A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Ecos da Holanda

Em resposta a uma exortação a que desse eco do diálogo entre Pessoa e Cioran, publico o início de uma das conferências que recentemente proferi na Universidade de Groningen. Num alfabarrista da cidade encontrei a tradução neerlandesa do São Jerónimo e a Trovoada, de Pascoaes (1939)! Já em Amesterdão, acabei por não encontrar a casa de Espinosa - disseram-me que ficava um pouco fora da cidade - , mas comovi-me até às lágrimas com a atmosfera da imponente Sinagoga Portuguesa, ainda em funções, em particular ao escutar um concerto de música hebraica com duas vozes masculinas. A comoção prosseguiu diante dos primeiros quadros de Rembrandt, no Rijksmuseum.
Sinto ser a Hora de nos abrirmos a todas as culturas e de sermos verdadeiramente o "Homem de todo o Mundo" de que Vieira falava, falando do português. E, nisso, deixarmos em todo o mundo as sementes da nossa divina loucura. Foi o que tentei fazer, acendendo na Holanda e em novos amigos alemães, polacos e franceses desejos de conhecer Antero, Bruno, Pascoaes, Sá-Carneiro, Pessoa, Raul Leal, Agostinho... Alguns serão colaboradores da "Nova Águia" e, no meio da forte e boa cerveja holandesa, assomou-me a ideia de organizar na Faculdade de Letras um seminário com jovens investigadores estrangeiros sobre Fernando Pessoa. Já tem data marcada: 2 de Junho.
Em pequeno estremecia ao passar por pontes e sonhava construí-las. Hoje sinto que nada somos senão ponte, suspensos entre duas margens do que se não sabe, por mais que se pressinta. Ponte-Saudade.

Abraços

Emil Cioran e Fernando Pessoa: salto no absoluto e "fuga para fora de Deus"

Fernando Pessoa e Emil Cioran vivem, de modo diverso, aquela que se pode considerar a mais ousada e radical aventura, a da transcensão de todos os limites do pensamento, da vida e da existência. Pensadores e escritores provenientes da periferia da cultura europeia dominante e agudamente conscientes de viverem um fim de ciclo da civilização dela nascida, a sua força brota também do ímpeto de libertação dos ídolos dessa mesma cultura e civilização, as normas do que se supõe mentalmente correcto, sem que se detenham perante o suposto limite do humano, numa titânica e iconoclasta hybris de superação de tudo, do sujeito e de si mesma, numa nostalgia ou saudade violenta do incondicionado, pressentido e experienciado como instância irredutível à constituição do sujeito no mundo e fundo sem fundo de toda a experiência possível.

Este ímpeto acompanha-se em ambos de uma exuberante mestria literária, que em Pessoa se exerce na tão portuguesmente barroca e poética proliferação de formas de si como outro – os heterónimos - , outros tantos ensaios de fuga à prisão do nascimento, da individuação e à suposta normalidade monopsíquica daí decorrente [1], enquanto em Cioran o génio literário serve um obsessivo, detalhado e minucioso ajuste de contas com todas as ficções da consciência, da história e da cultura, escalpelizadas e reduzidas a cinzas pelo cirúrgico e cáustico bisturi do aforismo e do pensamento incendiado na veemência da insónia, da febre e da blasfémia, mas também do entusiasmo extático e transfigurador.

Não deixa de ser curioso que a comparação entre Pessoa e Cioran possa reconduzir aos contrastes da alma ibérica, pois se no primeiro, sobretudo no ortónimo e em Bernardo Soares, tão diversos da serenidade pensada do “mestre” Caeiro e da melancólica sabedoria da renúncia em Ricardo Reis, predomina a tristeza passiva e dissolvente da saudade que impregna muita da cultura portuguesa, mareada na regressão ao Caos nocturno e oceânico do antes de ser, já no segundo rebenta a paixão sem esperança do “Espanhol que gostaria de ter sido” [2], a explosão de um cinismo místico de cuja excessividade e intensidade apocalíptica só se aproxima, entre os heterónimos pessoanos, o dionisíaco frenesim de “ser e sentir tudo de todas as maneiras”, de Álvaro de Campos.

[1] “Sou um evadido. / Logo que nasci / Fecharam-me em mim, / Ah, mas eu fugi” – Fernando Pessoa, Obras, I, Porto, Lello, 1986, p.316.[2] “Tour à tour, j’ai adoré et exécré nombre de peuples; - jamais il ne me vint à l’esprit de renier l’Espagnol que j’eusse aimé être…” – Emil Cioran, Syllogismes de l’Amertume, Oeuvres, Paris, Gallimard, 1995, p.772. Cf. também, entre muitos outros lugares: “Le mérite de l’Espagne est non seulement d’avoir cultivé l’excessif et l’insensé, mais aussi d’avoir démontré que le vertige est le climat normal de l’homme. Quoi de plus naturel que la présence des mystiques chez ce peuple qui a supprimé la distance entre le ciel et la terre?” – Des Larmes et des Saints, Ibid., p. 304.

1 comentário:

julio disse...

Desculpe o recorte

"Sinto ser a Hora de nos abrirmos a todas as culturas e de sermos verdadeiramente o "Homem de todo o Mundo" de que Vieira falava, falando do português. E, nisso, deixarmos em todo o mundo as sementes da nossa divina loucura".

É o que sinto por onde ando quando abro este velho coração português e o deixo solto.

Uma cultura que tem naturalmente um forte componente mental,
mas essencialmente um coração na mesma medida.

Vi-me sentado a ouvi-lo rodeado de pessoas.
Pude "inté" sentir vossas lágrimas.

E com boas lágrima, É a Hora!