MANDRAKE
O pai prendia a rua:
Cristão não brinca na rua.
O pai desinventava a bola de capotão
De Garrincha, Bellini, Rivelino, Pelé, Tostão.
Crente não joga bola, Deus não gosta.
O pai desproporcionava a infância:
Ler gibis é pecado, não vai pro céu.
E eu era fã do Mandrake, Príncipe Valente,
Flecha Ligeira, Fantasma, Saci e Flash Gordon.
De tanto ler - em casa era castigo ler bastante
De dicionários e jornais à Bíblia
Fiz da minha imaginação uma rua aberta para além da humanidade.
Vi pegadas no céu. Tive rasuras de peregrinações.
Sempre fui muito grosso no futebol, cavalo mesmo.
Um perna de pau que sabia que ki-chute e unha encravada não combinavam
Quando não, por ser crente, era um manteiga derretida, canela de vidro
Que mal sabia dar direito o drible da vaca louca.
Da Poesia fiz almanaque rueiro em fugas letrais
Gibis clandestinos povoaram minha abstração em lavouras-intimidades
Com entrudos de histórias em quadrinhos como se cinesmacope na alma-avelã.
O poeta-caminheiro a escrever acontecências do arco da velha
Pomposos causos pra boi dormir
Entre invencionices desparafusadas e poemas em polaroid.
Assim vim pela vida sendo um guri eterno
Com medo de Deus, com medo do inferno
Chutando a pelota do amargo mundo legal
Para o desmundo das idéias, muito além da triste vida real
-0-
Silas Correa Leite – Itararé, São Paulo, Brasil
E-mail: poesilas@terra.com.br
Site: www.itarare.com.br/silas.htm
O pai prendia a rua:
Cristão não brinca na rua.
O pai desinventava a bola de capotão
De Garrincha, Bellini, Rivelino, Pelé, Tostão.
Crente não joga bola, Deus não gosta.
O pai desproporcionava a infância:
Ler gibis é pecado, não vai pro céu.
E eu era fã do Mandrake, Príncipe Valente,
Flecha Ligeira, Fantasma, Saci e Flash Gordon.
De tanto ler - em casa era castigo ler bastante
De dicionários e jornais à Bíblia
Fiz da minha imaginação uma rua aberta para além da humanidade.
Vi pegadas no céu. Tive rasuras de peregrinações.
Sempre fui muito grosso no futebol, cavalo mesmo.
Um perna de pau que sabia que ki-chute e unha encravada não combinavam
Quando não, por ser crente, era um manteiga derretida, canela de vidro
Que mal sabia dar direito o drible da vaca louca.
Da Poesia fiz almanaque rueiro em fugas letrais
Gibis clandestinos povoaram minha abstração em lavouras-intimidades
Com entrudos de histórias em quadrinhos como se cinesmacope na alma-avelã.
O poeta-caminheiro a escrever acontecências do arco da velha
Pomposos causos pra boi dormir
Entre invencionices desparafusadas e poemas em polaroid.
Assim vim pela vida sendo um guri eterno
Com medo de Deus, com medo do inferno
Chutando a pelota do amargo mundo legal
Para o desmundo das idéias, muito além da triste vida real
-0-
Silas Correa Leite – Itararé, São Paulo, Brasil
E-mail: poesilas@terra.com.br
Site: www.itarare.com.br/silas.htm
3 comentários:
Meu caro Silas !
Fico muito satisfeito por vêr um brasileiro colaborar neste blogue.Infelizmente, são muito poucos e este blogue merecia mais.
Você trouxe-me agradáveis recordações da minha infância.Como vê, deste ou desse lado do Atlântico, a infância era vivida da mesma maneira.
Mandrake, Príncipe Valente, Fantasma,Flash Gordon, etc... também faziam parte do imaginário da minha infância.Só que, nunca gostei de futebol e , para sorte minha, o meu Pai nunca se opôs a que eu lê-se gibis.
Obrigado pelo retorno da fantasia.
Um abraço fraterno.
Fiquei muito satisfeito de ver mais um fã de HQ aqui na Nova Águia.
Pela referência a Flecha Ligeira, você terá mais de 50 anos, então deve ter conhecido os "gibis" da EBAL, do grande Adolfo Ayzen o homem que em 1934 introduziu no Brasil as grandes Histórias em Quadrinhos de aventura, com o Suplemento Juvenil, eu sou fascinado por essa época de ouro da HQ, tanto no Brasil como aqui em Portugal e o meu sonho é criar uma revista lusófona de HQ, que reedite esses clássicos a que se refere, mas também Tarzan e os grandes clássicos Brasileiros e Portugueses, quadrinizados, que a EBAL e o Mosquito publicaram com adaptações de grandes escritores como Jorge Amado ou Eça de Queiroz, isso complementado é claro com o que de mais atual se faz no Brasil e Portugal e acredito que também em outros países lusófonos, embora eu não conheça artistas destes países, mas gostaria porém muito de conhecer.
Obrigado pela sua participação aqui no MIL e espero que continue a sua colaboração.
Saudações MILitantes
Luís Cruz Guerreiro
E já somos três entusiastas de bd por cá, muito bom, principalmente com a crise que assola os hq tanto em Portugal como no Brasil.
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