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Poeminho do Poeta Risador
Às vezes acordo de madrugada
Para dar risada
Da anedota que um dia ouvi
Muito antes até, mas à época de inteiro a piada não compreendi
Sou lento como uma tartaruga
E o cérebro enrolado ainda enxuga
Tudo o que eu não entendi
Para ao final ver o mal ou bem que se cabe em si
A mãe quando eu era menino
Achava que eu era meio lerdo em desatino
Quando ainda era bem madrugadinha
E eu acordava para “cerrir” de uma velha historiazinha
Alguma polaca minha namorada
Achava que eu era da pá virada
Quando eu mal no breu da madrugada
Acordava fazendo xixi de tanto dar gargalhada
Meu cérebro detravessado era lento
Não sei o que eu tinha ou não tinha por dentro
Mas muito depois que eu reaprendia tudo de novo era um show
E eu acabava até ensinando quem me ensinou
Amigos ridentes diziam “é um louco varrido”
Minha mulher diz que é só um espírito no vácuo do ar comprimido
Mas meu pai Antenor que muito me conhecia bem
Proseava até muito mais além
Dizia que se de músico, poeta, médico e louco
Todo mundo afinal tinha um pouco
Eu era diferente, um caipora sentidor e perspicaz
Porque de músico, poeta, médico e louco eu tinha um pouco mais
Assim, muito mal de mim mesmo decodificado
Virei um poeta em alvoroço alumbrado
E faço ao derredor sempre estarem rindo
O que para mim é refloração como um bom ser existindo
Mas, ainda assim, numa pré-aurora qualquer
Surpreendo a minha musa-vítima, minha doce mulher
E acordo e rio feito um elefante desengonçado
E então é um pandareco de um sonhador espeloteado
Um dia certamente vou morrer de graceza, bem velhinho
E no Cemitério “Lágrimas do Céu” de Itararé enfim serei enterrado
Num cantinho da terra-mãe ficarei algum tempo bem quietinho
Até lembrar-me de um causo risador pra lá de engraçado...
Então, os vermes me verão todo eriçado
Com meu humor repentino depois de atrasado
E então dirão, “Esse nem depois de findo
Deixou de ser uma alma triste poeticamente sorrindo”
E rirão os meus parceiros do cemitério
Dizendo “Esse poetinha é um caso sério”
Mas até mesmo do meu epitáfio engraçado rirão, os viventes
E anjos, amigos, boêmios, conterrâneos, andorinhas, parentes
E lerão no meu túmulo:
“AQUI JAZZ UM GURI, MENINO, CURUMIM, PIÁ, MOLEQUE
QUE ENQUANTO EXISTIU FOI UMA ANDORINHA SEM BREQUE
FOI MUITO POBRE, ESTUDOU MUITO, VENCEU, TIROU TATUS
POEMAS ACIMA E ABAIXO DO NARIZ
NASCEU ANALFABETO, VIVEU ESTUDANDO
E MORREU APRENDIZ!
Silas Correa Leite, 2009 - www.portas-lapsos.zip.net
E-mail; Poesilas@terra.com.br - www.itarare.com.br/silas.htm
Poema da Série “Eram os Deuses Itarareenses"
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
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