A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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sábado, 27 de setembro de 2008

Evidências...


VIAGEM NA NOITE LONGA

Na noite longa
minha alma
chora sua fome de séculos

Meus olhos crescem
e choram famintos de eternidade
até serem duas estrelas
brilhantes
no céu imenso.

E o infinito se detém em mim

Na noite longa
uma remotíssima nostalgia
afunda minha alma
E eu choro marítimas lágrimas
Enquanto meu desejo heróico
de engolir os céus
se alarga
e é já céu

Tenho então
a sensação esparsamente longa
de vogar no absoluto.

Mário Fonseca

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QUERO SER TAMBOR

Tambor está velho de gritar
Oh velho Deus dos homens

deixa-me ser tambor
corpo e alma só tambor
só tambor gritando na noite quente dos trópicos.

Nem flor nascida no mato do desespero
Nem rio correndo para o mar do desespero
Nem zagaia temperada no lume vivo do desespero
Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero.

Nem nada!

Só tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra
Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra
Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra.

Eu Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala
Só tambor velho de sentar no batuque da minha terra
Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.

Oh velho Deus dos homens eu quero ser tambor e nem rio e nem flor e nem zagaia por enquanto e nem mesmo poesia.

Só tambor ecoando como a canção da força e da vida

Só tambor noite e dia dia e noite

só tambor até à consumação da grande festa do batuque!

Oh velho Deus dos homens

deixa-me ser tambor

só tambor!

José Craveirinha
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Se só no ver puramente
Me transformei no que vi,
De vista tão excelente
Mal poderei ser ausente,
Enquanto o não for de mi.
Porque a alma namorada
A traz tão bem debuxada
E a memória tanto voa,
Que, se a não vejo em pessoa,
"Vejo-a na alma pintada."

O desejo, que se estende
Ao que menos se concede,
Sobre vós pede e pretende,
Como o doente que pede
O que mais se lhe defende.
Eu, que em ausência vos vejo,
Tenho piedade e pejo
De me ver tão pobre estar,
Que então não tenho que dar,
"Quando me pede o desejo."

Como àquele que cegou
É cousa vista e notória,
Que a Natureza ordenou
Que se lhe dobre em memória
O que em vista lhe faltou,
Assim a mim, que não rejo
Os olhos ao que desejo,
Na memória e na firmeza
Me concede a Natureza
"O natural que não vejo."

Luís Vaz de Camões
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Vemos o que desejamos, o desejo molda-nos as formas do que encontramos no mundo, essa rebeldia de não nos querermos em plenitude. Sentimo-nos em falta e ao faltarmo-nos ficamos sem chão para a semeadura do sentido e do que escapa à nossa compreensão, mas que, mesmo assim, se dissemina a cada momento e em cada acto nosso desenha a evanescência do que não é necessário e não será da ordem do acontecer.
Os limites dentro dos quais se nos apresenta aquilo que temos por evidente são uma ferida que nenhuma metafísica pode sarar. Por isso a evidência gera o agudizar da cisão e instaura, pela falsa soberania dum Bem encarado como supremo, o totalitarismo da visão ensimesmada, que a si própria se assume como o próprio do ser e do pensar. É isto uma torção da tradição platónica, uma vez que o Bem, na sua incontestável soberania, é o que está para além da evidência. É o colapso da visão, a implosão do ser auto-consciente, a impossibilidade da metafísica. E da política, encarada como a instauração da soberania do Bem no mundo.
Por isso todos os tentames de imposição duma estrutura onto-teleológica ao viver humano, fundamentada na soberania do Bem, encarada como o que instaura o firme e o justo no horizonte inessencial do acontecer e do querer colectivos, acabam por se revelar a afirmação do mal absoluto.
Por isso, a autêntica soberania nada tem que ver com o exercício do poder, já que a verdadeira potência não se exerce, actualiza-se e anula-se ao ver-se consumada, mas com a transcensão dos limites enclausurantes, concreções aberrantes duma visão metafísica do mundo.
É na palpitação do vivo e na concreção imaginal da aspiração ao absoluto que o espírito se consuma sem que se consuma o seu ímpeto transcensor. Só atinge o futuro o que assume em si a natureza do não acontecido. O futuro é o que já aconteceu, mas nunca foi visto. Dito doutra forma: o futuro é o que nunca começa. O que principia a partir da impossibilidade do tempo e da presença auto-suficiente.
Essa a verdadeira soberania, anipotética, absolutiva. “Esse nada que é tudo”. É no seio do impossível, do Bem Soberano, que todos os possíveis se consumam na impermanência do eterno. O desejo instaura a permanência e a auto-suficiência, limita e cinde. Ora, a luz é incindível, mas ilusória. A sobre-exposição à luz embota a visão e gera a cegueira enquanto vidência, esvaziamento do poder ver que é a verdadeira natureza do desejo. Há, pois, auto-engano no assumir da evidência.
Por esta razão, o poder político será sempre simbólico, a contrapartida castradora da diabolia do existir. Deste modo o caótico e o excessivo são limitados pela moral e pelas economias do gozo, instauradoras do medo e da culpa. E, também, da recusa da autêntica soberania que é a que cada um se ver liberto da necessidade de haver moral e do sentido moral da necessidade.
Por esta razão a escatologia política é um mal necessário: há que dar solução às excrescências do sonho e da liberdade de ser tudo, sendo nada, de ser nada, sendo tudo. Por isso a História é, enquanto sistema, um sucedâneo metafísico dos sistemas de saneamento público. Instaura uma visão apropriável pelos que vivem nos limites da sanidade e da anormalidade da norma e da conformidade.
O futuro não tem história. Mas dá origem à história.
Temos que gerir esta temporalidade enquinada. Há que adubar o solo arável com os desperdícios que resultam da recusa colectiva do sonho e da vida verdadeiramente soberana. Talvez assim possa despontar o próprio do que somos. O que nos excede e nos
realiza.

1 comentário:

lara disse...

Troveja e chuvisca.