Vêtu pour l'aspersion du sang nouveau - la lourde robe bleu de nuit, ruban de faille cramoisie, et la mante à longs plis à bout de doigts pesée.
Il a mangé le riz des morts ; dans leurs suaires de coton il s'est taillé droit d'usager. Mais sa parole est aux vivants ; ses mains aux vasques du futur.
Et sa parole nous est plus fraîche que l'eau neuve. Fraîcheur et gage de fraîcheur... "O vous que rafraîchit l'orage..."
(Et qui donc ne romprait, du talon ne romprait l'enchaînement du chant ?) Se hâter, se hâter! Parole de vivant!
Le Narrateur monte aux remparts dans la fraîcheur des ruines et gravats. La face peinte pour l'amour comme aux fêtes du vin... "Et vous avez si peu de temps pour naître à cet instant!"
Jadis, l'esprit du dieu se reflétait dans les foies d'aigles entrouverts, comme aux ouvrages de fer du forgeron, et la divinité de toutes parts assiégeait l'aube des vivants.
Divination par l'entraille et le souffle et la palpitation du souffle! Divination par l'eau du ciel et l'ordalie des fleuves...
Et de tels rites furent favorables. J'en userai. Faveur du dieu sur mon poème! Et qu'elle ne vienne à lui manquer!
"Favorisé du songe favorable" fut l'expression choisie pour exalter la condition du sage. Et le poète encore trouve recours dans son poème,
Reconnaissant pour excellente cette mantique du poème, et tout ce qu'un homme entend aux approches du soir;
Ou bien un homme s'approchant des grandes cérémonies majeures où l'on immole un cheval noir. - "Parler en maître, dit l'Ecoutant."
Saint-John Perse, Vents
O Paulo Feitais entreabriu a porta: "A lusofonia é pluri-linguística", disse-me esta tarde aqui.
Não preciso de mais: então esta é a voz de Saint-John Perse, poeta maior da lusofonia. Por ele fala a Terra, como por Pessoa fala o Mar. Na minha Pátria, o perene mistério nupcial.
Ah, e traduzam sim. Fareis do vosso falar linguagem de império claríssimo.
8 comentários:
Belíssimo texto! E na verdade a lusofonia pode ser considerada pluri-linguística, o que pode ser entendido sob o signo de Babel ou do seu antitipo: o Pentecostes.
Talvez porque os Lusitanos sejam miticamente os descendentes de Luso, companheiro ou irmão de Baco, que tem no nome a i-lusão dionisíaca, o jogo que da própria ilusão liberta por revelar que tudo a é, incluindo ela mesma.
Porque será que Camões assumiu Baco como o inimigo dos portugueses? Por oposição ou proximidade?
Desde logo, tem a imensa vantagem de me permitir dizer sem rebuço, em certos ambientes sociais, que sou devoto da água-de-Luso :)
Quanto ao Baco camoniano - oh Paulo, não quer falar-nos disso um pouco, aqui? No seu texto sobre o "Eros" deixa o leitor à espera de um outro, que não sei se existe (se sim, infelizmente não o conheço).
Aliás, a minha primeira perplexidade vem logo de início (no Conselho Celeste do Canto II): porque é que Apolo "tremeu, como infiado" diante do discurso de Marte? É curiosa uma observação do René Guénon (que será insuspeito de simpatia por certas concepções de exaltação do 'caos', por assim dizer) segundo a qual a oposição a que estamos habituados hoje (a de Baco/Apolo), tão explorada por Nietzsche, deve ser revista... surgindo Baco como o símbolo de uma 'ordenação secundária' coadjuvadora da Apolínea...
Mas na verdade, se formos por aqui - se Apolo, embora se não manifestando no Poema, for 'do campo de Baco' (a inversa será mais rigorosa) - o enigma seguinte é: que iria Proteu profetizar, quando foi calado? Que iria ele dizer da Ilha dos Amores e da 'usurpação', por Tethys, do lugar reservado a Thetis?
(Agora é que a Inquisição me vai cair em cima...)
PS. É claro que o 'pluri' pode ser identificado com Babel ou com o Pentecostes: o que acho bizarro é que isso possa ser indiferente...
Vá lá. Não foi a Inquisição, mas a sua irmã mais nova, a Ignorância.
Caro Casimiro, infelizmente não consigo tempo para lhe responder sobre os enigmas dos "Lusíadas", os quais na verdade me suscitam mais interrogações que certezas... Apenas esclareço que não considero Babel ou o Pentecostes indiferentes. E não tenho de facto outro texto sobre o Eros camoniano, apenas referências dispersas.
Naquela Ilha dos Amores
que sonhou Camões outrora
só entra e fica liberto
quem lá viva desde agora
- Agostinho da Silva, "Quadras Inéditas", p.72.
Caro Paulo, obrigado pela resposta. Eu tenho também apenas uma colecção de pequenos paradoxos e nenhuma resposta; e a intuição - devo dizer que pensei nisto tudo pela primeira vez a partir de uma leitura dos "Maniqueus" do A. Telmo - de que aqui está a chave de muita coisa.
Suponho que nisto não andaremos a par - nas conclusões, quero dizer, pois de resto o Paulo é reconhecida autoridade nisto e eu só posso fazer leituras de fim-de-semana - porque "contradição", "oposição" e "polaridade" parece-me significarem para nós coisas diferentes... E permanentemente tiraremos conclusões opostas dos mesmos dados.
Se eu puder, um dia destes deixo aqui uns tópicos; se não der para mais, pode ser que dê para uma conversa animada...
Eu acho que tudo está - a confusão toda está - no Conselho do Mar; e a chave está em atentar nas razões sempre mesquinhas de Vénus ("fazia-lhe lembrar" os romanos, e queria que os portugueses "descansassem" na Ilha": nada mais!). Se formos por aqui fora, as conclusões são paranóicas, mas curiosas (desde logo, o "Espirito Santo" associado a Baco, como aliás é normal num culto introduzido por Dyonisos-Rei... :)
É mais que um enigma: é "um ardil dentro de um ardil dentro de um ardil", como diz alguém no "Dune" do Frank Herbert... Mas não é isso que temos sido?
PS.
Eu disse mal, quando disse que Apolo "não se manifestava" no Poema; não se manifesta, mas é claro que é sob a sua Regência (poder-se-á dizer assim?) que o Poeta se coloca, uma vez que invoca as Musas. Ora, como as Musas, além de Apolo, se ligam a Baco... diria que é esse - tem de ser! - o "partido" de Camões.
PPS. Não conhecia o verso de Agostinho... Só Leonardo (curiosissimo do um certo e lusitanissimo ponto de vista, o nome "Leonardo Ribeiro"!...), de entre todos os nautas, o poderia subscrever, em meu entender. Os outros, não - incluindo o Gama!
Mas isto dito assim fica confuso. Paulo, havemos de conversar mais sobre isto.
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