Agostinho da Silva defendia o "regresso à educação que tinham os portugueses na Idade Media, a educação da vida e viver a vida", acreditando que "o caminho para a sabedoria é experimentar o mundo, ver o mundo todo por completo." Esta forma radicalmente diferente de ver a Educação não tanto como uma mera transmissão de conhecimentos académicos e teóricos esta diametralmente oposta a este modelo agostiniano.
A Educação agostiniana é provavelmente o legado mais fecundo do seu pensamento. O desenvolvimento das suas ideias básicas implicaria uma escola sem salas de aula, nem professores e sobretudo sem programas de ensino. Os alunos - tidos assim como plenas "crianças" e não mais como "mini-adultos" ou como "futuros adultos" poderiam expandir na maior liberdade possível a sua criatividade e inventividade. Sem os espartilho castrador de "programas de ensino" nem de "matéria a dar", os alunos reunidos na natureza ou num qualquer lugar comunitário teriam que identificar, desenvolver e apresentar um determinado trabalho de fim-de-ano em função do qual seriam avaliados com precisão e cuidado, sem o facilitismo institucional que infectou o sistema educativo moderno e que ameaça corroê-se a sociedade a partir de dentro.
A figura do "professor" - verdadeira herança de um ensino escolástico onde a "autorictate" era critério essencial do ensino - nesta nossa visão pessoal, mas derivada do raciocínio de Agostinho da Silva seria substituída pela do "tutor", superiormente orientado por um "conselho democrático de tutores" que administraria de forma absolutamente democrática e autónoma a escola cuja manutenção seria da responsabilidade das autoridades municipais, dando cumprimento ao salutar principio da prioridade às entidades locais na boa administração das necessidades e recursos locais. Não falamos aqui, contudo, de uma "escola" no sentido atual do termo... Em vez de salas com mesas, cadeiras e quadros, teríamos laboratórios, observatórios, salas de estar e de estudo, gabinetes de estudo e bastas bibliotecas e salas de informática. Em todos estes espaços haveriam tutores especializados nas mais diversas matérias, capazes de orientar os alunos nas matérias onde estes manifestassem mais interesse e potencialidades criativas e de realização pessoal. A prioridade desta "Escola Livre" seria assim não a de oferecer canudos e diplomas inúteis e formais, mas a de produzir criações originais, dos mais diversos tipos, desde a electrónica e marcenaria à pintura e escultura.
7 comentários:
Cada vez mais acho que ou se lê mal Agostinho da Silva ou há muitos agostinhos. De qualquer modo não concordo, é impraticável, seja dito por Agostinho da Silva ou por quem o interpreta.
'Criança' e 'adulto' são conceitos de época, fazer de um filosofia é igual a fazer do outro. 'Criança plena' nada diz, nada acrescenta. A pedagogia é prática, orienta-se para escalões etários, não é uma utopia, mesmo que sempre a queiram doutrinar. Sem programas, sem aulas, sem matéria, é o que já temos por defeito, não vale a pena dar peso ao caos. Os tutores já existem, e por aí.
Por outro lado na Idade Média a educação não era democrática, apenas existia nas universidades e nalguns professores privados para filhos de nobres e gente rica. Não havia escolas, e a maioria da população europeia era analfabeta.
Lara: O movimento das escolas Waldorf mostra que e possivel promover, na actualidade, este tipo de educacao a um grupo muitissimo mais amplo do que as elite a que te referes.
Cada qual tem o direito a ter a sua perspectiva e a sua visão de atualização do pensamento de Agostinho. O professor nunca quis aliás ser "fundador" de Escolas, apenas quis levar a pensar. Foi isso que aqui, derivando a partir do seu genial pensamento e do seu fascinante atrevimento pelas coisas novas.
E "utopia" apenas existe para quem nela não se atreve a pensar... O que pensariam os escolásticos do século XIV do tipo de ensino (imperfeito) que hoje temos nas faculdades? Uma... "utopia"???
Caro Clavis:
As crianças da Idade Média não estudavam para um mercado de trabalho. Faziam a sua aprendizagem prática de camponeses ou de artesãos (conforme o nascimento) ou então beneficiavam, se fossem nobres ou monges, da espada dos guerreiros: que previamente asseguravam, a uns e a outros, o sustento até ao fim da vida.
No limite, havia terra disponível para dar umas couves e uns coelhos, se alguém quisesse meditar por conta própria (e a seu próprio risco).
Quero dizer com isto que não queiramos eremitas que saibam que a polícia, os tribunais, os hospitais públicos e coisas dessas continuam ao seu dispor, se quiserem eremitar.
Outra coisa é a questão da educação obrigatória. Conheço pais que pensaram seriamente em pura e simplesmente não levar os seus filhos para a "escola", e ensiná-los em casa (só um casal o chegou a fazer). Como uma vez me advertiu amigavelmente o Paulo Borges a respeito do Império, falta aqui, previamente, toda uma pedagogia: vivemos num mundo (refiro-me ao "ocidental") em que se discute a possibilidade de "interferência" dos pais na educação religiosa dos filhos, por exemplo.
Mas estou disposto a que discutamos seriamente a ideia de convencer os Estados lusófonos a prescindir da educação obrigatória. Talvez Portugal fosse o que mais beneficiasse disso.
O Agostinho da Silva defendeu montes de coisas, com a liberdade do filósofo. Misturar isto com "autoridades municipais" pode vir a ser uma boa ideia - estritamente política. Ah, mas se vamos entrar nos caminhos da "Politica" digamo-lo já. E, note-se: Política não é aquilo a que os Cristãos chamaram "O Reino de Deus". Política é a Cidade do Homem.
Um abraço
PS. Ainda não tive possibilidade para comentar o seu comentário, uma desgraçada semana. Lá irei em breve!
Clavis, reli e parece-me melhor explicar que "política" também não é o que os jornais por isso entendem... Não duvido de que o meu Amigo o saiba, mas sei lá quem vai ler este comentário apressado...
Um abraço
Cara Ana Margariada vou tomar o tratamento por tu como lapso. Quanto ao resto cada pedagogia mostra o que defende. Mas no ensino em Portugal em todos os níveis não há pedagogia desde a reforma de Veiga Simão e os professores apenas adaptam com sensatez os programas que vêm da tutela. E é a sensatez que me faz afirmar que 'voltar à Idade Média' no ensino não faz sentido, porque não há ensino na Idade Média, excepto nos casos que referi.
Outras coisas que entretanto foram aqui ditas, é tudo demasiado aleatório para que possa comentar, não tenho por onde.
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