A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Alvores da Frátria

"A flor humana é infinita. Olhai as suas raízes, filamentos presos das Alturas, indo de Sol a Sol. Mas o seu perfume é a sua excedência, a saudade, e mora nas almas, no sentido íntimo de todo o ser que quer penetrar, é para um pleno entendimento de amor que quer penetrar, é para um pleno entendimento de amor que se evola.
Os sentidos enraízam-se no Universo, mas a alma quer a compreensão interior, uma universal simpatia, comovida e atenta."
Leonardo Coimbra, Dispersos I, Ed. Verbo, Lisboa, 1984, p.153.

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Capítulo 30
Da bela prédica que fizeram em Assis S. Francisco e Frei Rufino, quando pregaram nus

Vivia o dito Frei Rufino, pela contemplação continua, tão absorto em Deus, que ficara quase insensível e mudo, e caríssimas vezes falava; e também não tinha a graça nem a coragem nem a facúndia de pregar. No entanto S. Francisco uma vez mandou-o que fosse a Assis e pregasse ao povo o que Deus lhe inspirasse.

Ao que Frei Rufino respondeu: "Reverendo pai, peço-te que me perdoes e não me mandas lá; porque, como sabes, não tenho a graça de pregar, e sou simples e idiota".

Então disse S. Francisco: "Por não teres obedecido prontamente, ordeno-te pela santa obediência que nu como nasceste, somente de bragas, vás a Assis, entres numa igreja e assim nu pregues ao povo". A esta ordem Frei Rufino se despe e vai nu a Assis e entra numa igreja; feita a reverência ao altar, subiu ao púlpito e começou a pregar. Pelo que os meninos e os homens começaram a rir e disseram: "Ora, ai está, fazem tanta penitência que se tornam malucos e fora de si". Neste entrementes S. Francisco, repensando na pronta obediência de Frei Rufino, o qual era dos melhores gentis-homens de Assis, e na dura ordem que lhe dera, começou a repreender-se a si mesmo, dizendo: "De onde te vem tanta presunção, filho de Pedro Bernardone, vil homenzinho, para ordenares a Frei Rufino, o qual é dos melhores gentis-homens de Assis, que fosse nu pregar ao povo, como um louco? Por Deus; que hás de experimentar em ti o que ordenaste ao outro".

E imediatamente no fervor do espírito fica nu do mesmo modo, e vai a Assis e leva consigo a Frei Leão para carregar-lhe o hábito e o de Frei Rufino. Vendo-o da mesma forma. os assisienses escarneciam, reputando que ele e Frei Rufino tivessem endoidecido pelo excesso de penitência. Entrou S. Francisco na igreja onde Frei Rufino pregava estas palavras: "Ó caríssimos, fugi do mundo, deixai o pecado, restitui o bem alheio, se quiserdes evitar o inferno; obedecei aos mandamentos de Deus, amando a Deus e ao próximo, se quiserdes ir ao céu.

E fazei penitência, se quiserdes possuir o reino do céu". Então S. Francisco subiu ao púlpito: e começou a pregar tão maravilhosamente do desprezo do mundo, da penitência santa, da pobreza voluntária, do desejo do reino celeste e da nudez e do opróbrio da paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, que todos os que ouviam a prédica, homens e mulheres em grande multidão, começaram a chorar fortissimamente com incrível devoção e compunção de coração: e não somente ali mas por toda Assis houve naquele dia tanto choro pela paixão de Cristo como nunca houvera igual.

E assim edificado e consolado o povo pelo ato de S. Francisco e Frei Rufino, S. Francisco vestiu a Frei Rufino, e a si; e assim vestidos voltaram ao convento da Porciúncula, louvando e glorificando a Deus que lhes havia dado a graça de se vencerem a si mesmos pelo desprezo próprio, e edificarem as ovelhinhas de Cristo com bom exemplo e de demonstrarem quanto o mundo é desprezível. E naquele dia cresceu tanto a devoção do povo para com eles, que bendito se considerava quem lhes podia tocar na orla do hábito.

Fioretti de S. Francisco.
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"A alma duma cousa é sua clara
E transcendente imagem; seu perfil,
Isento de impurezas, reduzido
Ao íntimo cristal, à transparência:
A presença incorpórea, já liberta."

Teixeira de Pascoaes, Regresso ao Paraíso, Assírio e Alvim, p. 16.

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A nudez primordial. A loucura divina, ou a humana entrega à vida sem constrangimentos.
Quem consegue despir-se das suas roupas, das suas diferenças, para assumir a sua radical diferença, a sua originalidade irrevogável, mas, quase sempre, preterida e oculta nas vias de conformidade do viver quotidiano?
Os poetas? Talvez esses sejam os verdadeiros políticos, os dispersos de si, os que a si mesmos se expõem à dilaceração e ao abandono dos trilhos já por demasiadas vezes percorridos. São vários na sua própria unicidade e são unos na sua diversidade. Isto é o que é a alma humana, ou seja, o complexo do humano reduzido à transparência do cristal pela alquimia amplificante, plenificante, do Amor.
E esse nomadismo, essa deriva, é o que há de mais incompreensível neste mundo da concretude e da ensimesmada ilusão da permanência e da suficiência.
Os homens rasgados por dentro, como lhes chama José Marinho, são os que precisam da Frátria. Não estando libertos, vivem uma íntima liberdade, afirmativa ou, então, firmada na negação, mas não se libertaram ainda da necessidade de decidir. Mas todo o seu ser tem o sabor da união originante, da "compreensão interior", ou seja, da "universal simpatia".
Mas é, ainda, uma compreensão, é ainda uma visão pretérita em relação à Origem, sempre exuberante e nunca ultrapassável ou preterível.
A Origem está sempre no Futuro, essa anterioridade absoluta de onde emergem os mitos e para onde os homens julgam que se dirigem quando se entregam ao pathos arqueológico, à busca do Princípio. Ora, há que não confundir o Principal com o Princípio, encarado como o que vem antes, porque antes do que existe nada vem, posto que tudo devém, do Futuro para o passado.
Toda a vida na planura é horizontal, está circunscrita.
Por isso, o viver autêntico não tem um espaço nem tem um tempo. É de todo o espaço e de todo o tempo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Textos destes, profundos, valem a pena e honram este espaço. Por isso não têm comentários.