
Há uns dias publiquei aqui uma diatribe contra ti. Numa entrevista à revista Ler, o António Barahona dizia que uma página dos “Discursos” do Salazar valia mais, estilisticamente, do que toda a tua obra. Não resisti a publicar…
Não que concorde em absoluto com ele. Nenhuma página, aliás, de algum autor “valerá mais” do que toda a obra de um outro…
Devo até dizer-te que tenho respeito por ti. Um tipo que “veio do nada”, de um meio muito pobre, sem livros no berço, e que se tornou, por mérito próprio, num Autor. Poderás, de facto, não tratar muito bem a língua, mas é inegável que tens um estilo próprio. E uma Obra, pelo menos em quantidade...
O que não suporto, contudo, é a tua presunção – sobretudo, desde que ganhaste o Nobel. O primeiro Nobel português de Literatura, num século em que houve Pessoa e Pascoaes, só para referir dois Autores infinitamente maiores do que tu…
Mas os “Nóbeis”, já se sabe, são dados por muitas razões extra-literárias. E tudo sempre foste muito hábil a gerir essas razões…
Conseguiste até, depois de uma brilhante encenação, e com a prestimosa ajuda do então Sub-Secretário de Estado da Cultura, Sousa Laura, teres-te tornado no “Salman Rushdie português” – sei que tiveste pena que ninguém te tivesse condenado à morte, mas, ainda assim, “foste forçado a exilar-te” para Lanzarote…
E, claro, sempre clamando pela “liberdade de expressão” – aquela mesma que tu negaste, sem qualquer peso na consciência, quando foste Director-Adjunto do Diário de Notícias depois da Revolução…
O teu irmão-gémeo, o Lobo Antunes, nesse aspecto, tem muito a aprender contigo. No outro dia, li no jornal, fez o lançamento, no Cinema S. Jorge (em Lisboa), do seu último livro. Sala quase vazia. Fosse ele militante de um partido…
Ah!, e o teu fervor castelhano-iberista. Disso é melhor nem falarmos…
Saudações patrióticas
5 comentários:
Isto tudo dito assim de uma forma tão clara e acertadamente, é de lamentar não sobrar mais o que dizer com esse jeito bem feito de o dizer...
Embora não sendo também eu especialista na língua,
mas sem escarnecer dá vontade de rir.
Naturalmente, por também se perceber em seu comunismo e ateísmo, uma grande vontade de ser um deus.
Fosse ao menos um homem modesto!
bem... eu admito que gosto das obras de Saragamo, especialmente aquelas antes do Evangelho, que de facto é uam estopada impossível de ler.
Não aprecio também as suas últimas obras e muito me irrita o seu "iberismo" (confunde-o com castelhanismo) e a sua deserção para as Canárias.
E o Ego... Tão dilatado agora na "Fundação Saragamo."
Humpf.
E sim, quantos bons escritores há mais por aí, que não merecem o foco dos media, apenas porque não têm nenhum lobby a torcer por eles?
"cegueira" ou "elefantite"?
Sou de opinião que Saramago é um artista das letras. As questões periféricas ou comparativas são apenas o sal que tempera a arte.
Abraço MIL
E para acrescentar: a realidade da interferência do poder no reconhecimento da arte, é um facto. Mas a arte "de facto" é outra coisa. Ambas as realidades podem coexistir.
À partida, todo o ser humano é um artista, porque é um potencial criador. À chegada... é a sociedade que "mata" ou dá vida a esse potêncial, no sentido da obtenção social de visibilidade.
Mas, será que o que não obtém visibilidade deixa de existir?
O ser humano, em geral, procura o reconhecimento, daí muitos equívocos e insatisfações.
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