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E.Ribeiro 20-2-2009
"Nenhum problema pode ser resolvido no mesmo nível de consciência que foi criado. É preciso ir mais longe. Eu penso várias vezes e nada descubro. Deixo de pensar, mergulho num grande silêncio e a verdade é-me revelada."
Albert Einstein
1 - Caracterização dos problemas fundamentais
Nem sempre os fenómenos são tão complicados como se nos apresentam. Nem sempre as soluções são tão fáceis como nos prometem.
Os problemas comummente conhecidos pela sua resultante económico-financeira são para mim sucedâneos de dois factores, o primeiro de ordem pessoal e comportamental e o segundo de cariz sistémico. Se reflectirmos um pouco verificamos que verdadeiramente nem de crise se trata mas de um processo cíclico ininterrupto, dual, pendular de expansão e contracção das condições de vida, imposto por um conjunto de causas, ao qual o Homem em vez de produzir soluções atenuantes aos seus impactos, ainda os potencia, imerso que se encontra pelos seus instintos mais básicos. Este fenómeno foi de tal modo ampliado, que no momento em que nos achamos emancipados de todas as tradições e valores, destruímos o princípio do Sagrado na sociedade, fenómeno que é mais uma vez comum a todas as épocas de expansão e de abundância.
Quanto ao factor comportamental das sociedades humanas, importa referir que sempre fui muito céptico sobre as teorias de auto-regulação dos mercados que teve como se sabe um importante profeta em Adam Smith. O que é estranho é a aceitação até hoje de um modelo que apenas funciona em utopia, já que da soma dos interesses individuais não resulta uma operação aditiva ao nível da sociedade e não há mão invisível que lhe valha! Os interesses individuais são na maioria dos casos conflituantes e em especial nas épocas de escassez ou de contracção. A resultante de dois interesses conflituantes, como se sabe, passa pela anulação do agente mais fraco com o enfraquecimento do ganhador, isto quando não são ambos anulados no processo. As Leis Naturais são claras.
Embora com as limitações e simplificações próprias de qualquer modelo, sempre achei mais aceitável a teoria keynesiana na qual se vê realçado o equilíbrio do sistema capitalista entre a iniciativa privada e a pública. Deste modo o sistema capitalista só seria possível, se harmonizassem os instintos (animais) do ganho individual através da livre iniciativa privada com o altruísmo social do Estado, que se pode estender a todas as organizações sem fins lucrativos, associações de cidadãos com intervenção social, cultural ou ambiental.
A liberalização dos mercados sendo um sucedâneo comercial dos regimes democráticos ocidentais modernos (vide EUA), seguiu esta boa vontade da auto-regulação da mão invisível! É uma boa utopia, mas como tantas outras, depende do comportamento de indivíduos que mesmo com a melhor das percepções e das intenções na busca dos seus interesses pessoais, muitas vezes entram em rota de colisão com os dos vizinhos. Gera-se todo um processo irracional como a ganância, conduzido pelo instinto de sobrevivência e regressa-se ao plano animal. Aqui reside um dos problemas. Se fôssemos todos, digamos, “boas pessoas”, íntegros com princípios e valores inabaláveis e ainda tivéssemos a capacidade dum discernimento holístico, inteligência suficiente para uma equidade salomónica e auto-sacrifício a bem do cumprimento daquilo que eu chamo Leis Naturais ou do Equilíbrio ou ainda para os mais religiosos da Lei Divina, estas utopias talvez funcionassem e tudo se auto-regulava como desejava Adam Smith. Se o dinheiro não fosse o objectivo mas a consequência do cumprimento das visões, das missões e dos objectivos estratégicos das inúmeras organizações espalhadas pelo mundo – tudo boas intenções – estaríamos mais próximos de pelo menos perceber a dimensão do problema da ineficiência do ponto de vista físico das organizações!
Ora, para os indivíduos de baixa formação moral (i.e. sem escrúpulos de espécie nenhuma), o liberalismo, ou melhor a versão mais ortodoxa do neo-liberalismo foi o argumento há muito esperado para lhes legitimar os actos. Para muitos deles ser criminoso é tão só ser apanhado! E ser-se apanhado equivale a ser-se um perdedor, um ser inferior, logo justamente condenado a todas as penas capitais. É darwinismo puro: só os melhores é que sobrevivem e o mesmo se passa com as organizações empresariais por eles dirigidas!
Por outro lado o temos ainda a dimensão do poder exercido por indivíduos não preparados para tal. É sabido que o poder muda o indivíduo de tal forma que se este não tiver uma forte constituição interior de princípios morais, muito acima de qualquer ganho pessoal, das suas paixões e vícios por mais indeléveis que sejam (quando esse poder ainda não é efectivo), quando ele o tiver que exercer o poder (que aliás nunca é dele, mas concedido por tempo determinado), ele será totalmente controlado por estes instintos que distorcerão por completo a equidade e a justiça a favor dessas mesmas paixões e desses mesmos vícios que irá satisfazer a todo o custo. Desta forma a força destruidora será da ordem de grandeza do poder dos números que estiverem nas suas mãos.
Verifica-se então dentro do paradigma comportamental que o problema principal da crise de valores deste tempo, advém da descida da grande maioria da população – em especial daquela que tem a responsabilidade da condução dos destinos dos outros – aos planos inferiores da existência, o lado Humano cedeu terreno ao lado animal mais abjecto. Matámos o Sagrado, potenciamos num hedonismo exacerbado, os instintos, as paixões e os vícios – que são um abuso desses instintos – e descemos ao nível animal através dum liberalismo selvagem que sucedeu ao exagero da presunção dos direitos de indivíduos não elevados interiormente e por isso incapazes de serem de facto líderes, se olharmos para o princípio de dever responsável e do auto-sacrifício que a liderança obriga.
Neste paradigma é certo que não há solução, que não seja o conflito nesse plano da existência. Independentemente das estratégias económicas e políticas, iremos assistir ao agudizar dos problemas que se sucederão do seguinte modo e à medida que se gorarem todos os paliativos: da referida queda dos valores e do Sagrado passaremos à crise económico-financeira, que provocará o desencadear de uma crise social, que levará a uma crise política e cuja incapacidade para a resolver, levará por último a problemas de segurança da ordem pública, desencadeando uma crise militar. As zonas de cooperação económica estarão em risco de se fraccionarem, mais uma vez seguindo a lógica instintiva e básica do “salve-se quem puder”. Nessa altura teremos a violência e a guerra como sempre houve nos finais dos ciclos civilizacionais (vide as crónicas da decadência do Império Romano, cujas semelhanças no tecido social actual são por demais evidentes às que se verificaram nesse tempo). Curioso é verificar que por muito que o Homem se ache evoluído e emancipado, continuará irremediavelmente ainda mais preso às amarras das Leis Naturais…
Quanto ao segundo factor, do ponto de vista sistémico, deixo aqui um pequeno “desafio científico”, dizendo que nenhuma empresa é eficiente ao ponto de ser intrinsecamente viável, quanto mais lucrativa. É manifestamente impossível. E não esqueçamos que o dinheiro tem o mesmo comportamento da energia, movendo-se por fluxos idênticos, regendo-se por isso pelas mesmas leis e equações!
Se olharmos ao de leve para a equação do rendimento do ponto de vista físico, verifica-se que r = W / E1, em que W é o trabalho realizado por uma dada entidade e E1 a energia necessária (capital investido) para esta funcionar. Por sua vez podemos dizer simplificadamente que o trabalho desenvolvido depende da diferença entre a energia fornecida e as perdas (W = E1 – E2, na qual E2 é a energia dissipada, ou neste caso capital desperdiçado). Numa dada organização, E2 pode ser definida como a soma das perdas energéticas dos edifícios, dos veículos, das máquinas associadas à produção e dos colaboradores cujo trabalho realizado pode ser nalguns casos inferior ao ordenado que auferem mensalmente (i.e. energia que cada trabalhador recebe, para por sua vez realizar trabalho). Para além disto há ainda o nefasto impacto ambiental que aumenta na proporção da dimensão da organização: uma multinacional terá um impacto ambiental muito profundo se a compararmos com uma pequena empresa familiar. Deste modo o rendimento de uma organização será sempre inferior a 1 ou em percentagem inferior a 100%. Se isto é verdade como é que uma empresa pode dar lucro? E só podemos falar de lucro num rendimento acima dos 100%, já que 100% representa uma organização perfeita sem perdas de nenhuma ordem.
Em termos de analogia, vejamos por exemplo o caso do nosso carro que nos transporta para o trabalho. Um motor de explosão tem um rendimento de cerca de 30% (os modernos), verifica-se que o rendimento de uma empresa terá um comportamento aproximado, e isto no caso da organização não acumular stocks, já que o rendimento de 30% do motor de explosão é medido não tendo em conta a situação do carro parado com o motor em funcionamento, o qual não produz trabalho algum!
Seguindo a analogia e dentro das Leis da Termodinâmica, uma empresa terá que colocar as perdas (> 70% se a compararmos com o motor de explosão) mais a componente do lucro (o tal regulado pelo mercado através do efeito da oferta e da procura) no valor do preço da margem dos seus produtos ou serviços e isto no caso optimizado de facturação contínua: esta é a situação “normal” aos nossos olhos de uma empresa de sucesso e a dar lucro.
Os bens ou serviços terão que trazer imputado um valor que mesmo na teoria maginalista (mais uma vez uma dimensão subjectiva e dependente da percepção do “bicho homem”) e sem os modernos mecanismos especulativos de distorção da percepção do mesmo “bicho homem” como o marketing, será por natureza inflacionado face ao seu valor real (refiro-me ao valor energético se olharmos para a mais valia real que o bem ou serviço transferido nos dá para a nossa utilização do dia-a-dia). É o mesmo que dizer que o custo do trabalho executado pelo motor de explosão (transportarmo-nos todos os dias por exemplo) terá que suportar as perdas por dissipação de calor, o que significa que o custo do nosso transporte é muitíssimo superior às mais valias que ele me produz. No entanto esse custo é imputado no meu trabalho que por esta via ficará mais caro, pelo que terei que pedir mais dinheiro/energia para poder trabalhar e deste modo viver. Somando todas estas perdas pelo número de indivíduos começamos a ter uma leve ideia do problema da ineficiência e da insustentabilidade organizacional.
Se olharmos bem e do ponto de vista sistémico, para um conjunto de empresas trabalhar digamos num contexto auto-sustentável – imagine-se simplificadamente 3 empresas que formam um ciclo fechado, e que se completam entre si; digamos uma no sector primário, outra no secundário e a restante no terciário. Este sistema terá que ir conquistando espaço para se manter a funcionar, já que as perdas de ineficiência somadas têm que ser recuperadas por conquistas contínuas, sejam elas novas fontes de energia ou novos mercados de escoamento de produtos. No passado, isto significaria anexação de território pelas nações mais fortes! Onde está a boa vontade de Adam Smith?
Deste modo no nosso tempo, a crise foi sendo adiada desde a década de oitenta com a queda da URSS através do alargamento dos mercados ocidentais aos países do leste, na década de noventa com o boom da “internet” e no final desta com o crescimento asiático, nomeadamente da China e Índia que deram mais um último folgo à economia desta globalização. Foi o canto do cisne. O problema agora é que já não há mais para onde ir, o crescimento imprescindível para ir mantendo a ineficiência organizacional estagnou, isto porque a produção superou as necessidades de consumo (daqueles que podem pagar é claro). A solução seria encontrar novos planetas com vida para continuarmos a crescer e a compensar as perdas relativas ao baixo rendimento organizacional! Haverá algum produto a inventar tão revolucionário como a internet nos próximos meses?
A utilização das assimetrias mundiais entre regiões ricas e pobres, com a deslocalização da produção de acordo com o baixo custo de mão-de-obra – outro paliativo – já não é suficiente para se assegurar a tal margem que contemple a ineficiência das empresas do ponto de vista energético de acordo com a Termodinâmica. A lei da oferta e da procura transformou-se num vírus para o próprio sistema. Pelo facto de assistirmos a uma abundância de produtos no mercado, os preços são obrigados a baixar de tal modo que a margem de qualquer produção (bens ou serviços) é insuficiente para manter em funcionamento as organizações empresariais, mesmo cortando na qualidade (i.e. produtos apresentados como iguais pelas técnicas de venda mas ainda mais baixos do ponto de vista energético, porque a sua taxa de degradação é elevada). O paliativo seguinte foi a economia de escala, que mais não é do que mero canibalismo empresarial quer se trate de empresas do mesmo ramo, complementares ou em áreas de afinidade de negócio (isto é, o mesmo território ou adjacente se olharmos numa analogia de conquista). Mais uma vez as Leis Naturais são inflexíveis: numa praga, que se caracteriza num aumento desproporcionado de indivíduos de uma dada espécie face aos recursos para a manter, a solução passa pelo canibalismo tal como uma praga de gafanhotos que termina quando se comem uns aos outros! No fim resulta terra queimada... ou a situação de não mercado!
Juntamente com estes problemas intrínsecos das Leis da Física ainda temos que reconsiderar o problema comportamental dos indivíduos que descrevi no primeiro ponto.
Soluções, não se vislumbram, se apenas olharmos para o cenário do ponto de vista do plano em que se materializou! As soluções não serão certamente económicas nem financeiras, já que o problema não é desta ordem, mas sim comportamental e sistémico. A crise financeira é uma “materialização” de problemas comportamentais do chamado “bicho homem” e sistémicos do ponto de vista das Leis da Física. As soluções para a recuperação deste “ciclo civilizacional” passam em primeiro por uma mudança completa de paradigma que permita a tomada de consciência dos problemas reais e estruturais que condicionam todo um funcionamento anómalo das organizações. Essa tomada de consciência dos problemas extrínsecos tem que ser antecedida da tomada de consciência dos problemas intrínsecos a si mesmo, das suas limitações que lhe impedem de ser a criatura emancipada que pensa ser: continua a achar-se a criatura eleita, quando não o próprio Super-Homem que destrona Deus, sem se dar conta que ainda não conseguiu libertar-se das amarras que o prendem aos inferiores instintos animais.
2 – Proposta de atenuação da Crise
Retorno do Sagrado a partir da restauração das Festas Religiosas Populares. No Sagrado e nos rituais populares reside o processo catártico de realinhamento com as Leis Naturais.
Face à minha caracterização do fenómeno – e digo minha, porque haverá outras mais ilustrativas de certo – a estratégia a desenvolver na atenuação da crise económica não será como vimos solucionada através dos paliativos económicos ou financeiros. Por muitos diagnósticos e análises que economistas e financeiros possam levar a cabo sobre este fenómeno caracterizado pela crise, não irão conseguir resolvê-la, e isto porque o problema foi criado noutro plano muito antes de ter sido materializado no subprime ou nas outras “bolhas que por aí se encontram prestes a estoirar”, já que toda a actividade organizacional é fisicamente deficitária como vimos: Se isso não bastasse ainda se potenciou esse défice com mecanismos especulativos de toda a espécie. Não esquecer porém que esta e outras bolhas não passam de sintomas da mesma doença que caracterizei. Aquilo que levou à crise dita financeira partiu de factores que há muito se vêm a desenrolar na nossa sociedade, factores estruturais que têm a ver com uma ruptura total e completa com o plano dos princípios e dos valores resultantes da evolução do liberalismo para um paradigma radical de neoliberalismo, cuja motivação maior se tornou no ganho financeiro como vimos.
O espaço do sagrado deu lugar à profanação ou mesmo ao desaparecimento dos símbolos e de inúmeras praticas populares ritualizadas que serviam de catarse social e de realinhamento com ideais utópicos construtivos porque colocavam o Homem não só como manifestação do sagrado, como o obrigavam a olhar para valores superiores à sua própria condição.
O “plano do Sagrado” que importa restaurar, influencia decisivamente o plano concreto e tangível do dia-a-dia. Um tem reflexo no outro, já que o primeiro induz motivações e projecta ideais muito profundos que se concretizam no plano visível material. Em jeito de analogia, pode-se intuir que no plano da consciência, o Sagrado comporta-se como que um sol interior, onde um pensamento é como que um objecto ou uma identidade no plano material e “um estado de alma” é como que um local, um sítio, uma paisagem no plano material.
Tendo em conta estas considerações penso que a solução passa pelo retorno da sociedade ao nível do sagrado, através das motivações individuais e interiores de cada um, mas consubstanciadas nas tradições das festas populares que deverão ser restauradas em cada região do nosso país e em todo o mundo.
Importa dar uma pequena explicação histórica sobre a organização ritual e hierarquizada das ordens que construíram o nosso país e o converteram num projecto plataforma para o mundo através dos Descobrimentos. Assim e tal como no tempo da fundação de Portugal, se pode tirar a ilação de que existiriam pelo menos três tipos de ordens organizacionais e hierarquizadas na condução dos destinos da nação, esse mesmo modelo poderia ser restaurado da base. Os Templários, a Ordem de Cristo e a Ordem de Avis, para referir as mais importantes porque geraram dinastias, eram por assim dizer organizações intermédias ou executivas, situadas entre a Ordem Interna (desconhecida) que estabelecia a estratégia e a mais externa, que me permitam que considere, à falta de melhor designação, por "ordem nacional", que incluía todo o povo como uma egrégora unido por uma missão: quanto mais não fosse a união contra o poder de Castela. Esta ordem externa tinha para além de uma multiplicidade de tradições mais ou menos ritualizadas ou cerimoniais, uma tradição que foi estabelecida, provavelmente pelas hierarquias superiores e que foi chancelada mais tarde pelo Rei D. Dinis. Este rito externo ou tradição popular, construído sobre um cerimonial catártico era baseado numa história evocativa de valores e de princípios filosóficos. A sua função era de elemento agregador de todo um povo à volta de um desígnio, cujo objectivo seria como foi a elevação das consciências individuais no plano acima do físico ou tangível conhecido por plano espiritual do domínio do Sagrado. Eram as festas do Senhor Santo Cristo e do Espírito Santo, cujas implicações advinham do pensamento joaquinista1 das Três Idades do Mundo. Este é um exemplo funcional que deu provas como já vimos na expansão de Portugal nos Descobrimentos.
Se olharmos com atenção e a título de exemplo para as Festas do Espírito Santo, verificamos que o conteúdo ritual visava materializar o conceito de “Paraíso Terreno”. Era dada uma amostra paradisíaca da abundância que saciava a fome e a sede, que passava pelo perdão dos culpados (havia lugar a indultos nessas alturas a presos com delitos menos graves) e por uma relação fraternal entre todos sem olhar a classes nem posições que espelharia o Amor Universal, consubstanciado na partilha e no sentido de pertença. Esta manifestação tradicional era como que uma promessa dirigida ao povo, de ver materializada no futuro aquela realidade, na condição porém do realinhamento deste com as Leis Naturais ou Divinas, que significariam o cumprimento por todos da Lei do Estado (na época em estreita observância das Leis Naturais). Em jeito de comparação podemos relacionar tal prática às visões do paraíso criadas pelo Velho da Montanha aos mancebos que recrutava para a sua milícia dos Hashshashin! Estas práticas só têm comparação actualmente com as metodologias de recursos humanos, nas áreas comportamentais e do desenvolvimento individual. Deste modo se atesta o avanço que estes “arquitectos de tradições” tinham alcançado numa sociedade ainda na alvorada do Renascimento!
Deste modo penso que a restauração do Sagrado em cada um de nós com a aplicação prática de harmonização com as Leis Naturais ou Divinas será a única saída descrita também por Vieira numa linguagem ecuménica própria de há 400 anos na sua História do Futuro2, mas de renovada actualidade. A classe política dirigente tem a responsabilidade de ter percepção desta realidade e de criar antecipadamente os argumentos necessários para articular com o povo que governa o conceito do Sagrado com a mesma filosofia prática com que foi inicialmente instituído, isto numa época em que se encontra completamente anulado nas nossas sociedades.
Deverão ser criados organismos alavancadores das tradições populares como as indústrias do turismo (seja ele rural ou ecológico ou ainda de saúde e bem estar), dos conteúdos de audiovisuais ou multimédia e ainda o financiamento de associações culturais regionais que potenciem o trabalho de inúmeras pessoas de “boa vontade”, muitas delas pensionistas, que ao serviço das suas comunidades tudo fazem para reviver as tradições culturais onde o Sagrado ainda se encontra protegido. O governo poderá e deverá ainda potenciar o trabalho destas associações com as indústrias de turismo e multimédia a fim de lhes conceder a sustentabilidade sem necessidade da dependência do subsídio estatal.
Deverão ser postos em funcionamento planos de acção, ao nível dos conteúdos audiovisuais e das escolas que permitam a elevação da consciência das populações, em especial das novas gerações, através da restauração dos princípios tão benéficos como a fraternidade, a solidariedade e o sentido de pertença, sentimentos fortíssimos que por exemplo podem ainda ser sentidos de forma muito intensa nos Açores, onde nas festas do Espírito Santo, se verifica uma coesão impressionante da população à volta de uma tradição de uma enorme profundidade filosófica e emocional. O sentimento de corpo, de união e partilha fraternal, são bem patentes, tocando o mais insensível dos indivíduos.
Este modo de tomada de consciência permite ainda a protecção da sociedade contra o perigo dos novos “arautos dos valores” e "das reservas morais" que se arrogam detentores da verdade e que numa época de dissolução dos princípios sociais e de crise estrutural ou civilizacional, corremos o risco de ver culminar num regime autocrático repressivo. Aliás foram momentos como este que serviram de esteira aos piores ditadores do passado.
Encontramo-nos em final de um ciclo civilizacional e do ponto de vista da preservação da “espécie Humana” temos como sempre duas saídas, a da elevação das consciências num alinhamento superior ao Sagrado, que significa a aceitação do erro e a vontade expressa de mudança – esta é a Via construtiva do Amor; e a Via disruptiva da Dor que se caracteriza pelo extremar de posições à medida que se vão dando inúmeras rupturas ao nível do tecido social por ineficácia dos variados paliativos que se vão introduzindo. No final só funcionarão os métodos correctivos que como sempre só terão lugar debaixo de um “punho de ferro” ou do bisturi do cirurgião. Cabe-nos a nós escolher o melhor caminho a bem da sobrevivência e do futuro desenvolvimento da Humanidade.
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8 comentários:
Retorno do Sagrado de uma forma nao-dogmatica, nao-fanatica eassumidamente pluralista: O grande desafo e a grande aventura do seculo XXI.
Excelente artigo.
Poucas vezes vi um artigo tão confuso como este.
Obrigado pelos comentários. Quanto ao texto do ponto de vista formal, confesso não ser completamente claro, o que já corrigi com uma nova versão, que espero melhorar esse aspecto.
No entanto, o que interessa é o conteúdo e a discussão dele pelo maior número de pessoas possível, já que não há verdades acabadas e pretendo sempre que os meus textos estejam sempre em aberto como o "Portugal - Que Missão" que se encontra no blog e do qual já tenho uma nova versão, já que aquela que aqui se encontra foi escrita antes do rebentar da crise.
Quanto ao Sagrado, estou de acordo com a Ana Esteves. No entanto tenho que referir e sem complexos proteccionistas de que temos uma obrigação clara: defender a nossa tradição e projectá-la aos outros povos. Se somos o povo que mais anos manteve um "império mundial" quase de 500 anos, é porque a nossa filosofia de vida é superior à dos outros, que como os EUA não conseguem manter-se mais de 50 anos sem serem odiados quase por todos.
A integração das outras culturas na nossa terá que ser efectuada com muito cuidado e ao longo do tempo, a fim de enriquecermos a nossa já rica cultura e não cairmos de novo no erro do seguidismo acéfalo. E mais uma vez é necessário gostarmos de nós próprios: como indivíduos, como membros de uma família, de uma região e como Portugueses. Só assim poderemos gostar dos outros e sermos como sempre fomos cidadãos do mundo por direito e pelo exemplo.
Caro Eurico, não percebi que você estava "aqui", porque o texto foi editado pela Direcção e pensei que o "E. Ribeiro", no início, era uma citação não concretizada, paralela à do Einstein :)
Agora estou sem tempo nenhum, mas mal possa deixo aqui duas ou três perguntas a ver se o percebo melhor.
Cumprimentos,
Eurico, isto não vai com perguntas :) reli e na medida do possível vou pôr aqui uns contrapontos. A ver se amanhã tenho tempo para ir ao que diz do Sagrado, que é absolutamente pertinente.
Bom fim de semana
Quero desde ja agradecer ao Casemiro Ceivaes a importancia que deu ao meu trabalho. Esteja a vontade para contrapor, ja que esta é a unica forma de nao so aprender como de dar valor a este trabalho.
Mais uma vez obrigado. O E é de Eurico e Ribeiro é o meu apelido. No texto que enviei tinha outra formataçao com uma linha a separar o titulo e o meu nome da citaçao.
Fico a espera dos seus comentarios. Ja agora o meu email é ejdribeiro@gmail.com
Caro Eurico, obrigado pelo seu contacto. Não sei se tenho net no fim de semana.
Cumprimentos,
Casimiro
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