A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Reflectindo a Crise

Oriunda do latim, o termo crise tem a mesma equivalência da palavra vento. Indica, assim, um estágio de alternância, no qual uma vez transcorrido diferencia-se do que costumava ser. Não existe possibilidade de retorno aos antigos padrões.
Reflectindo a Crise
Uma profunda CRISE está instalada em Portugal e no Mundo ocidentalizado. Esta crise global que afecta o Homem e a sua Natureza revelou o valor das “coisas” no planeta Bolsa, onde se brincou com a falácia da probabilidade, atribuindo valias fantasiosas a “não-coisas” controladas pelo vento da ganância.
Acordamos agora para a realidade. Um despertar forçado após anos de luta desigual, negociando em valores desumanizados, entregando à “ambição financeira” as rédeas do crescimento das sociedades e da evolução da Pólis.
Diz-se que os Gregos inventaram as cidades depois de se aperceberem que os humanos desenvolvem qualidades muito louváveis vivendo em comunidades pacíficas. Assim nasceram as Belas Artes, a Matemática, a Filosofia, a Política, o Teatro, a Literatura e até a Ciência.
Mas a Política tomou conta de tudo e decretou-se o crescimento económico de entidades privadas como solução dos problemas da comunidade e a gestão por objectivos como seu paradigma.
Evoluímos para um sistema mediacrático em que o poder é entregue a quem melhor saiba vender a sua imagem e onde a obra pública é oportunidade de negócio antes de ser benefício real para a comunidade.
Um sistema em que os nossas necessidades mais básicas são aproveitadas para discutir um “bom negócio” em que a venda/compra de bens/serviços irá beneficiar “alguém” que não o Estado e seus contribuintes.
A pequena corrupção já serve de desculpa para a eficiência ou falta dela. Vale tudo para atingir objectivos porque é assim que se faz nas grandes empresas multi-nacionais e os portugueses têm de ser geridos como empregados de José Sócrates e Companhia, Lda.
O modelo escolhido não é original, foi o mesmo que o antigo presidente da Reserva Federal norte-americana, Alan Greenspan. Aquele que reconheceu recentemente, numa audição no Congresso, que falhou na regulação do sistema financeiro. "Cometi um erro ao confiar que o livre mercado pode regular-se a si próprio sem a supervisão da administração", desculpa-se o homem que esteve 18 anos ao comando do dollar americano.
O que fazer? Mandamo-lo gozar a sua indemnização milionária para casa e proibimo-lo de jogar Monopólio com os amigos? E aos seus seguidores que ainda estragam isto tudo? Pontapé no traseiro?
Seremos todos empregados de uma administração democraticamente eleita que confia mais na iniciativa privada que nas suas próprias estruturas; fomos entregues aos bichos, aos “vampiros” de Zeca Afonso que para comer tudo mentem descaradamente, incutindo a falsa ideia que o bolo ainda chega para todos.
Vendedores e consumidores. As ambições dos Portugueses resumem-se a isto. Vendemo-nos como escravos ou idiólatras do Capital, consumindo como modo de vida e determinados a consumir tanto quanto o primo abastado. É o objectivo!
Casalinho a trabalhar num callcenter de gestão privada, subcontratação que o Estado chama emprego, ligados à máquina que regista a sua produção e eminente despedimento. Casalinho com quatro empréstimos ao Banco, filhos e cães para sustentar, dois carros para os levar ao emprego. Chega a Crise, é o vento que a transporta sabe-se lá de onde. O casalinho perde o trabalho por causa de uma conta mal feita no Planeta Bolsa. Quem os salva? Na Bolsa os bolsos estão todos vazios.
A crise dos valores bolsistas é, também e principalmente, uma crise de valores humanos. De certa forma, a sociedade de consumo exige que sejamos consumidores insaciáveis. A ambição infantil de desejar “todos os brinquedos da loja” tornou-se paradigma da actividade social e motor da supostamente messiânica economia de mercado.
Tornámo-nos gestores de objectivos vagos. Objectivo: Diploma e Emprego. Objectivo: Casar e representar uma novela da normalidade. Objectivo: Comprar casa para mais tarde comprar outra maior. Objectivo: Ser promovido e mudar de carro. De objectivo em objectivo sem cuidar das faculdades maiores do ser humano: Sabedoria, Bondade, Sensibilidade e Criatividade.
É sintomático que a Filosofia tenha sido atirada para a sarjeta do Ministério da Educação. Não interessa o que sabemos, mas o que conseguimos; a bondade é fraqueza e não coragem; a sensibilidade é desprezada e a criatividade sobrevive castrada de autonomia.
O que provoca a crise é a revelação do erro. Como escravos na Caverna de Platão que vêem, pela primeira vez, além do que lhes foi permitido até à data. Avistam todo o Mundo de uma vez e entram em depressão nervosa. Mais tarde os escravos exploram e preocupam-se com aquilo que está no espaço mais próximo. Como fizeram os primeiros humanóides nas planícies africanas. É automático e, em tempos de crise, o instinto animal reclama o seu lugar no córtex pré-frontal. Uma das razões que me leva a escrever sobre os engenheiros vendilhões do templo e não sobre a corrupção e liberdades do povo chinês.
A crise, em Portugal, é de valores porque o consumo passou a ter um valor real e os princípios morais desvalorizaram. As horas que passamos longe da família e do nosso habitat natural, trabalhando com o mitológico suor no rosto e goelas apertadas pelo nó britânico da seda Versace, cumprindo tarefas que não representam nada de verdadeiramente importante para o próprio ou sua comunidade. Vidas que não são lição para nenhum filho, nem honra a virtuoso antepassado. É apenas um objectivo atrás de outro, sem dar espaço para viver tudo o resto. O resultado desse trabalho é gasto em bens consumíveis ou voláteis; e por eles se negligencia os filhos e a tranquilidade familiar, prejudica a saúde mental e física, compromete a honestidade interior e exterior.
Pouco a pouco, o Tuga se foi transformando em ovelha ordeira e produtiva, peça imprescindível para que a máquina cresça e perdure no tempo, dilatando o fosso e disparidade retributiva entre os muito pobres e os disparatadamente ricos; dado crescente em Portugal já com 20 por cento da população em estado deplorável e a maior diferença entre ordenados mínimos e máximos.
O Poder achou que podia aproveitar os piores instintos humanos para fazer uma sociedade livre onde todos se poderiam tornar capitalistas. O mercado deveria regular-se sem interferência e valorizávamos apenas o sabor do vento, apostando sempre e apenas na brisa mais forte.
Bolas, não é isso que se quer de um Estado. Ao vento o que é do vento, como fantasias, promessas e castelos no ar. O Estado serve para produzir e fornecer aos seus patrões (eleitores) uma vida onde se possam realizar como indivíduos inteiros e de valor. Assim como os heróis de antigamente, sempre honestos e elegantes. Acredito que existem vários valores para além dos afectados crescimento económico. Haja liberdade, igualdade, fraternidade… Saúde, Educação, Justiça; como mudar isto sem políticos com experiência prática e académica nestas áreas. Acredita-se que os melhores sábios destas disciplinas respeitam valores que os impedem de entrar na Política — “A Grande Porca”, nas palavras do mestre Bordalo. Andam por aí, pelas tascas insultando Voltaire que “para cuidar do jardim” matou D. Quixote e casou com Sancho Pança.
Em Portugal, salvo rara excepção, são os bons vendedores se tornam ministros, secretários de Estado, administradores, gestores e assessores-de-porra-nenhuma, vulgo aspones. Sabem parecer confiantes quando apresentam gato por lebre e mentir com um falso esgar de preocupação na cara; são agressivos, enérgicos, autoritários e sorridentes. É o modelo do ser Humano bem sucedido, numa Era em que é necessário ter valores fictícios no bolso para dedicarmo-nos ao incomparável e gratuito sistema de valores intelectuais, emocionais e até espirituais.
André Barreiros
http://andrebarreiros.bloguepessoal.com

1 comentário:

Quasímodo disse...

Magnífica abordagem, professor.
A propósito, há uma interpretação didática da crise que circula nos e-mails do Brasil e que assim se explica, em bom brasileirês:

O seu Biu tem um bar, na Vila Carrapato, e decide que vai vender cachaça 'na caderneta' aos seus leais fregueses, todos bêbados, quase todos desempregados.

Porque decide vender a crédito, ele pode aumentar um pouquinho o preço da dose da branquinha (a diferença é o sobrepreço que os pinguços pagam pelo crédito).

O gerente do banco do seu Biu, um ousado administrador formado em curso de emibiêi, decide que as cadernetas das dívidas do bar constituem, afinal, um ativo recebível, e começa a adiantar dinheiro ao estabelecimento tendo o pindura dos pinguços como garantia.

Uns seis zécutivos de bancos, mais adiante, lastreiam os tais recebíveis do banco, e os transformam em CDB, CDO, CCD, UTI, OVNI, SOS ou qualquer outro acrônimo financeiro que ninguém sabe exatamente o que quer dizer.
Esses adicionais instrumentos financeiros, alavancam o mercado de capitais e conduzem as operações estruturadas de derivativos, na BM&F, cujo lastro inicial todo mundo desconhece (as tais cadernetas do seu Biu ).

Esses derivativos estão sendo negociados como se fossem títulos sérios, com fortes garantias reais, nos mercados de 73 países.

Até que alguém descobre que os bêubo da Vila Carrapato não têm dinheiro para pagar as contas, e o Bar do seu Biu vai à falência. E toda a cadeia vai para o espaço...