"Quem disse que o Brasil foi colônia de Portugal? Esse pergunta serve para os historiadores convencionais, que não sabem passar além das aparências e das idéias feitas. Na verdade, a Colônia não passava de uma fachada por trás da qual o que existia realmente era uma província da Santa Sé. O fenômeno já foi destacado por um historiador dos mais honestos e categorizados, João Adolfo Hansen. Segundo sua leitura do padre Vieira, o Brasil colonial não era mera feitoria da Coroa portuguesa, e sim um projeto de "integração harmoniosa dos indivíduos, dos estamentos e ordens do Império português, desde os príncipes da casa real e cortesãos aristocratas até os mais humildes escravos e índios bravos do mato, vivendo sua redenção coletiva como um corpo místico unificado ("Sermões", em Lourenço Dantas Mota (org.), Introdução ao Brasil. Um banquete no trópico, São Paulo, Editora SENAC São Paulo, 1999).
As "Imagens do barroco" [referência à Mostra do Redescobrimento, em São Paulo, em 2000] nos levam diretamente ao cerne mais íntimo do que foi o projeto do Brasil Colônia: um corpo místico, integrando em si Brasil, Portugal e a Igreja, a Igreja da Contra-Reforma. Seria preciso reescrever a história do Brasil, partindo duma visão maior"
As "Imagens do barroco" [referência à Mostra do Redescobrimento, em São Paulo, em 2000] nos levam diretamente ao cerne mais íntimo do que foi o projeto do Brasil Colônia: um corpo místico, integrando em si Brasil, Portugal e a Igreja, a Igreja da Contra-Reforma. Seria preciso reescrever a história do Brasil, partindo duma visão maior"
- Gilberto de Mello Kujawski, Ideia do Brasil. A Arquitetura Imperfeita, São Paulo, Editora SENAC São Paulo, 2001, pp.13-14.
O desafio é retomar hoje este projecto, liberto da sua canga opressiva e unilateralmente religiosa, num corpo lusófono não menos "místico", enquanto uno e orgânico em termos de língua e cultura(s) e animado pela espiritualidade laica de um ecumenismo multi e trans-religioso. No que respeita a Portugal é o projecto de Pessoa e Agostinho, que se enraíza na depuração da nossa comum tradição histórica. No regresso de uma semana no Brasil, constato que esta visão começa a suscitar entusiasmos que rompem o muro de preconceitos e estreitezas de aquém e além-Atlântico. Mas ainda falta muito para derrubar esse pior inimigo que é o auto-desprezo que brasileiros (e portugueses) cultivam, como o nota o autor deste arguto livro. Sem cair na auto-exaltação arrogante do nacionalismo egocêntrico. É sempre o mais difícil, o caminho do meio, que não é um meio-termo, mas um para além dos termos!
2 comentários:
O problema é que esse caminho do meio é difícil para os indivíduos, quanto mais para os povos! Mas isso só o torna mais desejável.
Quanto à Lusofonia, precisamos todos de nos reeducar no seu espírito. O que começa por nos embebermos da sua cultura profunda, popular e erudita. Porque não uma Universidade livre orientada para a Lusofonia e para os valores universais nela presentes?
Mas quantas pessoas que aqui colaboram sabem alguma coisa de cultura lusófona? Que sabem, por exemplo, portugueses e brasileiros uns dos outros? A maioria não sabe nem quer saber!...
Enviar um comentário