1. No meu quarto de licenciatura em Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa fui aluno do Professor João Paulo Monteiro, em Filosofia Contemporânea. Guardo boa memória dessas aulas, que muitas vezes se reduziram a um diálogo entre mim e ele. Lembro-me que uma das questões que mais discutimos foi – imagine! – a possibilidade de o mundo realmente não existir, de tudo o que consideramos “real” não passar de uma ilusão gerada pelo nosso cérebro… Para dar maior “verosimilhança” à hipótese, desenvolvemos até o seguinte cenário: um cérebro, imerso numa tina, completamente “desincarnado”, que ia produzindo sensações: de um corpo ilusório, de um mundo ilusório, etc., etc. Nada, aliás, de excessivamente bizarro – apenas uma variação contemporânea da hipótese cartesiana do “Deus enganador” (por sua vez, uma variação de hipóteses mais antigas, presentes em todas ou quase todas as mitologias…). Um dia talvez venha a reconstituir esses diálogos. Mas jamais aqui os publicarei. Sabe porquê? Seria excêntrico num espaço como este…
2. A vida não se esgota no plano da língua, da cultura ou da pátria. Apesar de eu neste blogue falar quase sempre nesse plano, sei perfeitamente isso. Há dimensões da minha vida que eu não trago para aqui – não porque não as tenhas (não sou assim tão “limitado”!), apenas porque este não é o lugar mais adequado…
3. O projecto NOVA ÁGUIA, que depois se desdobrou no MIL, tem como seu documento fundador o “Manifesto da NOVA ÁGUIA”. Esse documento foi, em primeiro lugar, subscrito pelo Paulo Borges, pela Celeste Natário e por mim próprio, os três membros da Direcção. Não é grande segredo o facto de ter sido o Paulo a redigir o documento. O estilo é facilmente reconhecível. Se tivesse sido eu a redigi-lo, faria, decerto, um documento mais sucinto, mas reconheço-me nele no essencial. Por isso o subscrevi e tenho andado por todo o país a dar a cara por ele, nos muitos lançamentos da NOVA ÁGUIA.
4. Pois bem: nesse “Manifesto”, em lugar algum se fazem considerações ontológicas sobre a existência ou não existência do mundo, muito menos sobre a existência ou não existência de “Deus”. Não porque o Paulo ou a Celeste ou eu próprio não tenhamos posição sobre isso. Apenas porque esse tipo de considerações não poderiam caber no “Manifesto da NOVA ÁGUIA”.
5. O mesmo se passa quanto aos autores que aqui citamos, melhor dito, quanto ao modo como aqui os citamos. Eu, por exemplo, cito muito o José Marinho (autor sobre o qual realizei, entretanto, o meu Mestrado e Doutoramento), mas só o tenho citado, em particular, sobre o seu conceito de Pátria enquanto “universal concreto”, bem como sobre o seu conceito de Filosofia, na sua relação com a Língua e a Cultura. Obviamente, o pensamento de Marinho está muito para além disso. Marinho, por exemplo, desconstrói, por inteiro, o conceito de Deus Criador/ Providencial. E eu até me reconheço muito nisso. Mas não venho falar disso para aqui. Sabe porquê? Porque acho que, neste projecto, cabem pessoas que acreditam no Deus Criador/ Providencial…
6. Tudo isto para dizer que, neste Blogue, devemos falar mais daquilo que nos une do que aquilo que, inevitavelmente, nos separa. O que nos une? A “crença” (ilusória ou não) na importância da Língua e da Cultura, concretizado mais, na importância da Lusofonia, da CPLP, etc., etc. O que nos separa? Tudo o resto…
7. Dir-me-á que o que mais importa está nesse “resto”, nomeadamente o grande sentido da existência. Acredite que eu até acredito nisso: mas a NOVA ÁGUIA não foi gerada para resolver os grandes problemas da existência… Não é defeito, é feitio! Para isso, há outros espaços, outras revistas, outros blogues. Por isso, aliás, por exemplo, o Paulo criou a “Serpente Emplumada”: por ter percebido que há certo tipo de questões que na NOVA ÁGUIA são excêntricas…
8. Dito isto, não estou a convidá-la a sair, mas, tão-só, a convidá-la a recentrar mais o seu discurso sobre aquilo que nos une…
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra).
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa).
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286.
Donde vimos, para onde vamos...
Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)
Albufeira, Alcáçovas, Alcochete, Alcoutim, Alhos Vedros, Aljezur, Aljustrel, Allariz (Galiza), Almada, Almodôvar, Alverca, Amadora, Amarante, Angra do Heroísmo, Arraiolos, Assomada (Cabo Verde), Aveiro, Azeitão, Baía (Brasil), Bairro Português de Malaca (Malásia), Barcelos, Batalha, Beja, Belmonte, Belo Horizonte (Brasil), Bissau (Guiné), Bombarral, Braga, Bragança, Brasília (Brasil), Cacém, Caldas da Rainha, Caneças, Campinas (Brasil), Carnide, Cascais, Castro Marim, Castro Verde, Chaves, Cidade Velha (Cabo Verde), Coimbra, Coruche, Díli (Timor), Elvas, Ericeira, Espinho, Estremoz, Évora, Faial, Famalicão, Faro, Felgueiras, Figueira da Foz, Freixo de Espada à Cinta, Fortaleza (Brasil), Guarda, Guimarães, Idanha-a-Nova, João Pessoa (Brasil), Juiz de Fora (Brasil), Lagoa, Lagos, Leiria, Lisboa, Loulé, Loures, Luanda (Angola), Mafra, Mangualde, Marco de Canavezes, Mem Martins, Messines, Mindelo (Cabo Verde), Mira, Mirandela, Montargil, Montijo, Murtosa, Nazaré, Nova Iorque (EUA), Odivelas, Oeiras, Olhão, Ourense (Galiza), Ovar, Pangim (Goa), Pinhel, Pisa (Itália), Ponte de Sor, Pontevedra (Galiza), Portalegre, Portimão, Porto, Praia (Cabo Verde), Queluz, Recife (Brasil), Redondo, Régua, Rio de Janeiro (Brasil), Rio Maior, Sabugal, Sacavém, Sagres, Santarém, Santiago de Compostela (Galiza), São Brás de Alportel, São João da Madeira, São João d’El Rei (Brasil), São Paulo (Brasil), Seixal, Sesimbra, Setúbal, Silves, Sintra, Tavira, Teresina (Brasil), Tomar, Torres Novas, Torres Vedras, Trofa, Turim (Itália), Viana do Castelo, Vigo (Galiza), Vila do Bispo, Vila Meã, Vila Nova de Cerveira, Vila Nova de Foz Côa, Vila Nova de São Bento, Vila Real, Vila Real de Santo António e Vila Viçosa.
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13 comentários:
Estimado Renato,
Compreendo a sua posição, se é do interesse da Nova Águia que não se fale destes assuntos não voltarei (aqui) a eles.
A minha visão do papel da Língua e Cultura Lusófonas no mundo inclui, inevitavelmente, estas questões por mim levantadas, mas sim, a minha...
Abraço Amigo.
Caro Renato Epifânio,
Este deve ser provavelmente o post mais lúcido que alguma vez aqui li. Se há algo a lamentar, talvez seja a sua demora em aparecer.
Quanto ao resto, e como o Agostinho dizia, espero que não seja só a crença que anime a importância que é dada à nossa língua e à nossa cultura; mais que isso, a convicção que nasce, depois da análise da história da cultura portuguesa, desemboca naturalmente na defesa de tudo isto exactmente porque é inevitável concluir que Potugal tem um destino, e até um dever, (como também dizia o Agostinho) não só para si próprio, mas sobretudo para com o mundo. Ora, sendo nós portugueses, esse dever é o dever de cada um de nós.
Renato, aplaudo este post, e como diz o Daniel, «Se há algo a lamentar, talvez seja a sua demora em aparecer.»
Um abraço
Sábias palavras, meu caro Renato.
Eu acrescentaria: sejamos práticos, meus Senhores; este é o blogue do MIL.
Seria conveniente que,antes de mais,quem ainda não o fez,lesse a "Declaração de Princípios e Objectivos".
Um abraço.
Fui escuteira e há muita filosofia no escutismo, as regras de vida comum são simples. Mas há sempre quem queira ser bandeira, talvez seja solidão, quem se acha génio incompreendido e profeta.
Espero que este não seja o blog do MIL, seria mau.
Resposta a lara.
Então siga o conselho que dei acima e, depois, releia os seus comentário,todos eles.
Não foi Você que afirmou que não percebia o que se passava neste blogue que quando alguém discordava lhe passavam logo um atestado de estúpidez?
Não concordo consigo, mas se é essa a sua percepção então verifique se a resposta não estará nos seus comentários.
Resposta a lara.
Então siga o conselho que dei acima e, depois, releia os seus comentário,todos eles.
Não foi Você que afirmou que não percebia o que se passava neste blogue que quando alguém discordava lhe passavam logo um atestado de estúpidez?
Não concordo consigo, mas se é essa a sua percepção então verifique se a resposta não estará nos seus comentários.
Mesmo em duplicado não entendi. A minha relação com a língua é mais simples, digo o que me parece, tento ser clara e não deixar fios soltos.
O que comentei dos seus textos fi-lo porque tenho esse direito, um direito crítico de discordar, de me insurgir e de manifestar o que sou.
Não acho que este blog possa ser o blog do MIL, que possa expressar o que o MIL pretenda, porque aqui leio maioritariamente textos ao nível de alunos do 9º ano de escolaridade. Mas vaidade, muita.
Não sou menina, guarde os seus conselhos. Se alguma vez escrever algo que eu ache interessante também usarei a crítica para o elogiar.
Aí está a explicação para o ensino se encontrar como está. Se são esses os valores que passa aos seus alunos,coitados deles.
Não tenho tempo para perder e, além disso, já abri uma excepção pois não costumo dar rélica a gente anónima.
Passe bem.
Renato, subscrevo o que diz o Joao Beato no post acima, baseado nos pontos da declaracao que cita. A restringir-se algo desvirtuamos esses principios. Estou fora do pais, dai as faltas de acentos.
Olhe Arnaldo com a sua insistência em ser sobranceiro e malcriado comigo, que nunca o fui, diga-me qual é a razão maior que me deve impedir de terminar a conversa mandando-o às fezes?
Sou tão anónima para si como você para mim. Chamo-me Lara Afonso Oliveira mas isso não é importante, há aqui muita gente a assinar com pseudónimos.
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