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"Quando o bravio Afonso IV herda seu Reino, é ele, fundamentalmente, um agregado de municípios republicanos e liberais" (...) "Havia decerto educação oficial e seriada, no cimo da qual estavam os estudos universitários, ainda incertos de rede e rumo; mas o que realmente criava cidadãos e homens de arte era a escola da experiência em serra, campo ou mar e o aprendizado dos misteres."
Será a este modelo de organização do território que devemos regressar. A um Portugal que no reinado de Dom Afonso V soube lançar as fundações para o processo de Descobrimentos e Expansão dos séculos seguintes. Foi da riqueza e do dinamismo municipalista que brotou o essencial da energia anímica que alimentaria o extraordinário vigor criativo e a dinâmica global da portugalidade no mundo. O pendor centralista e autoritário do ultracatólico Dom João III e, mais recentemente o pavor pelo "Outro" exposto na tacanha mentalidade de Salazar e mais recente no inculto e "contabilístico" cérebro de Cavaco Silva tentariam tudo para castrar este espirito libertário, republicano e liberal do municipalismo português... Mas a energia está ainda bem viva entre nós, ainda latente e pronta a ressurgir logo que os eurocratas de Bruxelas a libertem e os seus cães-de-fila que viajam as quintas-feiras no voos da TAP em Executiva os deixem de servir e passem a servir o Portugal que os elegeu e que lhe enche as gamelas douradas.
A restante parcela deste segmento de texto refere-se a um dos focos mais intensos da ação pedagógica do Professor, especialmente desenvolvida no Brasil, em Santa Catarina. A admiração e a defesa de um ensino "operativo" eminentemente prático, sobrepujando um ensino meramente académico, elitista e centrado sobre si mesmo, infelizmente tão comum nas academias universitárias. Em suma, Agostinho da Silva defende a prioridade de um ensino prático sobre um ensino abstrato. Advoga um ensino profissionalizante - na nossa interpretação - sobre um ensino teórico e académico, impossível de aplicar ou de fazer diretamente refletir na vida real... Não defende obviamente uma supressão do estudo das matérias mais especulativas e abstratas (ainda que identifique no português uma incapacidade inata para "filosofar"), mas estas matérias devem ser mais o foco de uma "vida conversável", de momentos de pensamento e especulação argumentativos presentes na vida de cada um e não espartilhado em programas de ensino denso e indigestos. Efetivamente, os atuais "programas de ensino", nada mais fazem do que repelir futuros cientistas e criadores das matérias que em crianças lhes são apresentadas como "obrigatórias" e logo, negativas... Porque nada que não seja livre e fruto puro do interesse e da vontade individual pode alguma vez ser percepcionado pelo indivíduo como algo de positivo.
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