
XXXI
Sulcos de mistério conduzem-nos o olhar
para um sítio onde o ar embala a luz mais pura.
Quando dentro da carne tudo soa a pavor
e a razão nos foge e o coração hesita,
gostaríamos de erguer aquele estandarte
que fala ao vento duma pátria segura.
Encerrados na abóbada do espaço, detemos o olhar.
Nenhuma rota nos espera. Então, demasiado tarde,
compreenderemos que os vales do azul celeste se transpõem
com o olhar afeiçoado a desvendar o oráculo
que ao fundo do coração nos mostra o caminho duma estrela...
Porém a mente rebelde suspeita da miragem;
e nas suas lágrimas se afogam as palavras
que tornariam transparente o obscuro véu.
XXX
A procura é fugir de nós próprios:
Ser canção e escapar da garganta
para nos fundirmos com os cantos alheios...
Estar em todas as rotas,
eternos cata-ventos saudosos
de praias mutáveis.
Félix Cucurull (1919 -1996)
Dois poemas da série “Os Outros Mundos” (“Els altres mons”) in “Vida Terrena”, Editora Ulisseia, Lisboa, 1966, págs. 65 e 63.
2 comentários:
Bonito!
Conjunto harmonioso de imagens e palavras
Bem vindo, caro Lapdrey, no espírito de onde sempre esteve!
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