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João Adalberto Monteiro
Lemos outro dia que o fim do trema foi decretado desde o fim do ano passado. A afirmação é apenas uma meia-verdade. Em outras palavras, não só chegamos a tanto como retrocedemos no tempo. E acrescentamos que desde 1990 os países que falam o português (Brasil, Portugal, Angola, Moçambique e Guiné-Bissau) já o tinham revogado ao assinarem o acordo prevendo a simplificação e unificação ortográfica da língua. E muito antes disso, decerto, a práxis e o Brasil inteiro já o tinham feito.
Prossigamos. Lemos e achamos igualmente interessante a metáfora empregada pelo referido articulista, em artigo publicado simultaneamente em vários jornais do País, ao referir-se ao trema. Aliás, interessante, e insinuante. Escreveu ele, os dois pontos que ficam em cima da letra u sobrevivem no corredor da morte à espera de seus algozes. Enquanto isso, eles continuam fazendo, dos desatentos, suas vítimas, as quais se esquecem de colocá-los em palavras como freqüente e lingüiça. E, assim, perdem pontos em provas, concursos públicos e vestibulares.
Novamente, o trecho apenas uma meia-verdade. Para nós, que somos de uma geração muito anterior ao computador, ele, o trema, nunca existiu.
Explicitemos-nos. Não nos lembramos, voltando aos nossos tempos de Ginasium, Escola de Contabilidade e Faculdades (Estudos Sociais, Contabilidade e Direito), de uma só aula sobre o trema; ao contrário. O que paira sobre nossas cabeças é a nuvem branca do abandono e esquecimento. E nada mais, absolutamente nada! Nem uma só aula sobre os dois pontinhos! Sequer uma aulinha (uma só aulinha que fosse!) em que o professor de Língua Portuguesa tivesse se dedicado ao trema, ou feito uma pausa para o estudo dos tais pontinhos!...
Continuemos. Durante os nossos mais de trinta e um anos de magistério, passamos também velozes e fugazes pelo trema. Não nos lembramos, ao quadro-verde (contrapondo-se a alguns poucos negros em extinção, porque, diz a Pedagogia, o negro seria simbolicamente negativo), giz em punho, de uma só vez de seu uso em sala de aula. Também na área do Direito passamos incólume pelo dito cujo. Não nos recordamos, em mais de vinte e cinco anos de advocacia, em nossas petições, razões e contra-razões, isto é, contrarrazões [segundo a Reforma Ortográfica, o prefixo (neste caso, contra), cuja terminação seja vogal, e antes de r e s do elemento seguinte, deve ser a consoante (som incompleto) duplicada], de seu emprego.
Por último, o fantasma, que não havia falecido, embora já o considerássemos erroneamente, voltou a nos assombrar... Simplesmente, eis que o fantasma da ópera, o boneco do museu de cera (se quiserem), moveu-se. E adentrou de novo em nossas mentes... Sim, ele, o trema! Ei-lo! Em carne e osso!... Eis os tais dois pontinhos!... O computador simplesmente o restaurara (ou o ressuscitara?), sem mais nem menos, sem que nos preparássemos nem déssemos conta dele, para nosso tormento.
Agora, ponderemos. De que vale o trema em vocábulos como freqüente ou lingüiça (apenas para citar dois dos exemplos mais comuns) se ninguém lhe dá a menor importância? E que só aparece em cima do u porque o computador, programado, coloca-os lá, como dois olhinhos a nos espreitar, a nos desafiar, a nos conclamar ao erro. Afinal, há quantos séculos, na linguagem culta ou popular fala-se, pronunciando-se o u dessas palavras mas escreve-se sem o trema? E lê-se, contrariamente, pronunciando-se o u, como se ele não existisse?
Ao grande Antônio Houaiss, filólogo, dicionarista, autor do então projeto de unificação ortográfica, aliás, o maior entre todos da comissão de brasileiros e portugueses (Um árabe, um mouro, quem diria! A quem os lusitanos, em cruzadas, combatiam, no passado, a ferro e fogo!)¹, só coube sancionar a praxe do dia-a-dia.
Dom Sebastião, rei de Portugal, e a sua cruzada, foram destruídos em 1578, na fortaleza de Alcácer-Quibir, África, pelos mouros.
Novembro de 2008
JAM
Fonte: http://www.ilustrado.com.br/noticias.php?edi=141208&id=00000036
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