Passei os olhos por aquela série da SIC sobre a tua alegada “vida privada”. Mais uma. Agora é uma série de séries e livros – como comentava no outro dia o Pacheco Pereira, basta entrar numa qualquer livraria para confirmar que te tornaste num “best-seller”.
Onde quer que estejas, suponho que ficarás agradado. Imagino também o gozo que tiveste ao seres nomeado, naquele programa de televisão, “o maior português de sempre”.
São as vantagens de estar morto. Se estivesses ainda vivo, serias, decerto, um daqueles velhos rezingões e ressentidos, a dizer mal de tudo e de todos. Assim, vais tendo umas alegrias de vez em quando, para mais com os casos de corrupção que por aí andam…
Há, de resto, muito boa gente a defender que o teu azar foi não teres morrido na década de cinquenta – ou mesmo na de quarenta, logo a seguir à guerra. Terias saído no teu auge – enquanto aquele que saneou as finanças públicas e livrou o país da guerra. Se bem que este teu alegado mérito seja um pouco anedótico – Portugal conseguiu livrar-se da guerra essencialmente por uma razão geográfica; se estivéssemos no centro da Europa, não haveria qualquer arte diplomática que da guerra nos tivesse livrado…
No essencial, como sabes, essa era também a perspectiva do Agostinho da Silva (sim, esse que também foi censurado e perseguido pelo teu regime): ele achava que tu foste o “gesso” necessário para recuperar a “perna partida” (o estado em que a I República deixou o país). Mas ficaste tempo demais e o país gangrenou…
Eu acho, sobretudo, que tu estás é mal enterrado. As paixões histéricas que ainda despertas isso o impedem. Enquanto houver gente, de um lado, a santificar-te, e, do outro, a demonizar-te, nunca mais poderemos voltar a página e seguir em frente. Como já aqui escrevi, faz falta uma visão não maniqueísta sobre ti e o Estado Novo em geral – uma visão que assinale, de forma serena e equilibrada, tanto o teu activo como o teu passivo (censura, perseguições políticas, etc.). Tudo isto, claro está, fazendo o devido enquadramento histórico – se o fazemos já em relação, desde logo, a Afonso Henriques, até, para não ir mais longe, ao Marquês de Pombal…
Talvez essa seja também uma tarefa para a NOVA ÁGUIA. Já aqui sugeri que, daqui a uns anos, poderíamos dedicar-te um número. Para te enterrarmos de vez e assim nos deixares, para sempre, em paz. Os mortos mal enterrados tornam-se fantasmas, mas os fantasmas também têm limite de idade…
Apesar do deplorável estado a que isto chegou, o caminho não é para trás…
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra).
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Donde vimos, para onde vamos...
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1 comentário:
O filho de uma hóstia até morto nos chateia...
Sal azar ...
O Sal que foi salário é o azar de quem só recebe o mínimo.
Faça-se o filme dos ódios do animal que até enterrado continua a fazer mal ...
Enterre-se a besta e com ele os seus activos e passivos.
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