Para se fazer uma óptima omoleta é preciso mais que os ovos: recheio ao gosto mas que case em paladar, condimentos que alourem gostos e cheiros, e ornamentos para alindá-la no prato. E técnica.
Passemos à questão, tudo em cima da bancada:
(dose para 2 pessoas)
Instrumentos & morfes:
- vasilhame para mexer os ovos;
- uma colher de pau para esse efeito, ou uma daquelas coisas que é um pau com, na sua ponta, um arame enrolado, enrolado, enrolado, formando uma elipse; visualmente será parecido com uma antena de rádio dos camiões militares no teatro de operações; porém, nunca vi uma destas curiosas coisas pintada em tons de camuflado... se não houver a tal antena nem colher de pau, um garfo, uma colher, ou até um pau chinês ou uma esferográfica também servem (se se usar esta, fazê-lo com o lado oposto ao bico mergulhado na gemada, ou pôr a tampa p.f.)
- uma frigideira das anti-esturro;
- tampa para a frigideira que deve ser igual ou maior que o diâmetro da frigideira; menor não dá: eu já experimentei;
- fogão (e gás); fósforos, acendalhas ou isqueiro electrónico;
- 4-5 ovos;
- salsa picada;
- cebola também picada;
- o recheio a gosto que pode ir do banal fiambre (o da pá 'passa' muito bem), presunto, sobras do almoço, ou nada e pensa-se que está lá tudo.
- margarina, óleo, azeite ou manteiga para untar o fundo da frigideira (e as bordas também, no mínimo até 2/3 da sua altura, lado interior claro)
- uma coisa daquelas com buracos, que é de tirar as batatas fritas (escorredor?)
Fase 1:
Partem-se os ovos para dentro do vasilhame; a técnica, a boa e ancestral, diz que é só feito com uma mão e assim: bate-se com o ovo na beira da bancada, se possível sem olhar e mantendo conversação com alguém: o efeito é garantido, pois essa pessoa ganha um respeitinho do caraças por quem faz uma coisa dessas de 'olhos fechados'; depois eleva-se rapidamente a mão que traz o quebrado, discretamente enfia-se um dedo pelo buraco por onde pinga o branco ranhoso, e mete-se tudo (branco + amarelo) no vasilhame; com o tal dedo e mais outro à escolha, tiram-se os bocados de casca que foram misturados. Meter sal à conta.
A seguir, e antes de se mostrar o poderio dos bíceps (fazer omoletas é actividade de verão), vai-se buscar a esfregona para limpar os pingos de ranho d'ovo no chão.
Bate-se até estar tudo misturado: fica uma espécie de leite-creme com borbulhas;
Mete-se tudo lá para dentro e mexe-se outra vez; o leite-creme passa a exibir resíduos sólidos boiantes.
Fase 2:
Acende-se o fogão e põe-se lá a frigideira, previamente untada da forma descrita (usam-se os dedos, dá um toque de glamour à confecção, à la mâitre); nos primeiros dois minutos da cozedura põe-se a tampa na frigideira pois dá um ar mais aloirado à gemada enquanto ela ferve.
Quando estiver vai não vai para começar a cheirar a queimado, enfim nesta parte tem de haver sensibilidade de conhecedor, mete-se todo o vasilhame lá para dentro, menos o dito. Tempera-se com piri-piri do bom.
Olha-se, sendo impossível fazê-lo sem se ficar fascinado vendo os lados do protótipo de omoleta embranquecerem e enrijarem, no meio um caldo onde estão as excremências que lá pusemos, o 'recheio', boiando num caldo amarelo que ferve. Aproxima-se o grande momento...
Interlúdio
Toma-se o peso ao escorredor (?), e simulam-se golpes de esgrima com ele; esta fase de treino é muito importante pois do seu bom manuseamento dependerá a 3ª fase da operação omoleta, a decisiva. O pulso tem de ser ágil no impulsionar brusco do escorredor em voltas de 180º. Fundamental.
Assim que com treino e fé suficientes, e sempre de olho na frigideira onde o branco já começa a ficar castanho e o caldo até estala que nem o Vesúvio, passa-se à Fase 3:
Fase 3: a Hora dos Duros
Espeta-se com o escorredor num dos lados da semi-omoleta, rasgando habilmente a parte colada à frigideira e de forma a colocar a ferramenta por baixo da caldeirada amarelada que ferve. A ideia é virá-la, ou no todo ou pelo menos em metade. Fazer como que uma 'sandes', haver dois lados cozidos por igual com o dito recheio de pataniscas chamuscadas lá no meio. É o momento da verdade.
Fase 4:
Desliga-se o fogão e metem-se os ovos mexidos no prato, e degustam-se acompanhados de estalinhos da língua. Dizer que estão fenomenais e negar indignadamente que alguma vez se pretendeu fazer uma reles omoleta.
(imagem gamada aqui. mais uma vénia)
6 comentários:
É a silly season! LOL!!!
Pá, tu não reúnes condições para viver só: podes morrer! JAJAJAJA!!!
Olha, atiras a cena prá frigideira e nem é preciso margarina! Já fiz sem e ficou do good, com aquele saborzinho a chapa de chaimite e sol! :)
Abraço.
JAJAJAJAJAJAJAJA!
Vou testar a receita!
Lord: falas assim porque nunca provaste o meu esparguete! longe de procurar analogias, mas esse avental deu uma valente ajuda a uma noite de sedução duma Dama ;-)
(mais tarde confessou a uma amiga que viu que a única maneira que se lembrou de me fazer parar de cozinhar e perigar-lhe a saúde, foi encher-me de mimos e beijos. mas o meu orgulho de Chef diz-me que isso foi balela dela, pois era a puxar para o anoréxica :-))
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biazinha: óptima ideia, vais ver que são um must! vê é se tens os instrumentos todos, qu'essa parte é mais complicada do que parece: na cozinha há coisas de função altamente enigmática e outras com nomes do arco-da-velha :-)))
Como é que eu posso odiar um tipo assim???
Impossível!
Dolu tu!:)))
Beijinho.
(smiley coradito...)
;-)
Mas que receita tão divertida!
Tem é cuidado com as frigideiras, e quejandos antiaderentes, que são muito tóxicos.
Além do mais nunca deveriam ser usados com utensílios de metal; Só de madeira; pois estraga-os mais depressa.
E nós a comermos aquele plástico sintetico de mistura com a nossa bela comidinha.. iac!
Mas fartei-me de rir, à gargalhada, com o teu texto.
Muito obrigada!
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