A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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terça-feira, 24 de março de 2009

Não se atira o pau ao gato


Atirei o pau ao gatu-tu
mas o gatu-tu não morreu-reu-reu...
dona chica-ca assustou-se-se
c'o berro, c'o berro c'o gatu deu-eu-eu


(canção infantil portuguesa, autor desconhecido)

No meu tempo não havia pré-escolaridade e os anos da primária foram-me adversos; de modo que não foi em processo de socialização, como agora se diz, que aprendi estes e outros enigmáticos versinhos (alguns brasileiros, herança de bisavó paraense, e até hoje guardo o ruidoso escravos de jó jogavam caxangá no sítio do coração onde mora também a bela Infanta...).

No meu tempo não havia muita coisa; mas aos muros da Casa assomavam gatos bravios, e com eles soube - antes de o saber com as crianças domésticas que mais tarde encontrei - que a convivência não é coisa que seja dada de graça, nem coisa dada de uma vez por todas. Não lhes atirei pau nenhum, e nem por isso deixei de ter mãos arranhadas; roubei peixe para lhes dar (passavam peixeiras vindas do mar, sardinha viva...) e aprendi que um gatinho órfão era como eu coisa pequena; enfrentei por eles um cão bem maior do que o meu triciclo, e aprendi que as alianças são efémeras. Mas só os gatos me entenderam quando a ameixoeira grande morreu, e aos cantos da noite fui sempre fiel.

Depois cresci, entre outras coisas que aconteceram. Chegaram a casa os meus filhos - chegaram já do infantário para onde os atirou a estranha vida da cidade - e com eles veio ainda o gato-dos-muros na forma da mesma canção (ao caxangá, esse, já não o soube legar, talvez no seu lugar haja neles a memória do Rei Leão, hakuna matata). Mas não sei que gente ou que filmes de vídeo lhes terão ensinado o que me ensinaram os gatos bravios.

Agora vivemos um tempo estranho. Dizem-me sobrinhos e amigos que as palavras foram mudadas, que agora se sabe moldar desde pequeno o coração das crianças. Coitada da dona chica que já não tem lugar:

Não se atira o pau ao gatu-tu
porque issu-su não se faz...
minha mãe-ãe-ãe ensinou-me-me
a gostar, a gostar dos animais...

Desde logo estranhei, não se atira o pau ao gato. É decerto bom que as crianças sejam pacatas (sê-lo-ão assim?) mas alguma coisa em mim reage ainda ao isso não se faz. Sempre coisa que os crescidos sabiam bem que se faria, no lugar próprio (que canção cantariam lá?) que era sempre lugar onde olhos pequenos não chegam; era sempre coisa de cada um no seu lugar. E não, não é porque a mãe me tenha ensinado que eu gosto dos animais, é por muito menos que isso por muito mais. Sim, cantei o pau e o gato e sob a ameixoeira grande aprendi a ver o mundo pelos olhos deles, por olhos claros me vi a mim.

Desde logo estranhei, mas devo ser eu quem fala demais. Dizem-me que as crianças andam contentes, que são até, nos dias que correm, crianças-indigo e crianças-cristal. Pode ser. Também é verdade que já quase não há gatos-dos-muros. Mas tenho saudades da dona chica, a quem nunca mais vou assustar.

Miau.

2 comentários:

AAG News disse...

Pega o gato com jeito que ele azunha,
Logo vi que era o diabo desse gato
Que roubava as galinhas e comia os pintinhos,
Mas hoje ele paga tim-tim por tim-tim
Vou pega esse gato que é ladrão
Amarrar esse gato com cordão
E matar esse gato, agora não
Ai, não sabe não?
Dar um banho nessa gato com sabão
Judiar com esse gato, com tição
Botar dentro de uma saco e soltar
Soltar lá no meio do mar

"Demônios da Garoa"

Lux Caldron disse...

Hoje criamos crianças em redomas de vidro e a importante "escola da vida" perdeu-se. Hoje já não há putos na ruas a descobrir o mundo por eles próprios para ensinar aos amigos e o que se perdeu com isso não foi os conhecimentos que a instituição escola pode ensinar mas a educação que só o mundo dá.

No meu tempo um puto que saisse dos eixos tinha um puto maior a dar-lhe nas orelhas, e o que é certo é que nunca vi maltratar um gato (eles também não deixavam) ou um cão. Havia um respeito maior. Pelas pessoas e pelos animais. Hoje o respeito pelas pessoas, sejam pais ou professores, está cada vez mais a perder-se e duvido sinceramente que seja na alteração desta letra que eles ganhem o respeito aos animais...

Abraço