E por essa razao que acho que um sistema social e governo correspondente no qual os valores que definem "superioridade" e "aptidao para governar" estao baseados na bravura guerreira ou no saber intelectual seriam a pior forma possivel de governacao para os nossos tempos.
A bravura guerreira aproxima o Homem do animal naquilo que ha de mais visceral e instintivo. Dessa forma, rebaixa-o. Quem queria ser governado por uma casta de clones do Gengis Khan?
A intelectualidade no mundo Ocidental vem com muita frequencia acompanhada de psicopatologias e disturbios da personalidade dos mais diversos. E mesmo dificil definir se, na nossa cultura, alguem se torna intelectual devido a um dom intrinseco ou a uma falta organica que lhe impede viver a vida plenamente. Para que passar o dia inteiro de nariz enfiado nos livros ou a tentar "disciplinar" a mente alheia com as proprias ideias quando temos um mundo tao belo para usufruir?
Lembrem-se, meus amigos, de personalidades como Nietsche, Sartre, Heidegger, Hanna Arendt. Lembrem-se de grandes poetas como Mario de Sa Carneiro, Fernando Pessoa. Grande parte dos cientistas. Todos eles pessoas com problemas emocionais e psicologicos graves, muito graves.
Provavelmente a sua obra e resultado da sua propria incapacidade de se relacionar com os outros e consigo mesmos de forma saudavel. Sao muito interessantes de se ler, com certeza, mas quem queria para lideres, para legisladores da nossa sociabilidade, pessoas com problemas serios de comunicacao com outros seres humanos? Muitos deles recorrendo a complexos de superioridade para compensarem sentimentos de inferioridade bem profundos e mal assumidos?
Alguem quereria ser governado pelo complexo de inferioridade social que alimentou a obra de Pierre Bourdieu? Pela esquizofrenia de um John Nash? Pela irrascibilidade e violencia de um Albert Einstein? Pela depressao de um Machado de Assis? Pelo cinismo de um Eca de Queiros? Pela petulancia de uma Natalia Correia (uma das minhas poetisas preferidas, mas tenho a lucidez de reconhecer os meus muitos e graves problemas)?
E os "grandes lideres carismaticos" que tiveram como unico farol a revolta de um grupo social e a sua propria vontade de poder? Nao falo de Martin Luther King ou Ghandi, lideres que orientaram a sua accao por principios transcendentes e qu e nao atribuiam nenhuma superioridade intrinseca ao grupo que representavam. Falo de Lenine, de Estaline, de Hitler, de Salazar, de Fidel Castro, de Marcelo Caetano, de Margaret Thatcher.
Sim tudo bem, temos de aturar a incompetencia, o servilismo e o narcisismo de um Jose Socrates, de um Durao Barroso, de um Sarkozy, de um Berlusconi e de uma Angela Merkel, mas muito sinceramente, nao sei o que sera pior. Tudo bem, sei que estes governantes (sic) dariam aulas pessimas e escreveriam livros ainda mais insuportaveis, mas entre os seus defeitos e os das personalidades ilustres acima nomeadas, venha o diabo e escolha ...
Agora uma questao para os nossos estimados leitores e colaboradores sobre o tema da dignidade. Diz o Renato Epifanio que, mesmo que os seres humanos sejam desiguais em qualidades, sejam elas intrinsecas ou o resultado de uma degradacao provocada pela violencia sistemica (e em grande parte perpetrada por pessoas que se julgam superiores), sao iguais em dignidade, que se perde quando olham de cima aqueles que lhes sao supostamente "superiores".
Tendo em conta a relatividade de tudo o que define uma suposta "superioridade" e "inferioridade", isto para nao falar que todos os seres humanos, sem excepcao, sao portadores de defeitos significativos, gostaria que dessem a vossa opiniao sincera sobre o seguinte:
Quem ou o que neste universo caotico e ilusorio tem a autoridade de definir o que faz um ser humano superior ou inferior a outrem? Com que criterios?
E olhar de igual para igual aqueles que se julgam superiores? E uma forma de se perder a dignidade?
E olhar de cima, com pena, aqueles que se julgavam superiores mas cujos actos mostram que deixaram de pertencer, ou nunca pertenceram, as aristocracias que julgam representar?
Ou os que nao suportam encarar a sua propria fragilidade humana, por nao se sentirem em casa entre os da sua especie, talvez por temerem um confronto de forcas com os seus iguais (sim, iguais) a um nivel mais profundo, mais animico?
E por isso que a unica aristocracia que reconheco e de matriz moral e etica. Mesmo assim, tenho a humildade de reconhecer que as proprias nocoes de "moral" e "etica" sao construcoes humanas, relativas e impermanentes, que facilmente de desfazem se nao estiverem ancoradas em principios transcendentes capazes de descontruir qualquer suposta "virtude" ou "superioridade" do ser humano ou grupo social isolado.
Pois nem o Dalai Lama e perfeito e muito menos o Papa, ou os Patriarcas Ortodoxos, ou as Ialorixas, ou o Arcebispo de Cantuaria, ou seja la que autoridade espiritual for. Sao seres humanos e por isso faliveis e mortais. Como todos nos.
E olhar de igual para igual aqueles que se julgam superiores? E uma forma de se perder a dignidade?
E olhar de cima, com pena, aqueles que se julgavam superiores mas cujos actos mostram que deixaram de pertencer, ou nunca pertenceram, as aristocracias que julgam representar?
Ou os que nao suportam encarar a sua propria fragilidade humana, por nao se sentirem em casa entre os da sua especie, talvez por temerem um confronto de forcas com os seus iguais (sim, iguais) a um nivel mais profundo, mais animico?
E por isso que a unica aristocracia que reconheco e de matriz moral e etica. Mesmo assim, tenho a humildade de reconhecer que as proprias nocoes de "moral" e "etica" sao construcoes humanas, relativas e impermanentes, que facilmente de desfazem se nao estiverem ancoradas em principios transcendentes capazes de descontruir qualquer suposta "virtude" ou "superioridade" do ser humano ou grupo social isolado.
Pois nem o Dalai Lama e perfeito e muito menos o Papa, ou os Patriarcas Ortodoxos, ou as Ialorixas, ou o Arcebispo de Cantuaria, ou seja la que autoridade espiritual for. Sao seres humanos e por isso faliveis e mortais. Como todos nos.
8 comentários:
Ana
1. Já conheço bem o teu discurso anti-elitista. Eu não sou anti-elitista. Ao contrário, penso que uma sociedade sem elites é que está condenada à decadência...
2. Também não te acompanho nesse discurso psicanalítico sobre os filósofos, poetas e cientistas que nomeaste. Precisamente, porque acho que o discurso psicanalítico só se aplica ao vulgo. Fora disso, é um discurso terrorista...
3. Decerto, também só reconheço a "aristocracia cultural e ética". Como já aqui disse, sou contra qualquer discriminação em função: do sexo, raça, hereditariedade, etc. Quanto a isso, recordo que o Dalai-Lama assume-se (e/ou é reconhecido) como a reencarnação do Buda. Acho que, para a tua perspectiva, é um mau exemplo...
4. Dizes-me que, em última instância, todos os critérios de diferenciação são relativos, humanos, falíveis, impermanentes, etc. Pois bem: és capaz de me dizer que, em última instância, o Quim Barreiros é igual ao Bach? Olha a coerência...
5. Eu digo, rotundamente, que não, e não preciso de me ancorar em nenhum princípio transcendente...
Eu tambem nao sou exactamente anti-elitista. So nao concordo com os criterios que tem sido utilizados para criar elites ao longo da nossa historia.
Acho que uma sociedade em que as elites estao demasiadamente certas da sua posicao de elites e por isso se dao ao luxo de olhar os outros de cima e de impedir a entrada nos seus circulos de outras pessoas e outras ideias de valor e que esta fadada a decadencia e daquelas bem rapidas e caricatas.
Achas que o discurso psicanalista so se aplica ao vulgo. Entao essas pessoas sao o que, membros de outra especie? Pelo contrario, acho que sao legitimos representantes da Humanidade e de muitas das deformacoes que a atinge. Tiveram ideias interessantes e escreveram livros que nos faem pensar. Apenas isso. De resto, nao foram de forma nenhuma superiores aos outros seres humanos.
Eu nao reconheco o Dalai Lama como reencarnacao do Buda, pois nao sou Budista. Isso mostra como esses criterios sao relativos. Ele pode se-lo para os Budistas, mas para os outros nao e.
Eu acho que o Bach e um musico muitissimo superior ao Quim Barreiros mas esta e a minha opiniao pessoal, baseada na educacao que tive, nos meios em que me movo e nas pressoes sociais que me rodeiam, No entanto, se fores a muitas aldeias pelo pais fora e disseres isso, podes ter a certeza que se vao rir na tua cara, como o fariam a mim se eu dissesse a mesma coisa. Quem somos nos para os julgar? Com que direito? E que direito tem essas pessoas tambem de se rir na nossa cara?
O Bach pode ser superior como musico ao Quim Barreiros para nos mas nao e para outras pessoas. E dai?
Sim, tu nao precisas de te ancorar a nenhum principio transcendente. Mas tu e tu e os outros sao os outros.
Ana
Ainda sobre a diferença Quim Barreiros - Bach...
1. Decerto, é apenas uma diferença humana, ou baseada num cânone cultural e histórico.
2. Mas, ainda assim, eu defenderei, perante quem quer que seja, que "o Bach é artisticamente superior ao Quim Barreiros".
3. Há gente que se rirá na minha cara? Nada que me apoquente...
Nem a mi, que concordo plenamente com os teus tres pontos.
E ja se riram na minha cara por eu preferir, de longe, o Bach ao Quim Barreiros.
Olha eu aqui metendo o bedelho.
mas o que seria da humanidade não fossem as elites!
Pobre povo, que não as tenha!
A hirarquia é uma elite e certamente para os Stalinistas e nuanças de aí derivadas passando por cima às vezes até de Marx...
Embora, a este, grande valor não se possa acrescentar, exceto talvez ao que se desconhece e esteja até encobreto, mas cumpre-o muito bem, no que seria o que eu chamo de filosofia da minhoca, pela sacudida e mexida que dá no povo mais rude, chamando-o para reclamar dos seu supostos direitos.
Mas naturalmente que há direitos demais, por aí, sem nenhum dever.
E sem dever não há Descobrimentos,
mas haverá com está havendo a deturpação dos feitos reais.
Ana, não li o artigo na integra ainda uma vez que quis fazer já uma pequena chamada de atenção antes que me esqueça (o que acontece frequentemente) depois de ter terminado o artigo.
O Ghandi defendia (ou pelo menos compactuava) com o regime sul-africano do Apartheid... há certas coisas que a História oficial cala.
Creio que a música de Bach e a de Quim Barreiros são perfeitamente idênticas, no plano absoluto, na medida em que ambas nada mais são do que som e percepção acústica. No plano relativo da minha cultura perceptiva, claro que prefiro a primeira à segunda, mas não posso fazer disso o fundamento de um juízo de valor objectivo sobre ambas. O mesmo se aplica a todos os fenómenos. Este é um exemplo muito simples do que chamo vacuidade: nada existe ou tem valor em si e por si, fora de infinitas relações de interdependência com tudo o mais e com a nossa percepção. Ver as coisas assim é uma libertação de mil e um obscurecimentos conceptuais e emocionais.
Como expressei em comentário a outro post, todos os seres são na essência iguais, em termos da sua natureza primordial e fim último, mas na existência desiguais, pois encontram-se em níveis diferentes de realização dessa natureza primordial e fim último. Dizer, sem mais, que todos são iguais, porque todos são seres humanos e imperfeitos, etc., é nivelar tudo por baixo, ou seja, pelo nosso nível, e uma manifestação de orgulho, tanto mais injustificável quanto é o orgulho da nossa própria inferioridade, não reconhecida. Neste sentido, estou de acordo com a subtil observação do Renato de que, cito de memória, perdemos a dignidade e decaímos quando olhamos de cima (ou mesmo de igual para igual) para os que nos são superiores (no plano relativo, acrescento).
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