem Forças Armadas – Marinha, Aviação, etc – todas essas componentes estão agregadas numa única Força Armada). Um currículo impressionante o de Lucas Rincón, actual embaixador bolivariano para Portugal.
Já há algum tempo que não ia às actividades da embaixada, as obrigações laborais não me deixam muito tempo livre para este tipo de actividade extracurricular, embora tenha conseguido ir ao Colóquio Sobre O Legado de Agostinho da Silva: 15 Anos Após a Sua Morte (não fui o único, estiveram também presentes Maria Eduarda Rosa e o Al-Zéi, também colaboradores deste jornal e parte da engrenagem cultural da nossa ilha) na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, não estava a contar ir a esta evocação.
Mas acabei por conseguir ir, uma última missiva do companheiro Victor Liendo (adido cultural e 2º secretário da embaixada) e uma fortuita troca de folga convenceram-me a ir, e ainda bem que assim o foi. Foi uma tarde em cheio, e se já transpirávamos revolução antes mesmo do início do evento (graças a uma interessante discussão a que assisti sobre democracia e revolução entre um colaborador do jornal “Política Operária” e um da iniciativa internacional Tirem as Mãos da Venezuela, que creio ser também relações externas do PCP) com a intervenção de Lucas Rincón – é difícil não simpatizar com a sua imagem afável que de algum modo não descura a sua postura hirta, reflexo perfeito da sua figura de oficial – a moral estava em alta, de seguida assistimos ao documentário “Claves de Una Massacre” sobre a chacina ocorrida em Puente Llaguno, onde atiradores furtivos causaram o caos assassinando e ferindo manifestantes bolivarianos e também da oposição, o documentário retrata os eventos com dados filmados – a maior parte ao vivo – no local e compara-os com o que aparecei na imprensa privada gerida por alguns dos participantes do golpe de Estado bem como os comunicados de imprensa da Casa Branca ainda de George W. Bush, uma só palavra: completa falsificação, um exemplo da necessidade que é a existência de uma imprensa pluralista e independente de poderes externos, coisa que em Portugal sempre existiu – tanto no tempo do Estado Novo como após o 25 de Abril de 1974 – na comunicação social local e regional, principais bastiões da liberdade de imprensa.
Na Venezuela está a criar-se quase de raiz uma mudança revolucionária no sociedade que, pela primeira vez na História, não necessitou de qualquer apoio da imprensa nem de qualquer golpe de Estado sangrento: esta Revolução tem sido feita nas urnas e nos programas do governo, provando que é possível uma mudança pacífica por muito más que as coisas estejam.
Um pequeno aparte: esteve também presente Paulo Pinto, relações externas do nosso Partido Socialista, recordo que no último congresso do PS esteve também presente uma delegação do Partido Socialista Unido da Venezuela, fundado por Chávez. Creio que é de louvar a colaboração, embora eu a desejasse mais profunda, entre os executivos de José Sócrates e Hugo Chávez.
Tribuna das Ilhas
24 de Abril de 2009
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