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"então, o povo português achou que digno de imperar no Espírito Santo (quer dizer, de ser o Rei, a figura principal do império futuro, da idade futura do mundo), era a criança. Com a sua imaginação, a sua alegria, a sua capacidade de perguntar, todas essas coisas."
Nestas frases Agostinho desenha aquela visão que tem da sociedade do futuro: uma sociedade assente na imaginação, na alegria e numa constante e permanente capacidade para tudo questionar e de eternamente buscar as razões das coisas. Em vez de "fazer", de contabilizar as toneladas de aço ou o número de barris de petróleo fabricados ou exportados, as sociedades do futuro devem orientar-se para o mais livre e pleno exercício da imaginação de que o Homem pode ser capaz. Em vez de imensas hostes de fabricadores-consumidores que vegetam vidas inteiras em autênticas colmeias e com cada vez menos direitos e tempo para si próprios, Agostinho antevê nestas sociedades do futuro, prefiguradas pelas celebrações do "Império do Espirito Santo" um novo tipo de recentramento, mais humanista e livre do que qualquer sociedade do passado ou do presente.
Estas novas sociedades, fruto de uma visão joaquimita e providencialista do Futuro que busca muita da sua inspiração em António Vieira, são sociedades orientadas para a produção de bens culturais e não para a produção de bens, materiais e serviços, como o são aquelas que hoje conhecemos. O professor não despreza contudo os bens materiais, pelo menos não aqueles que são essenciais à satisfação das mais básicas necessidades humanas. Bastas vezes, alude à necessidade imperativa de primeiro nutrir o corpo, vestir o nu e descansar a alma, para que, só depois, possa o Homem dar espaço ao desenvolvimento do seu poder criativo, entorpecido ou esquecido se o corpo passa fome e produtivo na sua máxima capacidade se está, pelo contrário, satisfeito.
A criatividade e a imaginação humanas, os dois pontos centrais desta visão agostiniana da sociedade dos tempos vindouros, são aplicadas não somente no campo da produção cultural, mas também nos domínios da investigação científica, da engenharia, da concepção de novos modelos de organização e de pensamento. A criatividade, a inventividade e o poder de improviso, essencial num mundo onde tudo muda tão depressa, são assim também aplicadas a todas as áreas do conhecimento e do trabalho humano. Em vez de fazer assim, "porque sempre se fez assim", Agostinho preferia sociedades que questionassem internamente todos os seus processos, na satisfação de um eterno ciclo de melhoria contínua, aumento sempre a eficácia dos processos produtivos, pela sua mecanização e automatismo crescentes e libertando assim cada vez mais os homens das tarefas repetitivas e desumanizantes que estes cumprem nas fábricas e campos do mundo desde os alvores da História.
"o ideal do povo português é que, um dia, nós possamos comer sem ser obrigados a apresentar a cedulazinha que garante que nos trabalhamos."
No tipo de sociedade e economia que o Professor antevê não poderá jamais haver "trabalho" para todos. Pelo menos não o conceito de "trabalho" sob o conceito que atualmente temos dele e que é bem compatível com a origem latina ("tripalium" - instrumento de tortura) do mesmo... Numa economia onde o essencial das tarefas produtivas serão entregues a robots, a complexos e autónomos sistemas de informação e a processos cada vez mais automatizados. Neste futuro, a maioria dos Homens estarão livres para outras tarefas mais humanas e criativas. É assim impossível que todos recolham uma remuneração de fábricas e de serviços que - no essencial - serão automáticos. Um outro tipo de organização social, menos fundada sobre o "dinheiro" e sobre o "trabalho físico e manual" terá assim que ser encontrada... Agostinho da Silva advoga em vários dos seus textos a possibilidade de "sociedades livres", sem a satisfação do desejo egótico pela "propriedade privada" que marca o aspecto essencial das sociedades pós-modernas da atualidade. Não defende a "propriedade coletiva" que tão maus e nefastos frutos deu nas experiências comunistas e "socialistas" do século XX. Pelo contrário, prefere o conceito de "propriedade comunal" da Idade Média portuguesa ou o de "não propriedade". Numa sociedade em que "nossas" seriam apenas as coisas que nos eram imediatamente mais próximas, como a roupa e uma habitação, tudo o mais seria gratuito e a ficção do dinheiro e da eterna e fátua necessidade deste seria desfeita. Se precisássemos de transporte, tomá-lo-ía-mos. Se precisássemos de um livro, busca-lo-ía-mos numa biblioteca ou livraria (tornada neste modelo, numa espécie de biblioteca de bairro), se precisássemos de alimentos, ou os buscávamos na nossa horta, plantada com gosto e prazer, ou a procurávamos no mercado automatizado ou provido apenas daqueles vendedores que retirassem prazer do contato humano e da atividade mercantil característica do festivo "espírito de feira" da nossa medievalidade.
"e o que é a Ilha dos Amores? É o império do Espirito Santo entre os homens. É não perder nenhuma das características de ser homem e ganhar todas as que se atribuem a Deus. Porque os homens ali, como se vê pelo seu comportamento com as ninfas, são plenamente homens, comem e bebem no banquete, mas depois estão fora do Tempo e fora do Espaço, como está Deus."
Essa é a grande diferença desta sociedade do futuro, antevista aqui a partir do sonho camoniano da "Ilha dos Amores": uma sociedade que realiza as capacidades potenciais do Homem e que acende a fagulha divina que arde na sua alma. Esta visão é diametralmente oposta às sociedades atuais onde essa centelha do divino, criadora como aquela manifestada pelos deus demiurgos do passado, se manifesta de forma sempre reprimida e intensamente desumanizante. Os Homens (marinheiros em Camões, porque são estes aqueles que viajam para o Futuro) cumprem assim a sua potência divina, e isto porque realizam nesta nova sociedade, regida não pelo império da Pimenta ou pelo ferro dos canhões, mas pela transcendência do Amor e pela alquimia dos corpos, a sua divina potência e assim de Homens se transformam em Deuses: livres, plenos e criadores.
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5 comentários:
Este mundo possível pode-se ir actualizando na vida dos indivíduos e de pequenas comunidades, mas, para que abranja dimensões sociais mais amplas, tem de haver uma derrocada total dos paradigmas de pensamento, das práticas e das instituições actuais, o que é bastante provável que aconteça, não por opção, mas por necessária e acelerada erosão interna, agravada pela crise ecológica. Todavia, o que temo como mais provável, na sequência disso, é uma barbárie ainda mais agravada do que aquela em que vivemos ou a subordinação do mundo a uma nova ordem totalitária, porventura vinda de longe... O mundo possível de Agostinho, derradeiro avatar das idades de ouro, do paraíso terreal e dos reinos messiânicos, também libertários e laicizados, não é por(des)ventura instaurável no mundo imediato que temos, o mundo da percepção histórica dos eventos. O que não quer dizer que, retirando dessa esfera a expectativa e o empenho, eles não se devam investir, reforçados, nas nossas vidas pessoais e nas pequenas comunidades alternativas que podermos constituir. Reencontro hoje cada vez mais a ideia agostiniana dos Impérios de irmãos-servidores, convicto de que vamos entrar numa nova Idade Média, em termos formais, onde a cultura e a chama do espírito terão de ser preservados em novas comunidades de tipo monástico, laicas, religiosas ou inter-religiosas e inseridas ou não no mundo. No fundo, foi sempre a partir dessas comunidades que as nações foram buscar a energia que investiram na conquista do mundo exterior, como aconteceu com o Portugal dos Descobrimentos. Percebi isso numa intuição súbita, ao visitar recentemente o mosteiro de Alcobaça. A força plasmadora do mundo histórico-político e económico moderno foi a que irrompeu, centrifugamente, dos séculos de contenção contemplativa nos mosteiros ocidentais. Hoje essa força está a chegar ao limiar do seu esgotamento e, quando isso acontece, já só resta a vontade de... ter vontade, como viu Heidegger... ou, direi eu, a recuperação da distância face ao mundo, o recolhimento da consciência, mesmo que seja no interior do próprio mundo, para que a lucidez se mantenha e com ela uma atenção fundamental às entranhas fontais da vida, uma disponibilidade para o Novo que nas grandes crises sempre emerge. Assim o consigamos!
é preciso começar pelos alicerces, para construir um edifício sólido. Para que não tenha essa derrocada que agora estamos a presenciar... sim, porque esta não é uma crise como a outras, é uma crise de um sistema que diziam que tinha vencido as crises e onde a ciência económica alcançara já o grau de mestria bastante para travar futuras recessões.
Pois! Está-se a ver!
A barbárie está aí... chamo bárbaros aqueles que não são civilizados (no bom sentido grego do termo), isto é, aqueles que levam os valores do Poder e do Dinheiro acima de todos os demais. Ontem e hoje, eles manipulam os media com a sua influência e poder, enriquecendo com as multinacionais deslocalizantes.
O ser humano, contudo, persiste debaixo desta camada de opressão. Acredito que quando a pressão fôr demasiada as capas cairão e as pessoas sairão à rua. O que se passa hoje na Grécia deve ser seguido, porque sendo o berço da Europa (e do Mediterrâneo, onde nos ligamos muito mais) pode propagar-se rapidamente ao resto do continente...
Num mundo apocalíptico (que não está hoje mais longe devido ao fim da Guerra Fria, como se crê), num mundo de um colapso económico generalizado, provocado pela atual recessão ou pela passagem (inevitável) do petróleo da barreira dos 200 dólares por barril, essas comunidades, locais, rurais e autónomas serão os últimos baluartes de humanidade no mundo. Serão essas as comunidades monásticas a que te referes, retiro no sentido em que se retiram da confusão do mundo e criam aqui novas oportunidades...
Hum... Eu recomendaria a leitura do:
http://www.wsu.edu:8080/~brians/science_fiction/canticle.html
que faz parte da dita "literatura de entretenimento", mas que é muito legível e até relevante neste contexto...
Não esqueçamos que "ser", em português e castelhano, vem de "sedere", estar sentado, em repouso. Porventura uma ponte também para o Oriente. Vários autores já têm notado as afinidades da cultura ibérica com a oriental.
e aliás, não é toa que foram os jesuítas portugueses os primeiros a chegar ao Tibete, nem que hoje ainda há palavras portuguesas na língua japonesa...
"Bastas vezes, alude à necessidade imperativa de primeiro nutrir o corpo, vestir o nu e descansar a alma, para que, só depois, possa o Homem dar espaço ao desenvolvimento do seu poder criativo, entorpecido ou esquecido se o corpo passa fome e produtivo na sua máxima capacidade se está, pelo contrário, satisfeito".
Acho que o problema do momento reside extamente aqui: Onde há fome, quem se importa com ética, moral, meio ambiente, amanhã, etc.?
E o povo, massa de manobras, vai correndo onde canta o galo e distribuem esmolas.
Creio e concordo que é necessário uma volta às "cavernas" do espírito, por aí só se internarem os idealistas que venceram as barreiras do mais feroz egoísmo.
Todavia, eu creio ainda numa outra força: as crianças, que revelam valores quase imutáveis, que os adultos não conseguirão abafar.
E naturalmente a confiança nas previsões dos grandes mestres da humanidade, que alertaram para o caos, do momento, acertando, mas também acenando com a bandeira branca do futuro, que esperamos tenham também acertado.
A nós, cabe fazer o que já vimos fazendo; e esta iniciativa da Nova Águia foi uma sacada genial, pelos rumos que vai tomando.
Enfim, há esperança e terras produtivas no espaço lusófono, há povo já bastante miscigenado,há valores já conquistados, devido a forma como foram desenvolvidos: Portugal, não tem nas costas Crimes nem carnificinas que lhe pesem carmicamente, e suas antigas possessões estão habitadas por povos diferentes e pacíficos (até de mais) caso do Brasil, ora correndo à esquerda numa onda demagógica tão perigosa, quanto quanto qualquer revolução armada, pois esta corrói o valor pátrio e moral, em troca de uma esmola.
Mas passa.
"Reencontro hoje cada vez mais a ideia agostiniana dos Impérios de irmãos-servidores, convicto de que vamos entrar numa nova Idade Média, em termos formais, onde a cultura e a chama do espírito terão de ser preservados em novas comunidades de tipo monástico, laicas, religiosas ou inter-religiosas e inseridas ou não no mundo. No fundo, foi sempre a partir dessas comunidades que as nações foram buscar a energia que investiram na conquista do mundo exterior, como aconteceu com o Portugal dos Descobrimentos. Percebi isso numa intuição súbita, ao visitar recentemente o mosteiro de Alcobaça. A força plasmadora do mundo histórico..."
A mim soa-me claríssima, essa ideia.
E até me permito sonhar ao relembrar a idade das tervas, que julgo por obra e graça de uma santa inquisição, que devorou os espíritos luminosos em nome do seu maldito dogma.
Mas como também combatia a reencarnação, não se deu conta de que a renascença pudesse ser a volta dessas almas, desses gênios que antes matou...
Bem, não custa nada imaginar, pois sem imaginação não se cria.
Anda falando por mim, creio também na instituição oculta, monástica, onde são plasmados os ideais civilizadores da humanidade, cujo lema, como o fundador de uma dessas instituições teve ocasião de dizer: "não se serve a Deus, senão servindo a Humanidade".
E os valores da antiga Ordem de Mariz, que tivera com escudo a de Aviz e a de Cristo, cujas marcas ostentaram as caravelas,
medram hoje em outra São Lourenço, em Minas Gerais, não substituindo a São Lourenço de Anciães, de aí, mas expandida em Itaparica e Roncador, onde acredito estão sendo plasmados não só os valores do Quinto Império, mas também os da Qintissência Divia, que nada mais é senão o mental abstrato, que está sendo trabalhado como o desdobramento da razão.
E não seria justo, isto?
Que fez Portugal, indo onde foi no sentido Oriente Ocidente, com suas culturas? E até as raças negra, amarela e branca, às quais ansejou e promoveu se misturassem, à luz dos Ideais do nosso JHS, sim, Infante Henrique de Sagres e verdadeiro Plasmador do Império do Espírito Santo?
A missão desses homens me orgulha muito, mormente por seus detratores não encontrarem argumentos, face as supostas riquezas roubadas pr nós não existirem.
Afinal, onde está a riqueza de Portugal, originária desses roubos, como afirmam e ensinam por aqui os esquerdopatas?
Há uns ranços de inveja que ainda precisam ser lavados, para que o projeto do Quinto Império e dos lusitanos do futuro se firme melhor, com raizes mais profundas, de modo que uma onda facciosamente política não mais abale.
Caros irmãos,
me desculpem o desabafo.
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