
#
O culto aos animais e à natureza em geral não nos mostra somente o estádio prático da cultura de um povo, mas também a sua natureza teorética, o seu estádio espiritual em geral; porque, enquanto o homem adora animais e plantas, não é ainda um homem como nós, identifica-se com os animais e as plantas, estes são para ele os seres humanos, ou os sobre-humanos.
#
O outro homem é a ponte entre mim e o universo. Eu sou e me sinto como dependente do universo, porque inicialmente me sinto como dependente dos outros homens. Se não necessitasse do homem, não necessitaria também do universo. Eu me concilio, me torno amigo do universo somente através do outro homem. Sem o outro o universo não só seria para mim morto e vazio, mas também sem sentido e sem razão. Somente através do outro se torna o homem claro para si e consciente de si mesmo; mas somente quando eu me torno claro para mim mesmo se me torna o universo claro. Um homem que existisse somente para si perder-se-ia nulo e indistinto no oceano da natureza; não se compreenderia nem a si mesmo como homem, nem a natureza como natureza. O primeiro objeto do homem é o homem.
#
No mais profundo da tua alma queres que não exista nenhum mundo, porque onde existe mundo existe matéria e onde existe matéria existe opressão e choque, espaço e tempo, limitação e necessidade. No entanto, existe um mundo, uma matéria. Como podes sair do embaraço desta contradição? Como retiras o mundo da mente para que ele não te incomode no sentimento delicioso da alma ilimitada? Somente fazendo do próprio mundo um produto da vontade, dando a ele uma existência arbitrária, sempre oscilando entre o ser e o não-ser, sempre na espera da sua destruição. Certamente o mundo ou a matéria (porque ambos são inseparáveis) não se deixam explicar pelo acto da criação.
#
A religião não é originariamente algo à parte, distinto da essência humana. Somente depois, somente em seu desenvolvimento posterior se torna algo à parte, apresentando-se com pretensões especiais. Saio em combate somente contra essa religião arrogante, soberba, espiritual e que exatamente por isso tem por representante uma classe oficial especial. Eu mesmo, não obstante ateu, confesso-me francamente pela religião no sentido indicado, pela religião da natureza.
#
A minha doutrina ou ponto de vista se resume em duas palavras: natureza e homem. O ser que para mim pressupõe o homem, o ser que é a causa ou o fundamento do homem, a quem ele deve o seu aparecimento e existência, não é para mim Deus – uma palavra mística, indefinida e ambígua – mas a natureza, uma coisa e uma palavra clara, sensível, indubitável. Mas o ser no qual a natureza se torna um ser pessoal, consciente e inteligente é para mim o homem.
Feuerbach, A Essência do Cristianismo
#
O outro homem é a ponte entre mim e o universo. Eu sou e me sinto como dependente do universo, porque inicialmente me sinto como dependente dos outros homens. Se não necessitasse do homem, não necessitaria também do universo. Eu me concilio, me torno amigo do universo somente através do outro homem. Sem o outro o universo não só seria para mim morto e vazio, mas também sem sentido e sem razão. Somente através do outro se torna o homem claro para si e consciente de si mesmo; mas somente quando eu me torno claro para mim mesmo se me torna o universo claro. Um homem que existisse somente para si perder-se-ia nulo e indistinto no oceano da natureza; não se compreenderia nem a si mesmo como homem, nem a natureza como natureza. O primeiro objeto do homem é o homem.
#
No mais profundo da tua alma queres que não exista nenhum mundo, porque onde existe mundo existe matéria e onde existe matéria existe opressão e choque, espaço e tempo, limitação e necessidade. No entanto, existe um mundo, uma matéria. Como podes sair do embaraço desta contradição? Como retiras o mundo da mente para que ele não te incomode no sentimento delicioso da alma ilimitada? Somente fazendo do próprio mundo um produto da vontade, dando a ele uma existência arbitrária, sempre oscilando entre o ser e o não-ser, sempre na espera da sua destruição. Certamente o mundo ou a matéria (porque ambos são inseparáveis) não se deixam explicar pelo acto da criação.
#
A religião não é originariamente algo à parte, distinto da essência humana. Somente depois, somente em seu desenvolvimento posterior se torna algo à parte, apresentando-se com pretensões especiais. Saio em combate somente contra essa religião arrogante, soberba, espiritual e que exatamente por isso tem por representante uma classe oficial especial. Eu mesmo, não obstante ateu, confesso-me francamente pela religião no sentido indicado, pela religião da natureza.
#
A minha doutrina ou ponto de vista se resume em duas palavras: natureza e homem. O ser que para mim pressupõe o homem, o ser que é a causa ou o fundamento do homem, a quem ele deve o seu aparecimento e existência, não é para mim Deus – uma palavra mística, indefinida e ambígua – mas a natureza, uma coisa e uma palavra clara, sensível, indubitável. Mas o ser no qual a natureza se torna um ser pessoal, consciente e inteligente é para mim o homem.
Feuerbach, A Essência do Cristianismo
10 comentários:
Ariana, eu sei que nem sempre tenho a lucidez que prometeram à minha actual idade quando eu era criança. Mas esse texto pareceu-me oportuníssimo, embora não de forma evidente. Obrigado!
(todo o gato é terrível, dirá o roedor poeta)
Miau!
Miau?
SSSSHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!
Rom rom rom.
Perdoe discordar.
Foi "esse homem consciente que construiu a civilização onde estamos todos mal enredados?"...
Obrigada.
Pois foi, o homem supersticioso.
Filosofia coxa.
Mudou o mundo.
!?
Enviar um comentário