A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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terça-feira, 9 de setembro de 2008

Rui de Noronha (1909-1943).

Desafio

Quando do nada a criação foi feita
Cansado, pôs-lhe Deus ponto final.
Mas a sua obra não ficou perfeita
E fendeu na junção do bem e do mal.

Vê-se a treva por essa fenda estreita
Da abóbada de lodo e de cristal,
E por aí Satan o mundo espreita

E desafia o seu velho rival.
Um dia, quando a vida foi nascida,
Satan estendeu a mão, filhou a vida
E disse: "Vamos ver quem é mais forte!..."

E apertou-a e estorceu-a, qual demente,
...A vida desmaiou, tombou doente,
E ficou desde então apenas morte..."

Rui de Noronha, cit. in. Elsa Noronha, África Surge et Ambula. Rui de Noronha - Poeta Moçambicano. Ed. de Espaço Rui de Noronha Associação, 2006, p. 102

Encontro

Vinha descendo o Mal, o Bem subindo.
Na curva de um caminho se encontraram
O mal desdém mostrou e o Bem sorrindo
Humilde deu bons dias. Conversaram.

"Eu sou, dizia o Mal, quem repelindo
Os Homens pela Dor de um Bem buscaram.
A Dor é a mãe de tudo, pois carpindo
Um Deus não tendo os Homens o inventaram.

E quem és, humilde, tal te vejo?
Qual é no Mundo, ó Bem, o teu desejo?
Maiores teus poderes são que os meus?

"Eu sou a causa apenas do que existe.
Sem mim seria o Mundo um ermo triste.
E não teria causa o mesmo Deus."


IBID.,p. 103.

Rui de Noronha é um grande grande poeta lusófono, com uma vida curta, de "apenas" 34 anos. Trata-se duma vida imensa, quer pela sua riqueza biográfica, quer pela grandeza das obras que deixou.
Há, de facto, homens que vivem muito em poucos anos, ou fazem dos anos da sua vida um espelho, cantante e luminoso, da eternidade.
O que mais me atrai neste poeta é a sua aparente proximidade, ou aproximação, à poesia de Antero de Quental, como se pode comprovar pelos dois poemas apresentados acima.
A forma como entende Deus, bem como a História e as suas injustiças, tal como o Amor e as suas aventuras ou desventuras, e África, esse sonho aparentemente adormecido, naquela época, mostra que este espírito indómito visa o Futuro e dá-nos vislumbres do que tem que ser. Não só o Futuro, mas a nossa dádiva do Presente a todos os que partilham connosco o espaço da afirmação da nossa humanidade, ou daquilo que descobrimos em nós como sendo belo, puro, indemne.
Estes dois poemas, aparentemente diversos, apontam para alguns dos paradigmas fundantes do pensamento lusófono, e cito apenas, para além de Antero, Sampaio Bruno, Leonardo Coimbra, Teixeira de Pascoaes, só para me ficar na proximidade epocal desta vida que se nos abriu desta forma, legando-nos palavras seminais. O facto de só aqui referir autores portugueses deve-se às minhas limitações. É meu propósito ir à procura de outros marcos, nascidos noutros litorais, mas marcados pela mesma elevação primordial, afinal a que nos torna herdeiros duma constelação de tradições sapiensiais, marcada pela diversidade e pela comunicação, expressa ou subtil, e urdida por uma língua caótica, babélica, que sobe, elevando e, desce, resgatando, para elevar de forma definitiva e total, uma língua que se dá plenamente, que se deixa diferenciar e se torna útero de outras línguas, línguas que vêm de dentro dos homens, e se espalham pela terra como torrentes de um fogo que anuncia a Idade da Frátria.
O coração fala (em) todas as línguas.
Nestes poemas há uma subtil alusão à co-pertença do Bem e do Mal a uma esfera de inautenticidade que não é primordial. O Deus que se cansa ao criar deve, em primeiro lugar fazer-nos reflectir na impossibilidade dos criadores se cansarem, coisa que Rui Noronha, incansável, saberia muito bem. É que esta obra divina, fruto do amor exuberante, já é um depois, uma largada. E podemos ver aqui alguns reflexos da queda em Deus brunina. Mas só alguns reflexos. Mas também do anelo anteriano por um Deus salvador, resgatador, um Deus que pode ser concebido como uma continuação pneumatológica da ilusão denunciada por Feuerbach, mas uma ilusão que ganha vida, criacionalmente, e se assume como uma nova forma de vida, superior, saudosa, imperitura, como se pode ver, por exemplo, no pensamento ígneo de Pascoaes e na poesia alada de Leonardo Coimbra. É bom de ver que "pensamento ígneo" e "poesia alada" são quase o mesmo.
É, então, o confronto entre o Bem o Mal, uma coisa segunda, mas não secundária.
Ambos, o Bem e o Mal, são sementes. Mas o Bem, é semente de Deus, porque no fundo, bem lá no fundo, bem lá para além do julgar e do confrontar, Bem e Mal não existem. O que existe são os frutos do Bem.
E, por fim, cabe-me homenagear Elsa de Noronha, filha de Rui de Noronha, incansável divulgadora da poesia do seu pai e dos grandes poetas da lusofonia. Hoje radicada em Portugal tem uma marcante e constante intervenção junto da juventude, nas escolas e associações culturais. É uma das mais presentes portadoras de luz entre nós.

(Elsa de Noronha)

E deixo um grito muito actual, dirigido à África de Sempre por um homem que estará sempre de pé, lá onde os homens nunca se quererão abatidos, ou subjugados:

"Dormes! e o mundo marcha, ó pátria do mistério.
Dormes! e o mundo rola, o mundo vai seguindo...
O progresso caminha ao alto de um hemisfério
E tu dormes no outro o sono teu infindo..."

5 comentários:

Paulo Borges disse...

Muito interessante! Sabes onde se pode encontrar este livro?

Paulo Feitais disse...

Foi-me oferecido por um amigo da Elsa Noronha. Vem acompanhado dum cd. Eu depois dou-vos os dados. :)

Carlos Gil disse...

de há bastante tempo este é o único post que me deu vontade de comentar.
para, além de manifestar a minha comunhão com o seu conteúdo, ombrear na homenagem justíssima à minha Amiga Elsa de Noronha.

(o livro está disponível na Ass. Rui de Noronha ou por mail directo à Elsa. se alguém o pretender, e-maile-me particularmente)

Carlos Gil disse...

ou tentem por aqui - embora o site esteja algo 'descatualizado' - pois possui os contactos

http://associacaorui.tripod.com/index.htm

Paulo Feitais disse...

Obrigado Carlos!
:)