A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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quinta-feira, 19 de março de 2009

Em Defesa das Moedas e das Economias Locais contra os malefícios da Globalização

As economias mais sustentáveis - do ponto de vista e ambiental - serão sempre aquelas onde os bens consumidos numa dada região são também aqueles que são produzidos na mesma região, por trabalhadores que residem nas suas imediações. O economista alemão E. F. Schumacher designou este sistema económico como uma "economia da permanência". O economista apresentaria os seus modelos alternativos de economia ao mundo pela primeira vez em 1974, no seu livro "O Pequeno é Belo, a Economia como se as pessoas importassem".
Uma das ferramentas mais importantes para propiciar ao surgimento de Economias Locais sólidas e sustentáveis são as Moedas Locais.

Na atual economia globalizada, as moedas nacionais (como o dólar norte-americano) ou transnacionais (como o Euro europeu) têm contribuído para a concentração da riqueza e para o aprofundamento do fosso entre ricos e pobres, para a destruição das comunidades locais pela aniquilação do comercio local e toda a atividade industrial e agrícola que é deslocalizada. Esse interior, cada vez mais desertificado e onde os municípios se constituem inevitavelmente como o primeiro empregador é, nos países ditos "desenvolvidos", a maior vítima da globalização. Nos países ditos do "terceiro mundo", é o ambiente, a ecologia e a biodiversidade que sofrem com as culturas intensivas de plantação, com a exploração desregrada das matérias-primas e com condições de trabalho sub-humanas. As Moedas Locais permitirão respeitar as identidades regionais, quer económicas, quer culturais, de uma forma que não sucede com as moedas nacionais (que tudo subjugam em favor dos interesses do Centro) ou transnacionais (que tudo subordinam em favor dos jogos de interesses de uma burocracia pseudo-federal). As Moedas Locais permitem definir uma zona regional de comércio, abrangida pela vigência da Moeda Local e defendida das voracidades e dos "dumpings" laborais, ecológicos e ambientais que caracterizam a Globalização. As pequenas e médias empresas locais não têm a escala para resistir a estes "dumpings" múltiplos patrocinados por gigantescas multinacionais globais, detentoras de recursos quase ilimitados e capazes de destruir, por anexação, todos os negócios locais num verbo que nos EUA já mereceu a invenção do verbo "Walmartização" e que em Portugal se exprime pela voraz multiplicação dos Hipermercados e pelos seus efeitos eucalípticos no pequeno comércio. O uso de Moedas Locais no comércio local funciona como uma membrana protectora porque as grandes empresas globais, de capitais e de propriedade externa à região da vigência da Moeda, ainda que a possam adoptar terão que a cambiar (com os custos e perda de recursos decorrente) antes de exportar a riqueza localmente recolhida.

Uma das experiências modernas com Moedas Locais foi realizada na década de setenta, em Exeter, no New Hampshire (EUA). A experiência foi conduzida por Robert Swann e Ralph Borsodi, da E.F.Schumacher Society. Mais tarde, outras moedas foram ensaiadas, como os Deli Dollars, as Berkshire Farm Preserve Nortes e as BerkShares, estando a última ainda em vigência.

História das Moedas Locais

No século dezanove muitos bancos comerciais emitiam a sua própria moeda. Estas geralmente emissões serviam para financiar um empréstimo "produtivo", isto é, um que servisse para um investimento em maquinas, equipamentos ou em terrenos que permitisse a prazo aumentar a qualidade ou a quantidade da produção. Foi só em 1913 que as moedas locais foram substituídas pelo dinheiro federal emitido por uma coligação de Bancos privados dos Estados Unidos que hoje assume o papel de "banco central", sem que nunca verdadeiramente o tenha sido...

A moeda local "The Constant" foi emitida pela primeira vez em 1972 e circulou até 1973 em Exeter, no New Hampshire, circulando entre organizações não-lucrativas. Em 1991, em Ithaca, Nova Iorque, outra experiência foi conduzida com uma moeda local para comércio de bens e serviços locais. Cada nota desta moeda continha unidades de "hora-trabalho". As "Horas" eram emitidas aos proprietários de pequenos negócios que as queriam utilizar para realizarem trocas de bens e serviços. O conceito era de que as "Horas" seriam sustentadas pela produtividade daqueles a quem emitidas, mantendo assim um valor mesmo apesar de todas as flutuações dos dólares federais.

A moeda local "Horas" haveria de se propagar por mais cinquenta comunidades nos EUA e no Canadá. Em algumas, a Moeda Local continua ainda hoje em atividade e hoje está novamente em expansão com um programa de "seguros de saúde local" e com uma "União Alternativa de Crédito".

Mas é, contudo, inegável que a "Horas", sem ser um fracasso rotundo, também não foi um sucesso... Desde logo, porque os grupos comunitários que apoiaram a aparição da dita nestes cinquenta locais não puderam reservar a ela os recursos necessários para a suportar.

No Reino Unido, o advogado Edgar Cahn concebeu um programa a que chamou de "Dólares do Tempo". Os "Dólares do Tempo" mediam a quantidade de horas em que cada vizinho fazia pequenos serviços a outros vizinhos. Todos os tipos de serviços eram passíveis de merecerem "dólares do tempo" em troca dos seus serviços comunitários. Esta Moeda Local - porque era disso que se tratava - não era usada para trocas comerciais como sucedeu com a maioria das Moedas Locais, mas a experiência revelou-se muito útil para reforçar os laços comunitários e valores humanos como a reciprocidade e o espírito de entre-ajuda. Hoje em dia, há várias moedas locais idênticas ativas nos EUA e no Reino Unido.

O programa "LETS (Local Economic Trading Systems)" teve a sua génese no começo da década de oitenta, no Canadá, em Vancouver e consistia num sistema para-bancário de crédito e débito. Quem quisesse adquirir bens ou serviços disponíveis através do programa LETS contactavam por telefone o coordenador local do programa e pediam-lhe para debitar na sua conta LETS o valor do bem ou serviço adquirido (avaliado na moeda nacional) e este era imediatamente creditado na conta LETS no fornecedor. Este e outros programas idênticos são provavelmente as Moedas Locais mais populares do mundo, mas a sua integração com os sistemas fiscais nacionais não tem sido sempre a mais suave.

Em 1989 surgiu uma outra Moeda Local quando proprietário de uma loja no Massachusetts, de nome "The Deli", viu recusado um empréstimo num Banco e emitiu uma moeda sua intitulada "Deli Dollars". Os clientes da loja compravam oito dólares que, posteriormente, trocavam por sopa ou uma sandes.

Em 1991, um grupo de dezassete comerciantes em Great Barrington começou a emitir outra moeda local, as BerkShares. Durante algum tempo, os clientes dessas lojas locais por cada dez dólares gastos nessas lojas, receberam um BerkShare. Esses BerkShares podiam depois ser usados nas lojas aderentes, mas apenas durante três dias, criando um ambiente de "festa" e comemoração na rua principal da cidade. Variantes deste modelo, foram ensaiados e em Toronto e em Vancouver, sempre começando por conversões de dinheiro corrente para uma moeda local em curso apenas em lojas locais.

Outra interessante experiência de "moedas locais", teve lugar na circunspecta Suíça, em 1934, com a muito bem sucedida "WIR", um sistema de trocas entre empresas e que não incluía acesso a consumidores finais. Os bens trocados entre empresas eram avaliados em WIR e havia descontos que favoreciam a adopção da Moeda em favor da moeda nacional, o Franco Suíço. Era possível emitir créditos em WIR e a moeda teve na época uma função muito importante na estabilização da economia.

Fontes:

http://www.smallisbeautiful.org/local_currencies/2004_conference_report.html

http://www.smallisbeautiful.org/

http://en.wikipedia.org/wiki/E._F._Schumacher

http://www.sustainablelivingsystems.org

Local Currencies in the Twenty-First Century:

Understanding Money, Building Local Economies, Renewing Communit; Susan Witt and Christopher Lindstrom of the E. F. Schumacher Society

9 comentários:

Casimiro Ceivães disse...

Clavis, deixo aqui o link para download do texto fundamental do Friedrich Hayek (Nobel economia de 1974), "the denationaliaztion of money".

Por estas e por outras, quando ele esteve cá em 76 ou 77 para uma conferência (julgo que trazido por um grupo onde estava o Orlando Vitorino) economistas como o professor Cavaco Silva levantaram-se e abandonaram a sala :)

Há uma tradução brasileira desta obra.
http://www.4shared.com/file/42731157/42e7bb7a/FA_Hayek_-_Denationalization_Of_Money.html

Casimiro Ceivães disse...

Já percebi que o link não ficou bem. Vou 'parti-lo':

http://www.4shared.com/file/
42731157/42e7bb7a/
FA_Hayek_-_Denationalization_Of_Money.html

Rui Martins disse...

obrigado pelo link
tentarei ler as 73 páginas do PDF (grande, hem?)
para as comentar brevemente.

Casimiro Ceivães disse...

Pois (grande...)

O Hayek vê isto de uma perspectiva 'global'; por exemplo, sugeria moedas emitidas por multinacionais. Agora que estamos sob o guarda-chuva do euro, já não é tão fácil imaginarmos o colapso do valor da moeda estatal (mas vimos recentemente o caso da Islândia, e vamos ver o dos países do centro e leste europeu, isto para não ir ao Zimbabwe, por exemplo.
A questão - que é diversa da do seu texto - é saber se não será preferível, podendo nós escolher, confiar em moeda emitida pelo Bill Gates em vez de moeda emitida pelo Mugabe.
O que se tem visto desde Setembro para cá mostra que, nos 30 anos que passaram desde a publicação desse texto 'maldito', as coisas pioraram muito.

Cumprimentos,

Ana Margarida Esteves disse...

Moedas emitidas por multinacionais? Quem cobrira o seu valor quando nao puderem pagar o que devem, ou os bancos que sao seus donos quebrarem, e elasestenderem a canequinha de esmolas ao estado?

Rui Martins disse...

bem, discordo do conceito de "moeada-empresa", multinacional ou empresa local. Advogo o conceito de moeda local, emitida pelo município "semi-independente" e federado com outros, visionado por Agostinho.
Contudo, no passado, houve vários exemplos de Bancos e de empresas que (séc XIX) emitiram papel-moeda. Historicamente, não seria algo sem precedentes...

Casimiro Ceivães disse...

Ana Margarida, como disse no meu comentário anterior: quem paga aos habitantes do zimbabwe a quebra da sua moeda? Quem paga aos islandeses a falência da Islândia? E quem - Allah nos proteja - pagará um dia a falência do dólar?

Clavis, note por favor que temos aqui dois problemas muito diferentes: um é o de saber se quem emite é o "Estado" (ou como no nosso caso um Super-Estado) ou entidades locais-regionais; o outro é o de saber se em cada área deve haver, ou não, um monopólio de emissão.

Ou seja: se eu viver em Lisboa e for a Braga, há duas situações possíveis:
- uma é ter que trocar os meus 'dolares de lisboa' por 'dolares de braga' para poder fazer compras;
- a outra é chegar a Braga, digamos, com 'dolares da Caixa Geral de Depósitos' e com 'dolares de Timor' e os comerciantes bracarenses aceitarem, ou não, uns e outros.

Note ainda que, se a maior parte dos comerciantes de Braga não aceitarem os dólares da CGD, terá aí uma excelente oportunidade de negócio para um cambista :)

Parece-me que o Clavis se inclina para a primeira hipótese; o Hayek explora a segunda. Em qualquer caso, ele (Hayek) é um aliado precioso para quebrar o tabu do sacrossanto Estado.

Agora: a ideia de que é possível criar um sistema em que o dinheiro seja 'grátis' (no sentido em que estamos totalnmente protegidos contra o risco de ele não existir ou nada valer, que é a mesma coisa, é uma mentira dos Estados. Infelizmente, muitos defensores de sistemas mais ou menos 'libertários' acreditam nela. O dinheiro é confiança materializada, e nada mais do que isso. Aqui há dias o Paulo Borges num comentário dizia 'mas não é possível obrigarem-nos a amar'... Curiosamente, os Estados com o seu monopólio de emissão 'obrigam-nos a confiar'. O resultado chama-se inflação.

Casimiro Ceivães disse...

Outra coisa, Clavis: de facto houve entidades mesmo em Portugal que emitiram moeda (ou melhor: papel-moeda!), o Banco do Minho por exemplo. Mas não havia monopólio de emissão (isto é, em Braga eu podia também usar a moeda do Banco de Lisboa, que depois veio a ser o Banco de Portugal). E, mais importante: havia sempre as moedas de ouro emitidas SÒ pelo Rei. O desaparecimento do ouro como padrão e meio de pagamento é já de pleno séc. XX. As notas dos bancos privados diziam 'o portador desta nota pode trocar isto por ouro na sede do Banco'.

Por outro lado, os exemplos dados no seu post são algo como 'vales', não propriamente moeda. E é equivoco misturar os dois conceitos. É que moeda significa uma obrigatoriedade legal de aceitar aquilo como forma de extinguir uma dívida, qualquer que ela seja.

(não e«tou a atacar a ideia, que acho excelente; estou a chamar a atenção para pontos que terão que ser desenvolvidos)

Cordiais saudações

Rui Martins disse...

Csimiro
"dois problemas muito diferentes: um é o de saber se quem emite é o "Estado" (ou como no nosso caso um Super-Estado) ou entidades locais-regionais; o outro é o de saber se em cada área deve haver, ou não, um monopólio de emissão.

-> O modelo shumacheriano advoga as emissões locais, em regime de monopólio. Os exemplos aqui listados são de facto, mais "vales locais" do que "moedas locais", mas apenas no sentido mais restrito do termo. Ilustram contudo muito a sua capacidade em reter localmente, a riqueza e o emprego gerados localmente e nesse sentido, não quis deixar de as aqui apresentar.

" Ou seja: se eu viver em Lisboa e for a Braga, há duas situações possíveis:
- uma é ter que trocar os meus 'dolares de lisboa' por 'dolares de braga' para poder fazer compras;
- a outra é chegar a Braga, digamos, com 'dolares da Caixa Geral de Depósitos' e com 'dolares de Timor' e os comerciantes bracarenses aceitarem, ou não, uns e outros."
-> Correto. O modelo do câmbio (com taxa) seria aplicado, como forma de proteger a economia local, bragantina, e alimentar os cofres desse municipio.

" Parece-me que o Clavis se inclina para a primeira hipótese; o Hayek explora a segunda. Em qualquer caso, ele (Hayek) é um aliado precioso para quebrar o tabu do sacrossanto Estado."
-> Uma nota: o modelo não é "meu", apenas o adaptei a partir do pensamento de E. F. Schumacher e da fundação com o mesmo nome (de que sou membro) que depois da sua morte desenvolveu as suas teorias.

"Curiosamente, os Estados com o seu monopólio de emissão 'obrigam-nos a confiar'. O resultado chama-se inflação."
-> Correto. A dispersão da moeda nacional (ou supranacional, como o euro) reduziria também a escala do impacto desse fenómeno,

" (não e«tou a atacar a ideia, que acho excelente; estou a chamar a atenção para pontos que terão que ser desenvolvidos)"
-> São todos pontos, abertos, em desenvolvimento e sem bloqueios dogmáticos... mais escreverei sobre este tama, nos próximos tempos, certamente...