A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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sábado, 19 de julho de 2008

Vicente Ferreira da Silva (1916-1963) 45 anos da sua morte


Quando pediram à poeta Dora Ferreira da Silva, a melhor fotografia do marido, Vicente Ferreira da Silva, para a publicação da sua obra pelo Instituto Brasileiro de Filosofia surpreenderam-se com a imagem escolhida por ela: Vicente de calção de banho, a apanhar sol: “Perguntaram se não tinha uma foto em que ele estivesse de fato e gravata, mas eu não tinha. Ele não era um filósofo tradicional”, disse Dora.

“O homem é o revelador das coisas, aquele que transforma em verbo, em linguagem, em expressão, o que jaz na obscuridade do irrevelado”.
Vicente Ferreira da Silva, Dialéctica das Consciências

Vicente Ferreira da Silva nasceu em São Paulo, no dia 10 de Janeiro de 1916, e morreu, na mesma cidade, apenas com 47 anos, no dia 19 de Julho de 1963. Licenciou-se em Direito pela Universidade de São Paulo mas nunca exerceu advocacia, dedicando-se à reflexão filosófica e ao ensino. Deste modo, fundou, em 1945, o Colégio Livre de Estudos Superiores. Ainda no início da sua carreira, colaborou com o filósofo norte-americano Willard Quine (1908-2000), aquando da passagem deste pela Universidade de São Paulo. Desta colaboração resultou, por parte de Vicente, o ensaio Elementos de Lógica Matemática. Ao lado de Miguel Reale (1910-2006), no fim da década de 1940, fundou o Instituto Brasileiro de Filosofia e, conjuntamente com a sua mulher, Dora Ferreira da Silva (1918-2006), criou a Revista Diálogo. Com os amigos portugueses Agostinho da Silva (1906-1994) e Judith Cortesão (1914-2007), o casal Ferreira da Silva viveu, durante alguns meses, na serra de Itatiaia, na qual experienciaram momentos de inolvidável beleza, liberdade e criação.
Num funesto acidente de carro, Vicente Ferreira da Silva deixou uma vida ainda a meio, uma obra que tinha tudo para ser muito maior do que aquela que ele nos deixou.
Fascinado pela escola fenomenológica, discípulo de Martin Heidegger (1889-1976), para o pensador brasileiro Vicente Ferreira da Silva, o Homem é um ser hermeneuta e dialecta, ou seja, é um buscador de sentido daquilo que ele próprio é, em coexistência com os outros seres, e daquilo que o originou. O Homem é uma ponte entre si próprio e os outros, entre si próprio e Deus. Vicente apresenta, então, o Homem como um ser relacional. Na realidade, a existência do eu coloca-se somente a partir da existência do tu. O eu só é pleno e completo porque o tu existe. Ser-eu é ser-com-o-outro. A existência é uma co-existência, a consciência do eu (consciência de si) é uma consciência do outro. Esta conversação é uma troca de consciências, é uma dialéctica entre a consciência do eu e a consciência do outro. Trata-se, no fundo, de um reconhecimento, de um reconhecimento do eu e de um reconhecimento do outro. Quando o eu se reconhece, reconhece-se imediatamente o e no outro. Este processo consiste numa transcensão de ser, o eu transcende-se no outro, aquilo que é puramente objectivo ultrapassa-se e ascende ao subjectivo. No fundo, o processo de reconhecimento é a manifestação do ser do eu a si próprio e aos outros, é a fixação da verdade existencial. Reconhecer é doar ser e sentido de ser. O acto de reconhecer é o desvelamento do ser e da verdade, é o trânsito do não-ser ao ser, da não-verdade à verdade. O Homem é um ser completo, ou seja, é o seu corpo, o seu sangue e o seu espírito. O Homem é a reunião do corpo e do espírito, a sua essência é a essência de Deus. O Homem é um ser profano e divino, corpóreo e espiritual. Este é o Homem Novo, é o Homem que reconhece nas suas possibilidades o advento da sua própria presença, da sua independência (mas não superioridade) face à matéria e à objectividade.
A noção de liberdade associada ao Homem é explanada por Vicente, tal como Heidegger também formula nas suas obras, através da metáfora do jogo. O jogo, enquanto metáfora das infindas possibilidades que cercam a vivência humana, é uma actividade ontológica superior. Ao jogar, o Homem afirma a sua liberdade, isto é, afirma as suas opções e vontades. Diante dos múltiplos caminhos que se lhe deparam, o Homem, através do jogo (a que Vicente também chama de práxis lúdica), tem a possibilidade de optar por aquele que mais lhe agrada e convence. Neste aspecto, o jogo é uma metáfora da superação do ser-se imediato, é uma metáfora da transcendência. No jogo, o Homem assemelha-se ao ser divino e escolhe o seu destino, actualiza todas as potencialidades que o moldam. Resumidamente, o jogar, como agir lúdico, é uma abertura para a transcendência. Contudo, nem sempre o jogo é uma actividade social, por vezes, o jogo deve ser encarado de uma forma solitária. Para o autor brasileiro, é imperioso que, de tempos a tempos, o Homem jogue sozinho, isto é, que apenas ausculte a imensidão do seu ser. Nesse agir solitário, o Homem terá possibilidade de se encontrar, a si próprio e ao outro.
Se a solidão, enquanto dialéctica do afastamento, visa conceder ao Homem uma bagagem ontológica e existencial que lhe permite conhecer-se e conviver com o outro, de outra forma, o Amor, enquanto dialéctica da aproximação, proporciona que o Homem se realize plenamente enquanto tal. Para Vicente Ferreira da Silva, a dialéctica das consciências só se cumpre inteiramente quando dois elementos, aparentemente contrários (Solidão e Amor), se fundem.
Bibliografia
Elementos de lógica matemática (1940)
Ensaios filosóficos (1948)
Exegese da acção (1954)
Dialéctica das consciências (1950)
Ideias para um novo conceito de homem (1951)
Teologia e Anti-humanismo (1953)
Instrumentos, coisas e cultura (1958)
Obras Completas, 2 vols. (1964-1967)
Dialéctica das Consciências e Outros Ensaios (Lisboa: IN-CM, 2002)

1 comentário:

Vicente Ferreira da Silva disse...

O "Dialéctica das Consciências e outros ensaios" revolucionou a percepção da minha consciência.
Em 2007, a Fundação Eng.º António de Almeida, editou um livro da minha autoria - Metafísica [Poética] - que dediquei a este brilhante pensador, do qual sou homónino.
Gostaria de lhe reproduzir três poemas, incluidos no livro, porque me vieram à mente enquanto lia o seu excelente "post".


Dialéctica das Consciências

No cerne do mundo
está a exposição de Entes.

Nessa massa original,
o informe individual,
aprende,
educa-se
e desenvolve-se.

A forma aparece
na moldagem da inteligência.

A transição dialogante entre os homens,
acontece
no exterior e nos desafios da Natureza.

Entre o Ser, o Outro e os demais universos
– tangíveis e intangíveis –
há um nexo indissociável.

E,
resultante dum processo de auto-afirmação,
o Eu existe pelo confronto.

Mas a Consciência apenas evolui no respeito!

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Solidão

"Somente ao homem é dada a solidão" - Vicente Ferreira da Silva, filósofo brasileiro (1916-1963)

Meio de franquear o real,
átrio para a liberdade.

Recolha necessária à progressão,
a solidão,
é possibilidade de reavaliação
do todo social
e evolução individual.

Mas,
não há simplicidade
no rompimento humano.

E para ser genuíno,
tem que advir duma atitude positiva.

Na solidão,
a consciência reconhece-se.

A solidão admite o encontro!

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Novo Homem

"…o nosso novo infinito" - Nietzsche

As dimensões são possibilidades
infindas.

Espaço e tempo.
Entes e coisas

Também há infinitas
perspectivas.

Em todas e em tudo,
o precípuo é liberdade

Profundamente extensível.
Onde nem o possível
é fátuo.

Novo Homem.
Múltipla existência.

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