"Lá
- Tens de ir para lá
alguém me diz frequentemente, não sei de onde. É como uma fixação. Sinto-me lá, estando cá. Digo que tenho de lá ir, parecendo já lá estar. Faz parte de um processo. Faz parte: de um processo de procura; de um sentido para a vida; da busca da paz; da demanda da clarividência.
E porquê lá? Porquê naquele terreno sinuoso? Porquê penso saber? Porque a decalcada vida lá se liberta para a calma, o trépido dia-a-dia lá se esfuma na imensidão da ternura do aparentemente vazio. E pois, eu penso que lá deveria estar; que para lá tenho de ir; que lá algo me espera.
Mas irei? É um necessário ir tristemente adiado pela futilidade de outras decisões, talvez pragmáticas, talvez reais, que vou tomando diariamente. Subitamente, não agora, nem noutro momento único, mas sim amiúde, um braço, com a sua mão como prolongamento, me empurra para a vontade de ir. O ir é que interessa, não a intenção.
Porém, estranho é que, não raras vezes, sinta que é sublime e poderoso o sentimento que me liga lá ir. É como se já lá tivesse estado, talvez noutra vida. Talvez seja um déjà vu dentro de um sonho; ou, tão-só, um prenúncio.
Quando fecho os olhos para o que me rodeia e concentro lá a minha atenção, lá, volto de repente a abri-los, melhor será dizer a acordar, e recordo o que tenho visto, ouvido e lido sobre lá, para poder sentir o que lá se sente: o sofrimento, ou melhor, o estoicismo, esse sofrer calado.
Torno então a abrir os olhos da consciência, liberto-me na realidade e apetece-me ser o pós-moderno Átila, o Huno, reunir um pequeno exército e resgatar os montes, os rios, os campos, as cataratas e tudo o resto para os de lá; para uns verdadeiros respeitadores do homem no seu esplendor; para os que prezam e cultivam o bem, o verdadeiro e o belo.
Enfim, lá. Eu lá, lá. Tem de ser o meu fito, o meu desígnio, ou um dos.
Falo do Tibete, porque de uma gaveta da minha alma me surge a palavra “Tibete”. São seis letras que ganharam, com o tempo, um tremendo significado para mim. Não sei porquê. Ou talvez saiba. Porque de uma gaveta que abro parece resvalar pela encosta do móvel um papel onde está escrito “Tibete”; porque no rio de águas paradas a que recorro para me olhar e me ver reflectido parece surgir uma imagem com seis caracteres que, no seu conjunto, perfazem a palavra “Tibete”; porque na rua cheguei a tropeçar numa lata de coca-cola, amolgada, onde num dos seus cantos, muito subtilmente, podia ler, riscada com um objecto cortante, a palavra “Tibete”; porque a rapariga de um café que frequento ontem se me apresentou com uma blusa linda que ostentava a palavra “Tibete”, onde por baixo desta podia ler “Deixem-me em paz!”.
Portanto, a palavra “Tibete” persegue-me. Ela e o seu sentimento".
Voltará?
Epitáfio
Ninguém é mais escravo e sem esperança
do que aqueles que falsamente acreditam serem livres
Johann Wolfgang von Goethe
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
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2 comentários:
Caro António José Borges, Lá irá pois já Lá está! E Lá é na verdade, como já lhe disse, Lha, de Lhasa, a capital do Tibete, que em tibetano quer dizer "divino": Lha-sa é a "terra dos deuses".
Claro que porventura ir Lá é apenas um passo para descobrir o Tibete interior, equivalente da Índia que não vem dos mapas de que falou o Pessoa, mas por vezes é necessária a viagem exterior para nela e por ela fazer a interior.
O Tibete tem muitas afinidades com Portugal, incluindo o mito de Guesar de Ling, um rei-herói encoberto análogo ao nosso D.Sebastião. Na minha leitura são ambos personificações da Realeza da nossa mente-coração desperta. Deixar que em nós se desencubram é o que mais importa.
Caro Paulo Borges, grato pela informação mitológica que eu desconhecia.
Concordo que "por vezes é necessária a viagem exterior para nela e por ela fazer a interior". Assim se passou com o meu livro mais recente e se passa com o que aí vem.
Pessoa disse que, e curiosamente li esta frase primeiro em Alemão, quando me ofereceram um livro bilíngue sobre Goethe e Pessoa, que "se o coração pudesse pensar estaria quieto".
Acho que a frase é genial, mas leva-me a reflectir na questão dual da mente-coração.
Qual é a sua opinião?
Um abraço.
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