No começo do mês de fevereiro, o presidente do Kirguistão, foi a Moscovo pedir ajuda financeira. Na visita - para cativar a bolsa dos seus petro-anfitriões - anunciou-lhes que estava disposto a encerrar a base aérea que os EUA operam no seu país e que é muito importante no apoio das forças da NATO no Afeganistão.
Ainda que a Rússia esteja hoje a sofrer duramente com a descida do preço do petróleo e que a sua economia seja das mais afectadas pela atual Recessão global (pela sua excessiva dependência das exportações), durante anos o país acumulou centenas de biliões de reservas em dólares que agora atraem os mais desesperados... Há uns meses víamos o governo islandês a pedir dinheiro para se salvar da bancarrota (de qualquer modo, muito do dinheiro nos seus bancos era das mafias russas), já este ano era o presidente do Paquistão, Asif Ali Zaradari que visitava Moscovo, esperando levar de volta para Karachi um rechonchudo cheque russo...
Parece certo que existe um notável declínio da capacidade dos EUA para influenciarem o curso das coisas, pelo mundo. O mundo parece caminhar para um outro tipo de divisão do poder bem diverso daquele que sucedeu à Segunda Grande Guerra, e que no essencial se caraterizava pela bipolaridade EUA vs URSS e igualmente diverso daquela anomalia histórica que foram os quase vinte anos de Superpotência única de que gozaram os EUA. O mundo futuro desenha-se cada vez mais como multipolar... Em que países em ascensão, como a Rússia, a China, a Índia e o Brasil assumem, nas respetivas esferas regionais ou, no mundo (como é o específico caso da China) uma predominância cada vez maior. Mas será que este mundo é realmente "multipolar"? Uni-polar não é... Já que a superpotência única (EUA) está em acentuada decadência militar e económica. Os EUA ainda detêm uma extraordinária capacidade militar e graças às suas bases no estrangeiro e aos seus super porta-aviões (únicos em toda a História), mas a quase-derrota iraquiana e as graves dificuldades da NATO no Afeganistão demonstram que esse poder já é uma sombra do demonstrado na primeira guerra do Iraque, por exemplo.
O mundo multipolar pressupõe uma réplica da divisão do mundo em esferas de influencia regionais como existia no mundo, nos anos anteriores à eclosão da Segunda Grande Guerra. A China, assim seria influente no Oriente, a India na sua sub-região asiática, o Irão no Médio Oriente, o Brasil na América do Sul, disputando aí a sua influência com a Venezuela bolivariana. Ora, de facto, isso não é multipolaridade mas apolaridade... Estes pólos de Poder, económico e militar não são - nem de perto - capazes de afrontar as duas grandes potencias militares do mundo: os EUA e a Europa (esta enfraquecida pela sua desunião) e, sobretudo, não têm uma verdadeira vocação global... Nem mesmo a China moderna que encara os seus satélites em África mais como fontes de matéria-prima (Zimbabué, Congo e Sudão) do que como aliados político-militares. O bolivarianismo não pretende exportar-se para além da América do Sul e o islamismo, não tem pretensões a converter ocidentais ou orientais... Apenas a expandir-se globalmente pela demografia e mesmo assim apenas até aos territórios que no passado já foram "terra muçulmana" (Bin Laden).
Se não portanto multipolaridade, haverá então na atualidade uma ascensão de uma forma de divisão de poder que o articulista do jornal El Pai intitula "apolaridade"? Ninguém parece ter hoje ambições globais, com excepção dos EUA, que rapidamente a estão a perder, por manifesta incapacidade de a manterem. Este novo equilíbrio abre todo um mundo de possibilidades. Como na época do Império Romano, em que mundo se dividia por poderes "imperiais", que repartiam entre si regiões inteiras do globo (Roma: a Europa, o norte de África e o Próximo Oriente, a Pártia o Médio Oriente, os Gupta o subcontinente indiano, a China, o Extremo Oriente, etc) limitando ao máximo os contactos entre si. O colapso da globalização, o regresso do Proteccionismo e a divisão do globo por centros de poder concorrentes e nem sempre comunicantes vai alterar este quadro que o mundo não conhecia desde o século V d.C.
Fonte Principal:
http://www.elpais.com/articulo/opinion/Estados/Unidos/puede/decir/elppgl/20090225elpepiopi_4/Tes
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quarta-feira, 25 de março de 2009
Sobre a suposta (ou não...) multipolaridade do mundo atual
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4 comentários:
É curioso, sim. Lembro-me ainda de um livro de ficção científica que li em adolescente (julgo que publicado originalmente nos anos 60) que começava com um clima de pré-guerra entre o Brasil e a Índia...
A grande questão - que deveríamos debater seriamente aqui - é a de saber se o "Quarto Império" no sentido pessoano (o anglo-europeu), que até 1962 era evidentemente um império de vocação mundial pelo menos no seu aspecto 'carnal', não colapsou afinal cedo de mais para cumprir o que poderia ter sido a sua vocação. Todos esses poderes que o Clavis refere (com excepção do da China, mas não creio que isso seja uma boa notícia) são, se assim se pode dizer, poderes 'prematuros': mais semelhantes à Europa absolutista do que à Europa novecentista 'capital Paris' sonhada por Vitor Hugo e tantos outros.
Exportámos activos financeiros e a confiança ilimitada na técnica; mas não exportámos, damo-nos conta agora, a 'estranha ideia de sermos racionais' como dizia o Jorge Luis Borges dos Suiços...
Cumprimentos,
mas a vocação desse quarto império saxão, não se esgotou afinal na propagação dos ideiais neoliberais de raízes protestantes?
E se assim foi... colapsou não cedo, mas tarde demais.
O problema é que não há ainda sucessor à vista, já que Índia e China (e Brasil) seguem mais ou menos os mesmos modelos. Logo... Mais do mesmo.
Clavis, que diria o Pessoa (que apesar de tudo 'podia ter sido' inglês - daí a frase tão conhecida sobre a língua portuguesa) se lhe fôssemos agora dizer que "A Europa não é mais do que o neoliberalismo; olhe para o Bush e verá a contribuição europeia para o mundo"??
A ideia de que o "quarto império" já se cumpriu pode ter sido um acesso de optimismo aceitável em 1910 (também para Vieira tudo se tinha cumprido já, isto é, os quatro anteriores, antes de 1660...) Não quer dizer que nos dissolvamos na Europa. Mas pode ser que as coisas demorem o seu tempo. Até chegar o nosso tempo, quero dizer.
Note que a India, China e Brasil, precisamente, não serão capazes, na sua actual forma, de substituir a velha Europa. Todo o trabalho - aind aque tentativo - de encontrar um equilíbrio entre justiça e riqueza, ciência e consciência, técnica e espiritualidade.
Podemos - ou podem os "europeus" - não o ter conseguido; mas foram os únicos (na linha dos judeus) a ter a noção de que valeria a pena tentar.
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