A minha escassez de tempo, aliada à crescente consciência da ingrata efemeridade de tudo o que se escreve num blogue - quase como escrever na água - , não me leva a participar como no fundo gostaria dos debates como o que recentemente surgiu entre o Clavis, o Casimiro e o Renato, sobre a geo-estratégia portuguesa e lusófona. Não queria contudo deixar de muito brevemente acrescentar a minha perspectiva:
1 - Para além da dimensão propriamente política e geo-estratégica deste projecto de repensar Portugal e a Lusofonia, onde naturalmente partilho as ideias expostas na Declaração de Princípios e Objectivos, que apontam para a aproximação das nações lusófonas entre si e com as regiões afins, creio que há outra dimensão que não pode ser esquecida, por ser fundante das demais. Chamar-lhe-ia a elevação da cultura portuguesa e lusófona à universalidade e à universalização, mediante a desinibida assunção do que considero a sua superior vocação de mediadora entre culturas, civilizações, religiões e paradigmas mentais, por mais diversos e divergentes que pareçam ser. É isso que se consagra na nossa Declaração como assumir Portugal e a comunidade lusófona como "pátria alternativa mundial" e que considero estar na linha directa do projecto de Camões, Vieira, Pessoa e Agostinho da Silva, conhecido como "Quinto Império", enquanto tecido, transversal a todos os povos, de um outro estado de consciência.
2 - Esta missão, de que não abdico, e com a qual me sinto desde há mais de um quarto de século comprometido, só se realizará se portugueses e lusófonos reconfigurarem os seus quadros mentais e se habituarem a considerar que pensar ao modo português e lusófono é pensar trans-patriótica e trans-culturalmente (isso é a nossa forma de patriotismo), procurando incorporar, a partir da sua cultura e tradição concretas, mas superando-as nas suas limitações, uma visão sapiencial e ética tão profunda, elevada e abrangente que nela todo o ser humano se possa reconhecer, por ir ao encontro dos seus arquétipos e aspirações intemporais.
3 - É isto, e só isto, que poderá sobreviver à usura e efemeridade de tudo o que se faz e logo se desfaz no tempo e na história. É isto, e só isto, que poderá permanecer na memória e na experiência da humanidade como uma referência semelhante às que são para nós hoje, em termos culturais, civilizacionais e ético-espirituais, Índia, China, Pérsia, Israel, Meca, Grécia ou Roma, entre outras.
4 - É esta a minha grande ambição e é para isto que me convido e vos convido: para um trabalho árduo e solitário, mesmo quando partilhado, que exige, mais do que mero estudo, muita reflexão e meditação, muita atenção voltada para dentro e para o mais fundo de nós, muito espírito de renúncia - ou seja, de libertação - , do que menos importa, das polémicas e conflitos mesquinhos, das tentações e distracções mundanas: poder, prestígio, fama, riqueza. Muita pesquisa dos sentidos mais fundos da nossa cultura e do que nela, em conjunção com todas as outras e sintetizando a sua quinta-essência, pode resultar numa Cultura mais plena das possibilidades superiores do Homem. E, como corolário desse trabalho e pesquisa, ou se possível desde o início presente, muita liberdade, inspiração e criatividade!
5 - A vida é extremamente frágil e breve. Ninguém sabe se estará cá no momento seguinte e, na melhor das hipóteses, muitos de nós que por aqui andamos já vivemos metade ou dois terços das nossas vidas. Do que nos falta viver, um terço passá-lo-emos a dormir e por(des)ventura mais ainda a dormir acordados. Não há pois tempo a perder.
Saúde!
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra).
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa).
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286.
Donde vimos, para onde vamos...
Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)
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segunda-feira, 13 de outubro de 2008
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38 comentários:
Está como eu, escassez de tempo, escrevo em mais do que um forum nacionalista. Mas a solução é não ler tudo, não é na água, há é lixo, sempre há lixo, mas quem é autor de lixo acha sempre que é importante ser lido, mesmo que ninguém leia. A ficção de ser importante foi muito exagerada com o fenómeno da internet, 15m de fama para toda a gente.
"Chamar-lhe-ia a elevação da cultura portuguesa e lusófona à universalidade e à universalização, mediante a desinibida assunção do que considero a sua superior vocação de mediadora entre culturas, civilizações, religiões e paradigmas mentais, por mais diversos e divergentes que pareçam ser."
Isto é um mito, apenas um mito. Um mito igual ao da mistura de raças como prova do menor racismo dos portugueses. A mistura era entre homens caucasianos e mulheres negróides. Estas mulheres não tinham escolha, eram forçadas, um processo de conquista dos vencidos, que se faz desde a antiguidade pela criação de gerações de bastardos.
" pensar ao modo português e lusófono é pensar trans-patriótica e trans-culturalmente (isso é a nossa forma de patriotismo)"
Falso, isso é a sua ideia de patriotismo. Não é a da maioria dos portugueses, mas o importante é que não é a da minoria de portugueses que pensa a pátria.
O resto, enfim. Mas destaco que Portugal não tem nenhuma "missão", nenhum futuro está escrito. Os portugueses têm o dever de fazer um país justo, depois penso na herança que recebemos de piratas, comerciantes de escravos, aventureiros e padres fanáticos.
Não sei se são esses padres os mais fanáticos ou se é este povo que mesmo 400 anos depois continua a querer lembrá-los...
"Falso, isso é a sua ideia de patriotismo. Não é a da maioria dos portugueses, mas o importante é que não é a da minoria de portugueses que pensa a pátria."
Falso, isso é a sua ideia de qual é a ideia de patriotismo dos portugueses.
E o resto nada mais me sugere.
Quando falei dos portugueses apenas disse que não têm essa ideia de pátria, a sua ideia, a da maioria, é difusa, como em todos os povos, ou se quiser não é nenhuma em especial e é semelhante em todas as épocas.
Disse "que não é a da minoria de portugueses que pensa a pátria". Esta minoria é a do conjunto de pensadores políticos que abordararam a questão nos nossos dias, nenhum assume isto "pensar ao modo português e lusófono é pensar trans-patriótica e trans-culturalmente (isso é a nossa forma de patriotismo)", a não ser as ideias míticas de alguns poetas. Temos logo uma contradição de termos a quererem passar por sinónimos, "português" e "lusófono". "Lusófono" nem remete para uma pátria, para nenhuma, é um termo quase sem legado político.
Treine a retórica e tente dizer algo com tamanho político.
O povo, o nosso, não quer lembrar nenhum fanatismo, tem sido oprimido por vários.
"E o resto nada mais [lhe] sugere."? A cada um os seus interesses, pois. Nem ponta de solidariedade, enquanto mulher, para com todas as negróides que foram forçadas a relacionamentos de exploração sexual com os vitoriosos colonos brancos?
Muito bem, fiquei esclarecida.
Sim, nisso sou tão egoísta quanto uma criança.
(Ou uma árvore...)
O melhor é inventar o conceito de trans-fanatismo.
Paulo Borges, a minha dúvida de fundo relaivamente ao que disse - e que já vem de trás - é esta (oh, hoje todos com pouco tempo!):
A pátria universal, a fraternidade universal, enfim, tudo isso, tem sido há mais de 100 anos sonhada e pensada: desde anarquistas da 1.ª internacional até aos vários movimentos "new-age" de hoje. Se eu encontrar um norte-americano que seja (sem ironia!) vegan, budista, adepto da meditação, pacifista, pacífico, e que não seja xenófobo, racista, sexista, e etc etc, que tenho eu (o MIL) que ele não tenha? Falar "português"? Saber que existiram Vieira, Camões e Agostinho?
Dito metaforicamente: que tem a Língua Portuguesa que não tenha o Esperanto?
Continuo a achar que esta é a questão não-posta que subjaz às reais e aparentes discussões aqui...
Anita, então fique no silêncio vegetal das árvores.
A fraternidade universal é um sonho de todas as ideologias internacionalistas, da direita à esquerda. A história diz-nos no que tem dado.
Ainda com a questão do tempo que ninguém tem, e como eu a cada dia prezo mais o meu tempo e considero inutilidade perdê-lo de forma vã,mas ainda assim por cá perco uns minutos - disse o Casimiro: «Dito metaforicamente: que tem a Língua Portuguesa que não tenha o Esperanto?
Continuo a achar que esta é a questão não-posta que subjaz às reais e aparentes discussões aqui...»
Este movimento (MIL), este blogue, só voltará a fazer algum sentido no dia em que estas questões forem novamente recolocadas e debatidas como questões políticas e filosóficas e não como objecto de meditação ou de atenção voltada para dentro.
Caros amigos, se não se revêem no projecto de Camões, Vieira, Pessoa e Agostinho da Silva, interpretado como o é na Declaração de Princípios e Objectivos do MIL, estão no vosso direito mas não posso deixar de perguntar a que aderiram...
Quando falo do "nosso patriotismo" trans-patriótico e universalista refiro-me ao que esses quatro pensadores fundamentais trouxeram de novo para o modo, estreito, a meu ver, como se pensa em geral a pátria e a sua relação com o universal. Não pretendo obviamente que todos os portugueses pensem assim, mas há decerto muito boa gente que assim pensa e que, se não são pensadores políticos, também não são apenas poetas (como se ser poeta fosse uma limitação...). Acredito serem a maioria dos que têm aderido a este projecto, mas que por várias razões aqui se não manifestam.
Quanto a tudo isto ser mito, o que o não é, quando passamos a vida a projectar sobre a realidade as nossas construções conceptuais, disfarçadas de ciência? O que importa é distinguir e cultivar os mitos que forem fonte de abertura da consciência e do coração, até que de todos os mitos possamos prescindir. Por mim, prefiro o mito do Quinto Império, sobretudo na leitura que Camões - um pouco menos Vieira - , Pessoa e Agostinho lhe dão, a qualquer outro mito, científico ou político, que legitime a opressão, a violência e a obtusidade mental.
E se há na cultura portuguesa algo de mais interessante ou valioso do que a sua aspiração à universalidade trans-cultural e trans-religiosa, diga-me, caro Casimiro, o que é. Para que eu renuncie definitivamente à trans-pátria quinto-imperial ou... a Portugal.
A fraternidade universal não é um sonho de internacionalistas de hoje nem de ontem, mas a realidade vivida por todos os que, desde sempre, em todas as tradições, vivem despertos e livres da babélica confusão que deu origem às nações. O que Portugal traz, com o culto do Espírito Santo, é a busca do que está antes e depois de tudo isso, sob o signo de uma transcensão integradora das várias culturas e religiões. Será pouca coisa? E que outros busquem o mesmo, por outras vias e com outros nomes, qual o problema? Ainda bem que o que nos distingue é a busca ou assunção do que é comum! Deixemos a auto-afirmação contra tudo e todos para os eternos adolescentes.
E uma questão que gostaria de deixar ao Sr. Paulo Borges:
o último ponto do seu post parece ser um apelo à acção (se bem entendi). Que tipo de acção propõe? A meditação? «muita atenção voltada para dentro e para o mais fundo de nós»? O que é que pensa «fazer» com a quantidade (perdi a conta ao número) de pessoas que aderiram ao MIL? Como é que pensa «dirigir» este movimento já que pertence à sua direcção?
Se acha que a filosofia nada tem a ver com inverter a direcção centrífuga da atenção, aconselho estudar filosofia... Desde os gregos à fenomenologia.
E já agora investigue exercícios das escolas filosóficas gregas como a "meleté". Pode ler Pierre Hadot, por exemplo.
E leia Platão ou os estóicos para ver a relação de tudo isso com a política...
A não ser que isto seja para si perder o tempo de forma vã. Pelos vistos é menos vão usá-lo a mandar "bocas" desinformadas e infundamentadas.
O dia em que o Presidente da República de Portugal definir a sua acção política por mitos,do V Império ou outros, os portugueses morreram de fome e só ele resta na «grandiosidade» da sua quimera.
Sr Paulo Borges, de quem eu sou o senhor nada sabe, reserve alguma humildade e frieza filosófica na arte do debate quando não conhece os seus oponentes.
E, já agora, perder o meu tempo de forma vã é ser insultada por pessoas como o senhor que presume que sabe mais do que aqueles a quem se dirige.
Cara amiga, já percebi que vive um complexo de viuvez, saudosa dos bons velhos temnpos em que aqui só se trocavam elogios e insultos. Vou dirigir a minha atenção para dentro. Boa Noite!
Sr. Paulo Borges, tendo em conta que este blogue e este movimento é dirigido por uma pessoa do seu nível moral vou pedir que retirem de imediato o meu nome deste blogue e do MIL.
Depois do que acabo de ler perdi a vontade de comentar. Paulo Borgia dirige isto e trata quem comenta deste modo? Mário Machado deve ser boa pessoa, nunca o ouvi ser pouco educado para um camarada.
Chame-me o que quiser. E se quiser discuta ideias.
Triste.
Peço desculpa. Enganei-me no seu apelido.
Paulo, no que me toca: agora estamos, não em divergência, mas em falha de comunicação grave. Vamos cá a ver:
Não sei se se lembra de aqui há umas semanas, aqui, se discutir o "Não sou Ateniense" atribuido a Sócrates (falsamente, ao que alguém explicou, o que é irrelevante para o meu ponto). Bom, agora vejamos o sentido que faria haver um movimento helenónofo (?) que nos quisesse persuadir de que essa é a melhor prova da vantagem de meditarmos no pensamento grego e na Grécia (actuais). De nos tornarmos "Gregos" para podermos finalmente ser universalmente homens. Não é uma perca de tempo? Esse apelo socrático pode ser - e tanto tem sido que está gravado, NÃO DECERTO POR ACASO, na estação de metro lisboeta ao lado da mesma Universidade tão bem retratada pelos mais ilustres mentores da Filosofia Portuguesa - ouvido directamente em todas as línguas, por todos os homens.
Esses "quatro pensadores" são fundamentais - no contexto da cultura e da história portuguesa. Quem teríamos, se fôssemos noruegueses ou japoneses? Ignoro-o. Mas não posso decifrar antigos poemas japoneses, decerto fascinantes, como tento decifrar o nosso Baco dos Lusíadas ou os Rios da Babilónia: falta-me para isso ser japonês de nascimento, de língua e, acredito, de herança genética.
Vou mesmo mais longe, porque em conversa "sub rosa" como esta odemos dizer estas coisas: é como a astrologia. Um horóscopo chinês é revelador - para chineses. Eu uso, para mim, o babilónio-grego-europeu. E não penso que isto seja cultural - é parte intrínseca da realidade.
Agora, dois pontos mais importantes: em primeiro lugar, não há nada na declaração de princípios (na declaração, não na íntima intenção dos declarantes) que aponte para a univocidade desse 'trans-caminho' que refere: no meu primeiro comentário directo às suas ideias, que tanto o abespinhou, eu dizia precisamente da minha estupefacção por ver que os caminhos propostos eram afinal já caminhos andados. Preferia não voltar a esse ponto; se tiver de o fazer, direi que isso agora, obviamente, só em assembleia geral do MIL se decidirá. "Agora", friso: tivesse sido dito de início e amigos como sempre. Mas foi o Paulo que escreveu aqui algo como "mesmo para mim isso só agora se clarifica" (os tais trans-caminhos).
Há, evidentemente, referências vagas (e ainda bem que o são, que um manifesto não é uma tese de doutoramento) a "Universalidade" e coisas dessas: subscrevo-as.
Quanto a saber o que os "pensadores" pensavam, digo-lhe já que ainda não o vi (por exemplo quanto a Camões, decerto o maior dos quatro) refutar o António Telmo, para não subir à geração anterior, de Ribeiro. Faça-o, e eu provavelmente o siga.
E de Pessoa, também lhe digo: retire o que dele é pseudo-budista "via" teosofia (e isso pode ser excelente, mas não é "português") e diga-me do resto. Tenho visto pouco comentar a Mensagem por aqui (patra não falar das páginas de pensamento político tão bem organizadas pelo Quadros: tenho visto demasiado Caeiro e Soares, e pouco Pessoa.
Outra coisa que me espanta é a necessidade de, no Oceano que é a identidade cultural de um povo, seleccionar e dar valia unicamente aos "ultimos principios". Estou habituado a ver isso em católicos - e por isso fujo deles como o diabo da cruz. Um amigo meu defende que "A Deus é indiferente a Nona Sinfonia de Beethoven: ele preferia que Beethoven tivesse sido santo". Eu não quero saber desse Deus de ouvido duro - mesmo que exista. E preocupa-me uma História da Música que sobre Beethoven tenha apenas a salientar - que pecou.
Tenha paciência, Paulo, e acredite que, não o cobnhecendo senão de nome (desde a Ultra) até nos encontrarmos aqui, me não move nenhuma animosidade: mas reflicta no que diz, distinga as suas crenças e objectivos pessoais dos deste movimento-revista-blog, e por favor escreva-nos algo que não seja um comentário - e que seja a orientação a que está obrigado enquanto Presidente do MIL.
E não tenha medo nem pena dos eternos adolescentes. Afinal, Eros era um deles.
Peço ao leitor desculpa dos erros: escrevo num net-café, com o dono a intimar-me a desligar.
Casimiro, estou demasiado descrente na possibilidade de se discutir ideias num blogue para lhe responder plenamente. A sua resposta aliás confirma-me nessa descrença. Onde é que digo que todos têm de ser portugueses para serem universalmente homens, se é precisamente o contrário que digo e penso?
Quanto à Declaração, creio ser bem clara sobre tudo isto e basta voltar a lê-la. Claro que não obriga ninguém a univocidade alguma, mas aponta princípios e objectivos que não revejo em muitos dos que aqui se manifestam...
Quanto à minha responsabilidade como presidente do MIL, creio que ela começa por recordar o Manifesto que o funda e que, contra todos os nossos apelos iniciais, nunca vi seriamente discutido por ninguém.
Quanto ao meu post, é um esclarecimento do que considero mais importante neste projecto. Quem quiser seguir outros caminhos, dentro do espírito da mesma Declaração, que os siga. Desejo-lhe todas as felicidades. Nesta casa também há muitas moradas.
E porque raio havia eu de ter de refutar o Telmo ou o Ribeiro!? Basta-me passar o resto da vida a tentar compreender o Marinho.
Quanto ao Pessoa, hei-de escrever um livro só de comentário da "Mensagem". Mas sem esquecer a grande lição do "Caminho da Serpente". Está lá tudo: e não esquecer que a Serpente também é Portugal, num sentido, e o espírito, noutro.
Não é pseudo-budismo nem teosofia: é visão funda, pensamento português e universal. Abismos aos quais uma certa "filosofia portuguesa" não sobe nem desce.
É Paulo!
A questão do tempo...
Eu gosto mais de dizer que o trabalho aperta, e que temos sempre tempo para o que é importante, para o que mais importa há sempre tempo, o tempo é capaz de nascer daí.
Mas, de facto, isto parece um rio e quando volto a olhar... tenho que me resituar.
Eu não posso dizer que concordo com o que afirmas no teu post porque não consigo ver a possibilidade de discordância. Mas não o sinto por fanatismo. Foi isso que me levou a interessar-me pela Filosofia em Portugal e a ver nos nossos autores o que não encontrava nos tidos por grandes filósofos ocidentais: um sentido percuciente da ocidentalidade que alargava o campo do pensar para lá do logocentrismo teodiceico e do sem-remédio e sem-remissão.
Quanto a discutir ideias... O blogue é importante, porque dá a ver. E há muitas pessoas que não postam, nem comentam, mas estão atentas. E isso é fundamental.
E a água do rio é sempre água. Nada poderá alterar isso.
E a água irrigará os campos, se os houver.
:)
Paulo (muito telegraficamente):
- A discussão de ideias foi, neste blog, abruptamente cortada por si (ou pelos seus esfíngicos sócios da CC). É a ultima vez que refiro pacatamente este ponto: enough is enough.
- A universalidade, ou a necessária portugalidade: concedo que muito haveria a dizer, e que não é fácil obviamente discuti-la num blog. O modo de o fazer é, obviamenbte, aquele que espontaneamente foi surgindo a proposito de um comentário meu a um texto do nosso Arnaldo Norton, o que deu o chamado "Triálogo"... Basta que cada autor de posts não seja autista e não venha, no dia seguinte, dar-nos mais do mesmo - a menos que as suas intervenções sejam literárias, o que é não apenas lícito como louvavel aqui. Tenho visto essa disponibilidade para o diálogo no Renato Epifânio, via-a no Klatuu e vejo-a no Clavis. Mais nada, ou quase nada...
- O que diz no resto do primeiro comentário, e que é muito: subscrevo, aplaudo, concordo, estimulo, mais o que seja. Se é isso, bravo. Excepto num ponto: não se seguem "outros caminhos", a não ser que haja um "em especial". Se sim, diga já por favor se ele é ou não o da Serpente, só para eu me situar. E se for, proponha mudar o nome disto para "Águia Escamada": fica mais claro. Eu penso que o Manifesto aponta um inicial caminho, uma jornada de arranque, e mais nada. Como naquelas histórias tradicionais em que o herói quer chegar a um palácio encantado e cada pessoa que encontra na jornada apenas lhe diz: "mais adiante encontrarás a Bruxa do Oeste, e depois o Gigante Lilás, e tens que lhes perguntar". Até ao fim, ninguém lhe dá a morada do Palácio, e é aí que está tudo: na história infantil e na sua sabedoria.
- O mesmo, de outro ponto de vista: eu quero lá saber se refuta o Telmo, obviamente não é isso!!! Pelo contrário: quero (volto ao desgraçado Camões, por facilidade) poder ler as meditações do Telmo, as suas, as da Fiama Hasse, as da Dalila ou as do Sena, e fechar os livros e pensar. O mesmo para o Pessoa, e o Vieira, e a catrefada dos outros. Em cada um, sinto que me não dão gato por lebre, ou Eros por Baco - conscientemente. Dúvidas, erros, audaciosas conclusões, visões místicas, são outra coisa e são bem vindas.
- Nisto tudo - e repare: contra a minha índole, que é especulativa apenas! - cada vez dou mais razão ao Renato Epifânio e aos seus apelos ao avançar por patamares, se assim posso dizer. Discutamos as coisas a partir do Acordo Ortográfico, das lanchas da Guiné-Bissau ou da Muralha Sarkozy, e chamemos pontualmente à discussão os mestres. Digamos, a título pessoalíssimo, da nossa crença íntima na ilusão do Eu, na superioridade dos Arias, nos malefícios da Maçonaria ou do Vaticano, na próxima chegada dos Extra-Terrestres, na possibilidade de um Império em que, como nos Banquetes da Ilíada, todos os homens sejam iguais. Porque tudo isso ajuda a decidir e a compreender o que está em causa na decisão imediata de enviar ou não soldados que podem morrer nas costas do Golfo da Guiné, de receber ou não marroquinos que todos os dias morrem no mar à vista da nossa Espanha, de escrever ou não "farmácia" com ph, como os incontáveis anglófonos.
Proponhamos a meditação - aceitando que outros proponham a ginástica sueca (como quase fez o Pascoaes). Actuemos: não para capturar a Ilha de Vénus, mas para fazer as naus sair do Tejo. E, de duas uma - ou estamos todos completamente errados, e a razão está com os banqueiros e os políticos, ou o MIL e, mais importante, a comunidade dos lusos, se fará devagarinho. Por si e ao nosso encontro, como a famosa Ilha.
Casimiro, surpreende-me muito o que diz nos dois primeiros pontos! E surpreende-me também muito que queira tornar a discussão do essencial refém da do acidental! Quanto ao meu caminho aqui e em todo o lado, é óbvio que é o da Serpente. Mas isso não obriga ninguém a seguir-me ou não.
Não pessoalize a questão: o MIL tem uma Declaração de Princípios e Objectivos que é mais do que um motor de arranque, embora a viagem possa, deva e tenha de ser feita de muitos modos, de acordo com as orientações, perspectivas e capacidades de cada um. Mas há uma hierarquia de objectivos que determina uma hierarquia de funções e o mais abrangente e fundante creio ser a transformação das mentalidades e das vidas. Não podemos escapar às três ou quatro funções tradicionais de todas as sociedades, como bem sabe. Podemos é perverter a sua ordem natural. E não digo mais porque não seria conveniente. Como vê, também tenho o sentido da hierarquia, se bem que não estática, mas dinâmica, relativizada à sua transcendência a partir de todos os seus níveis. No presente momento do MIL creio que a hierarquia dos fins e das funções carece todavia de ser reforçada... Pensar, agir em defesa do que se pensa (em defesa sobretudo da nossa infidelidade ao que pensamos), comunicar o que se pensa, assegurar a sua integração no corpo material da realidade. Uma versão soft, para os tempos que correm, do que poderia (deveria?) ser dito de outro modo, mais intempestivo.
Fiquei como o mister Magoo. Estou a ver que do Minho a Timor a arena é grande e quase circo de feras.
Não ouviram falar em disciplina partidária, compromisso ideológico e ordenamento de objectivos?
A religião de cada um em forma de bota?
Paulo:
Que pelo menos não haja equívocos: sobre a Serpente como caminho seu, ou de companheiros seus de jornada, nada tenho a dizer e nada disse. As crenças (ponha aqui uma palavra melhor) de cada um são para mim igualmente sagradas. Referi-me, somente, ao caminho conjunto que se corporiza no MIL e (diferentemente) na NA.
E aqui, lendo com atenção o que me diz, não deixo de sentir que andamos há meses à roda do mesmo: e por isso, se subscrevo o que diz sobre as "funções", interrogo-me sobre a prudência de as transpor (ou melhor: transpor a respectiva hierarquia) para um movimento com a estrutura que lhe foi dada, e que agora já não vai a tempo de nunca ter nascido. Aliás, terá sido talvez a consciência disso que o levou a escrever as palavras que levaram a que conversássemos tanto? Não as sei interpretar de outro modo, não tendo mais como chave do que o que aqui vou podendo ler.
É que, quando agora diz "viagem feita de muitos modos", sigo-o se se refere a percursos pessoais. Claro. O problema nunca esteve aí, mas em saber se pode haver, ou não, viagem conjunta a partir do que somos, e não apenas a partir do que poderíamos talvez vir a ser. Ou se conjunta é apenas a possibilidade de 'mudança' (?) interior. 'Escola Lusófona' seria a meu ver, então, o nome secreto do MIL...
Ora, aqui chegados, estamos perante um dilema, agora que o MIL é o que é e agora que alguns de nós pelo menos entendem que ele pode e deve ser alguma coisa: encontrar aquilo que será o estreitíssimo caminho (que certos grupos do 'ocidente' tão dramaticamente exprimiram no último século) entre a 'aparente inacção' polar e o imparável 'cavalgar do Tigre', que poderão ser os perenes Sila e Caribdis...
Exprimo-me devagar, e cautelosamente.
Esse caminho, ou a sua existência, essa possibilidade de passagem entre o rochedo e o abismo, essa busca do Estreito de Magalhães ou da Passagem do Noroeste, parecem-me a mim ser o mais fundamental esteio do 'modo português' de colectivamente estar e andar (e por ser colectivo não me refiro à 'filosofia' nem à 'iniciação' portuguesa e finistérrica), que é o da navegação. Para não largar Camões, o mais jovem dos grumetes também pôde desembarcar na Ilha, ao lado do Gama (sem que com isso as suas respectivas funções se dissolvessem).
De outro modo, viveremos um angustiante 'Cântico Negro' ao contrário: 'não vás por aí!' será a única coisa que o supremo Gama (ou a 'primeira função' ou a 'causa última'...) poderá dizer ao resto da realidade (e da marinhagem) se se esquecer de que - é curioso como voltamos a uma conversa já tida - a Ilha apenas surge após a Índia, e esta depois do Adamastor e este para lá do Tejo. De que a Ilha não era o objectivo da viagem, embora talvez fosse íntimo desejo pressentido de todos. E se se esquecer de que, na morte e no alto mar, todos os homens são iguais.
É que não basta aos marinheiros (e aos povos que aguardam o regresso) sentir sabedoria nos capitães: guarda-os também a firmeza e a segurança dos pilotos. E para estes o serem, tem que haver rota traçada.
Nisto tudo, não vejo perversão - que seria a da revolta titânica, individual ou das massas (ainda que oceânicas). Vejo o perigo dela, como os marinheiros viam decerto os ventos contrários. Aí, a nossa parte da aventura.
Também pelo risco de equívoco, deixe-me voltar ao meu 'segundo ponto' que também o surpreendeu; não sei se por sentir que, participando aqui no blog, e certamente com sacrificio do seu tempo pessoal, foi injusta a exclusão do seu nome dos dialogantes.
Eu referi-me ao diálogo 'pontual' e 'concreto': em torno de problemas e não em torno de princípios (sem os esquecer). Se quiser:
- em torno da CPLP e da sua função;
- em torno da possível abertura da República Portuguesa para uma aproximação política a outros Estados lusófonos, e em torno da organização social e económica que à República deveremos dar se, por exemplo, o Passaporte Lusófono' se traduzisse na chegada maciça (por bem recebidos que fossem, e oxalá sejam) de imigrantes lusos.
- Da (re)organização a ter em tempo de alterações climáticas, de tempestade financeira, de 'choque' (tão provocado) de 'civilizações', de falência de sistemas educativos 'europeus', de desertificação das paisagens exteriores e interiores.
- Em torno do Acordo Ortográfico em tempos de analfabetismo galopante, e da 'tradução para inglês' (como se propõe não sei já em qual dos documentos MIL/NA) da cultura portuguesa, em tempos em que o sub-inglês é a maior arma da neutralização global;
- Em torno da revitalização (patriótica? municipal? imperial? mística?) dos laços de fraternidade e de confiança entre os homens, em tempos de sociedades que viram ruir as antigas muralhas (abafadoras ou não) sem que tenham visto afastar as ameaças (fantasiosas ou reais);
- Em torno da Europa a que estamos presos, por ilusão (no sentido que o Miguel Real lhe dá) ou interesse, e daquela que pode ser por nós chamada ao Alto Mar: em tempos de satelização americana, de perturbação a leste, de dependência energética, de burocratização auto-sustentada, de deriva num continente que nunca aprendeu da navegação senão a bússula falsamente dourada dos piratas.
E a lista continua...
Nisto tudo, como estar sem degradação, mistura com a 'política' baixa, enredação em compromissos inconfessados? E como estar sem pairar olimpicamente, apenas recordando os mais fundamentantes princípios?
No fundo: pode a Águia não ser apenas ave de rapina - e não ser apenas Zeus Olímpico?
Essa, meu caro Paulo, é a parte em que sou eu que digo que há já em nós caminho andado: sem menosprezo pela advertência ou ensinamento que nos deu aqui nas "Cinco Quinas", que fazemos quanto a estes pontos, e tantos outros?
Que fazemos, quero eu dizer: conjuntamente - no MIL ou por ele. O que faz cada um, nisso e para além disso, é da esfera do coração.
Mas: não começámos já a fazer?!
Casimiro, quando digo que nesta casa há muitas moradas e muitos modos de fazer o caminho, refiro-me não a caminhos interiores, mas ao caminho conjunto que já é o MIL. Quanto às questões concretas que levanta, elas prendem-se com a decisão, ainda em debate, acerca do que deverá ser o MIL: um movimento cultural e cívico, como neste momento é, ou um movimento também mais assumidamente político e interventivo. Na situação presente, a CC do MIL achou que deveríamos permanecer um movimento sobretudo cultural, embora sem recusar pensar e discutir, a partir daí, a política. Seja como for, as questões que levanta devem ser debatidas, mas não vejo como isso seja possível num blogue. Como tenho vindo a propor, na CC do MIL, há que passar do plano virtual para o real e estamos a pensar organizar palestras e conferências regulares onde as pessoas se conheçam e debatam ideias face a face. Por outro lado, creio que para avançarmos nos vários domínios de uma aplicação prática dos nossos princípios orientadores, há que criar grupos de trabalho e reflexão sobre questões específicas. Teremos aí todo o gosto em contar com a sua colaboração e com a de todos os que se queiram associar. E creio que só a partir desse conhecimento e trabalho mais concretos se pode verdadeiramente decidir o que queremos que o MIL seja, também em função dos recursos humanos, não quantitativos mas qualitativos, que estiverem disponíveis.
Assumo que, por formação e vocação, me sinto mais à vontade na formulação dos primeiros princípios e dos fins últimos, em termos espirituais, intelectuais e éticos, mas se me conhecesse melhor e à minha vida creio que não me compararia a nenhum Zeus olímpico. Desde há muito que assumi e assumo como programa de vida "cavalgar o tigre". Mas isso, como deve saber, não se esgota na política, que na verdade, pese a aparência, é até o "tigre" mais inofensivo... quase de "papel".
Ah, gostei muito desta sua resposta, e espero não ser eu agora a lê-lo mal.
Ainda estou a sorrir com a conclusão: caro Paulo, mesmo sem o conhecer pessoalmente, Zeus não lhe quadra :) (agora sou eu que cordialmente digo para não pessoalizar...) Mas recordo que o nascimento prematuro de Baco o obrigou a ser guardado, por algum tempo, na divina coxa do Olímpico...
Do resto, espero, continuaremos a falar... Mas "permanecer um movimento sobretudo cultural, embora sem recusar pensar e discutir, a partir daí, a política" parece-me de salientar, aplaudindo. Não vejo quem, aqui, discorde disso ou queira coisa diferente.
Cordiais cumprimentos,
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