Frente à globalização e suas exigências, as nações e suas culturas lutam pela sobrevivência. O difícil é encontrar o equilíbrio entre a força da evolução e o respeito às tradições. Talvez a palavra chave seja: adaptação.
Numa conversa entre amigos, num destes dias, alguém disse que o açoriano era um povo individualista, pouco afeito à política.
Como açoriana de nascimento, com mais de três séculos de ascendência insular, não deixei de pensar que havia um fundo de verdade naquela assertiva.
Em todo o povo há um perfil especial, que o caracteriza. Seja na aparência, no espírito aventureiro ou belicista, na tendência artística ou comercial, na pesquisa ou na capacidade produtiva. Não importa qual a vocação, ele sofrerá a ação incontrolável da evolução. Só a capacidade de adaptação e resistência é que vai determinar se irá ou não desaparecer.
Dizem os psicólogos que a personalidade é a qualidade que identifica um individuo, segundo seus padrões de ações, embasados nos seus sentimentos, pensamentos e emoções. Se é verdade que as informações genéticas trazidas no DNA das células ditam comportamentos, também é verdade que eles se alteram com a poderosa força das situações que ocorrem no meio ambiente. E a cultura adquirida através dos tempos, como fonte de aprendizado e adaptação, é fator de sobrevivência.
Com o açoriano não foi diferente. Isolado no meio do Atlântico Norte, apesar da importância como ligação entre continentes, emigrante e colonizador por necessidade, era praticamente desconhecido pelos próprios portugueses, que só ouviam falar deles em épocas de crises frumentícias ou naturais.
Resultado de uma miscigenação européia ( flamenga, galega,francesa, inglesa), majoritariamente portuguesa, com alguns sefarditas e escravos negros africanos, foi moldado pela força da lava vulcânica e mergulhado no mar-oceano, seu destino e sua esperança. Sozinho, frente aos caprichos da natureza, encontrou na fé ao Divino Espírito Santo e no misticismo, força para superar sua fragilidade humana e impotência.
Como parte insular de Portugal desde o século XV, submetido à política portuguesa do Continente que não oferecia condições suficientes de proteção, instrução e desenvolvimento que o capacitasse para atingir uma autonomia administrativa (coisa só conseguida no século XX), o açoriano, sem perspectiva, caiu numa paralisia e imaturidade política e cívica. Salvou-o do ostracismo e da patologia psico-social a direção dada aos seus objetivos. Passou a investir naquilo que tinha domínio e poder: na sua capacidade de resistir e superar obstáculos. Picou a pedra vulcânica e fez terra para plantar, lançou-se ao mar e tornou-se um caçador de baleias. Trabalhou a madeira e o marfim do cachalote, plantou o pastel, a uva e a laranja, fez no tear colchas e tapetes, criou cabras e bois, brincou com as escamas de peixe e com o miolo da figueira, sua mulher fez rendas. Com os piratas e corsários aprendeu que quando se é mais fraco, a barganha é a moeda mais eficaz.
Quando precisou, emigrou e, em outras plagas, ajudou a construir comunidades com a pujança de seus braços e sua cultura.
À principio, achou na Igreja a pouca instrução que teve. Desenvolveu suas potencialidades pessoais. Quando tinha condição financeira, foi estudar no Continente e no estrangeiro. Apesar de todas as dificuldades, deu a Portugal o primeiro presidente da República, oradores, poetas e escritores, como Antero de Quental e Natalia Correa, reconhecidos na literatura portuguesa.
Entre os seus sentiu-se igual, por falta de estratificação sócio-econômica. O nível educacional é que fazia a diferença.
A distancia do governo central, deu-lhe um sentido de maior independência. Passou a julgar e a valorizava mais o lado individual que o coletivo.
O estilo do açoriano que conheci, dentro da minha família, era aberto com o estrangeiro, hospitaleiro, compassivo com o diferente, mas não se contagiava com outras idéias facilmente. Tinha uma personalidade forte, embasada, autodidata, individualista, mas carregada de humanismo. Desconfiada de governos, rejeitava a sociedade robotizada e desumanizada pelas suas próprias características. Curiosa com as novidades, instruía-se. Aceitava a globalização, desde que, isolado, fosse dono da sua própria opinião e respeitado na sua decisão.
Quanto ao futuro... só o tempo e Deus poderão mostrar o que vai acontecer a este povo, que chega ao século XXI com essas características, agora, porém, com o apoio da educação e tecnologia.
Maria Eduarda Fagundes
Uberaba, 12/08/08
Numa conversa entre amigos, num destes dias, alguém disse que o açoriano era um povo individualista, pouco afeito à política.
Como açoriana de nascimento, com mais de três séculos de ascendência insular, não deixei de pensar que havia um fundo de verdade naquela assertiva.
Em todo o povo há um perfil especial, que o caracteriza. Seja na aparência, no espírito aventureiro ou belicista, na tendência artística ou comercial, na pesquisa ou na capacidade produtiva. Não importa qual a vocação, ele sofrerá a ação incontrolável da evolução. Só a capacidade de adaptação e resistência é que vai determinar se irá ou não desaparecer.
Dizem os psicólogos que a personalidade é a qualidade que identifica um individuo, segundo seus padrões de ações, embasados nos seus sentimentos, pensamentos e emoções. Se é verdade que as informações genéticas trazidas no DNA das células ditam comportamentos, também é verdade que eles se alteram com a poderosa força das situações que ocorrem no meio ambiente. E a cultura adquirida através dos tempos, como fonte de aprendizado e adaptação, é fator de sobrevivência.
Com o açoriano não foi diferente. Isolado no meio do Atlântico Norte, apesar da importância como ligação entre continentes, emigrante e colonizador por necessidade, era praticamente desconhecido pelos próprios portugueses, que só ouviam falar deles em épocas de crises frumentícias ou naturais.
Resultado de uma miscigenação européia ( flamenga, galega,francesa, inglesa), majoritariamente portuguesa, com alguns sefarditas e escravos negros africanos, foi moldado pela força da lava vulcânica e mergulhado no mar-oceano, seu destino e sua esperança. Sozinho, frente aos caprichos da natureza, encontrou na fé ao Divino Espírito Santo e no misticismo, força para superar sua fragilidade humana e impotência.
Como parte insular de Portugal desde o século XV, submetido à política portuguesa do Continente que não oferecia condições suficientes de proteção, instrução e desenvolvimento que o capacitasse para atingir uma autonomia administrativa (coisa só conseguida no século XX), o açoriano, sem perspectiva, caiu numa paralisia e imaturidade política e cívica. Salvou-o do ostracismo e da patologia psico-social a direção dada aos seus objetivos. Passou a investir naquilo que tinha domínio e poder: na sua capacidade de resistir e superar obstáculos. Picou a pedra vulcânica e fez terra para plantar, lançou-se ao mar e tornou-se um caçador de baleias. Trabalhou a madeira e o marfim do cachalote, plantou o pastel, a uva e a laranja, fez no tear colchas e tapetes, criou cabras e bois, brincou com as escamas de peixe e com o miolo da figueira, sua mulher fez rendas. Com os piratas e corsários aprendeu que quando se é mais fraco, a barganha é a moeda mais eficaz.
Quando precisou, emigrou e, em outras plagas, ajudou a construir comunidades com a pujança de seus braços e sua cultura.
À principio, achou na Igreja a pouca instrução que teve. Desenvolveu suas potencialidades pessoais. Quando tinha condição financeira, foi estudar no Continente e no estrangeiro. Apesar de todas as dificuldades, deu a Portugal o primeiro presidente da República, oradores, poetas e escritores, como Antero de Quental e Natalia Correa, reconhecidos na literatura portuguesa.
Entre os seus sentiu-se igual, por falta de estratificação sócio-econômica. O nível educacional é que fazia a diferença.
A distancia do governo central, deu-lhe um sentido de maior independência. Passou a julgar e a valorizava mais o lado individual que o coletivo.
O estilo do açoriano que conheci, dentro da minha família, era aberto com o estrangeiro, hospitaleiro, compassivo com o diferente, mas não se contagiava com outras idéias facilmente. Tinha uma personalidade forte, embasada, autodidata, individualista, mas carregada de humanismo. Desconfiada de governos, rejeitava a sociedade robotizada e desumanizada pelas suas próprias características. Curiosa com as novidades, instruía-se. Aceitava a globalização, desde que, isolado, fosse dono da sua própria opinião e respeitado na sua decisão.
Quanto ao futuro... só o tempo e Deus poderão mostrar o que vai acontecer a este povo, que chega ao século XXI com essas características, agora, porém, com o apoio da educação e tecnologia.
Maria Eduarda Fagundes
Uberaba, 12/08/08
1 comentário:
Ah... Açores nação minha...
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