A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

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quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Há mais?

O Renato, ao que leio, anda para lá do Marão; na sua ausência, apresento um candidato a idiota da semana (que hoje já é quinta):

"É preciso uma ruptura democrática e consciente. Já não somos um país de brandos costumes por isso não podemos ser um país de leis brandas"

Paulo Portas, segundo o Público online, aqui

9 comentários:

Ana Margarida Esteves disse...

Caro Casimiro,

Nos nunca fomos um pais de brandos costumes. Nunca! Pelo contrario, ha muito e muito tempo que somos um pais estruturalmente autoritario, subtilmente violento, que reduz com grande perspicacia e eficiencia a maior parte da populacao a uma "brandura" amarga, feita de frustracao e medo, a cima de tudo de "parecer mal" e por isso ser-se excluid@.

Somos um pais em que a ideia de "eu" e um jogo de espelhos, feita das impressoes que as "pessoas" tem de nos, o quanto as nossas accoes "ficam bem", o quanto o nosso padrao de consumo se adequa ao que da "status". Por isso as pessoas se sobre-endividam, se esquecem do que as faz realmente felizes, do que leva a sua realizacao como pessoas, em nome de "parecerem bem", de criarem uma "persona" que impressione o proximo atraves do seu conformismo.

Poucos de nos conseguiram uma liberdade interior suficiente para conseguir se tornar autonomo dessas impressoes e viver para la dessa superficialidade, desse jogo de espelhos.

Somos um povo na sua maioria pouco amante da liberdade. Gostamos de mandar e ser mandados. Gostamos de exercer poder, e talvez ainda mais de demonstracoes exteriores de pdoer. Isso da-nos seguranca.

Somos um povo de narcisistas. A nossa ideia do "eu" e tao fragil que gostamos de achilcalhar quem nao pense como nos, por ameacar deitar por terra o castelo de cartas que e a ideia de ser "don@ da razao" que substitui uma construcao do "eu" solida e saudavel.

Mesmo que as leis sejam brandas, os costumes nunca foram nem o hao de ser.

La no fundo, nos todos aspiramos a leis que reflictam o autoritarismo estrutural que interioramos logo de berco.

E obvio que tudo isto faz parte da condicao humana, seja em Portugal, na China, no Burkina Fasso, no Equador ou na Micronesia. No entanto, como diz o Renato Epifanio, nao e a nacionalidade uma maneira de realizar o universal?

Portugal e um exemplo bastante claro da falta de uma autentica vida interior que marca o nosso tempo - isto nao obstante a beatice reinante nas varias religioes que albergamos.

Beatice nao e o mesmo que religiosidade autentica, diga-se de passagem.

Casimiro Ceivães disse...

Esse comentário, Ana Margarida, deveria ter sido um post - suponho que puxaria por muitos outros.

Eu não tenho a certeza de que todo o "autoritarismo" seja castrador da liberdade (posso dizer assim?), ou melhor, de que não haja frequentemente um alargamento demasiado dessa palavra. Que ditadura teve o Nureyev de exercer sobre o seu corpo para ser o Nureyev, que disciplina teve Beethoven de ensinar às suas mãos. O mesmo se poderá dizer para uma série de caminhos espirituais, ocidentais ou orientais, que não se bastem na "rêverie" xamanica... E aqui deveríamos regressar ao sentido original da palavra "auctoritas".

Outra coisa é o poderzinho dos manhosos, o mesquinho poder dos malandros bem-comportados...

Isto é curioso, porque esse "poder manhoso" é, em grande medida, uma manifestação da modernidade europeia - não da tradição e da cultura europeias.

Vou dar só um exemplo curioso, que pude comprovar de estudo directo: em Portugal, no Minho contemporâneo do P.e Antonio Vieira, cerca de 15% das crianças nasciam fora do matrimonio, e uma mãe solteira, mesmo numa família de "elite local", não via afastada por isso a hipótese de um casamento posterior... em casos que conheço, e que estão documentados, o pai solteiro era... um padre catolico, cujo nome era sabido de todos, tanto que ficou documentado e chegou até nós... Na época medieval, as coisas não seriam diferentes.

Mas no séc XIX "liberal" e pré-industrial, as crianças minhotas filhas de amores extra-conjugais eram abandonadas na "roda dos expostos" e a mãe, se se soubesse que o era, tinha como destinos o convento ou a vergonha...

No que respeita ao nosso mundo, essencialmente eu desconfio do anti-autoritarismo pequeno-burguês: aquele que não recusa a uma criancinha um chocolate, não vá ela ganir ao balcão da pastelaria, aquele que acha que a escola é um lugar para desenhar flores azuis em campos vermelhos. O autoritarismo pequeno-burguês do rebeldezito com pára-quedas, que protesta contra a brutalidade - assinando petições online e acendendo velinhas.

Ana Margarida Esteves disse...

Caro Casimiro:

O autoritarismo que eu abomino e exactamente o autoritarismo subtil de certos "miminhos", sejam eles na esfera privada ou publica, que amolecem o espirito e a vontade.

O "miminho", a "liberdadezinha" e a forma mais eficaz de controlar e diminuir uma pessoa.

E o autoritarismo da turbamulta que, em nome da "liberalidade cool e modernaca", despreza um Nureyev em botao, torna-o o no palhaco e no saco-de-boxe da escola. Sao os professores que aconselham os pais a "nao serem tao duros com a crianca", julgnado que talento precoce e persistencia no desenvolvimento do mesmo tem necessariamente de ser o resultao da pressao narcisita de pais brutos, autoritarios e ambiciosos mais que a conta.

E o autoritarismo da "mae judia" (uiuiui, la estou eu a ser politicamente incorrecta. Lembrem-se, meus amigos, que este e um arquetipo universal;-) ) que compra todos os chocolatinhos que a criancinha quer, para ela nao fazer birras e se vergar aos seus desejos sempre que, tendo a "criancinha" deixado de o ser ha muito tempo, est@ ameacar por em causa a sua visao do mundo, e a sua independencia puzer em causa o seu sentido de utilidade.

Desta forma, sacrifica-se os dentes, o metabolismo e o desenvolvimento de um caracter forte e saudavel na criancinha, em nome da "liberdade" desta de comer os doces que quizer, e em nome da "liberdade" da maezinha que, desprovida de uma vida propria que nao dependa de viver atraves de outras pessoas - o que e o contrario de viver para a edificacao de outras pessoas - mantem os seus filhos numa infancia eterna.

Isto aplica-se tambem a esfera publica: O embrutecimento geral da populacao atraves de programas de TV estapafurdios, jornais endulcorados e series tipo "O sexo e a cidade", em nome nao so da "liberdade" do publico de ver "o que quer", mas tambem dos accionistas das TVs, dos jornais, das radios, dos provedores de internet, etc. de encher os seus bolsos a custa do estimulo constante das tendencias mais crassas das pessoas.

Assim se destroi aos poucos uma cultura e uma sociabilidade, em nome da "liberdade" em relacao a produtos culturais que impliquem um certo exercicio cerebral.

E esta a base do autoritarismo burgues e pseudo-liberal: Um estimulo das "liberdades" mais superficiais, de forma a distrair o espirito da erosao das Liberdades maiores, que implicam uma disciplina espiritual.

Disciplina esta que nao pode ser imposta de fora, mas deve vir de dentro, em resultado de uma interiorizacao de valores mais altos.

Nao e a toa que os "rebeldezitos de para-quedas", os que assinam peticoes e seguram velinhas, acabam todos de fato e gravata, com uma barriga de cerveja, um apartamento nalgum caixote de cimento suburbano e um credito a habitacao que e como um lastro que ficara acorrentado ao seu pe, sugando-lhe a juventude e a vontade de viver, so o deixando quando estiver gasto e caduco.

A base da verdadeira Liberdade e uma disciplina interior sa e uma certa capacidade de renuncia ao cantico de sereia de certos "comfortos", muitos deles nada mais do que balelas impingidas pelo desejo de imitarmos os nossos pares.

Assim se mantem e se reproduz o autoritariasmo estrutural.

Casimiro Ceivães disse...

Cara Ana Margarida,

De acordo no essencial. No entanto, eu receio - não a liberdade interior, mas o apelo exterior a ela.

Quero dizer com isto que essa liberdade - o mais alto grau de realização do humano em nós - é ainda e talvez seja sempre um mistério: o que a faz brotar? E porquê se desenvolve ela em alguns, e não em todos? Algumas tradições (evitemos o caminho perigoso da "ontologia" e da "metafísica"...) falam de dom ou graça do(s) deus(es), outras apontam caminhos de disciplina física/mental... mas sempre caminhos pessoais, que não cabem na "conversação colectiva" que faz as sociedades.

A este nível - o político/social em sentido mais elevado - era fundamental, nas sociedades tradicionais, a noção de uma "lei acima das leis", de uma ordem de princípios acima dos príncipes. Era isso o "costume", que pouco a pouco foi sendo envenenado pelos juristas ao serviço do poder, até ficar o quase-nada que é hoje.

A ideia de "hospitalidade sagrada", por exemplo; a ideia da "palavra de honra", e do compromisso total que ela traz; a ideia de que a "natureza" tem um valor intrínseco, e tantas outras... O nosso problema fundamental é, a meu ver: como restaurar essa "lei acima das leis" na parte do mundo que de todo a perdeu? è paradoxal: não pode ser o poder a fazê-lo; mas também não podem ser os escravos.

Não vejo nenhum problema mais fundamental do que este (fora da tal área "realmente fundamental", a dos "primeiros princípios", que eventualmente já não cabe aqui). Mas este - a meu ver é uma estética, não uma ética.

jorge vicente disse...

mudando de assunto (ou não), não deixo de concordar com o paulo portas em certos pontos. ele tem razão quando afirma que existe uma certa imigração que tem praticado crimes em portugal: alguns gangs de rua que vieram do brasil para portugal (e não foi só na televisão que soube disso. alguns amigos meus, que vivem na costa da caparica, já têm medo de sair à noite porque existem zonas lá muito perigosas), etc.

essa realidade existe e devemos combatê-la. o grande problema é que muita gente confunde ser realista com ser xenófobo. penso que o grande problema da direita seja referir as verdades num dramatismo exagerado. o problema existe e pronto. não podemos meter no mesmo saco membros de gangs com os outros.

esse é que o grande problema.

um abraço
jorge vicente

Casimiro Ceivães disse...

Oh Jorge Vicente, esse é que é o assunto :)

Eu vivo numa zona (na cidade de Lisboa) em que as noites também são terreno de gangs de rua. Há dias ouvi num café, a meio da tarde, um rapaz aí de uns 20 anos a dizer: "Da minha geração aqui no bairro éramos uns 20. 5 já morreram e 3 ou 4 estão presos". Esses 20 são, ou eram, tão lusitaninhos como o Viriato (talvez um pouco mais berberes, mas isso parece-me irrelevante...)

Confundir leis penais com leis de imigração é que me parece estranho. Há acordo, desde há séculos, em que um crime é julgado à lei do Estado em que o crime ocorreu - não a lei nacional do criminoso nem a lei nacional da vítima (que pode também ser um estrangeiro!).

Mas, a partir daqui, uma série de questões maiores. E a primeira delas é:

Tem algum Estado, legitimado ou não pela vontade democrática dos seus cidadãos, o direito de impedir a vadiagem pelo planeta inteiro? E portanto, no limite, a imigração de uma multidão para a "sua" terra?

Se meio milhão de lisboetas resolver ir para Guimarães, haverá certamente o colapso de Guimarães. E no entanto não há passaportes nem fronteiras. E se for meio milhão de parisienses? Isso justifica o regresso compulsivo, à mão armada, a Lisboa ou a Paris? Mas então, deveremos permitir a destruição de Guimarães?

Eu não tenho uma resposta clara para isto. Mas acho que chegou a altura de fazer perguntas claras.

NOTA: o famigerado "liberalismo" assenta apenas na crença de que não haverá nenhuma razão "racional" para que o tal meio milhão de parisienses venha para Guimarães... e portanto com esses não vale a pena preocuparmo-nos. E portanto, aquilo que para uns é um parque de passeio, para outros é a fronteira Shengen ou o Muro do México...

um abraço

Renato Epifânio disse...

Faltava só pôr a etiqueta...

Abraço MIL

Casimiro Ceivães disse...

Oh Renato. Ai ai. Eu nunca me lembro de etiquetas nos blogs. Que raio de invenção; mas aqui é util, sim.

Abraço

Renato Epifânio disse...

Com a saída do Klatuu, as etiquetas abastardaram-se bastante... Mas convém cumprir os serviços mínimos!

Abraço MIL