A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
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Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

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quinta-feira, 3 de julho de 2008

Da importância das pequenas grandes palavras...


Há uns anos, graças a uma boa recomendação, comecei a ler Hanna Arendt e, entre outras coisas, retive algo que li no seu texto "Verdade e Política" sobre a questão do trabalho. Segundo a autora, o trabalho terá sido visto como uma espécie de mal necessário nas sociedades europeias até à eclosão da Revolução Industrial; altura em que , de repente, o trabalho passa a ser veiculado como um valor fundamental para a elevação espiritual dos individuos e até como espécie de meta ou objectivo humano.
Explica a autora que é paradoxal que o advento da máquina que constituia um dos mais antigos sonhos humanos, o de poder o homem dedicar-se a actividades mais edificantes que o trabalho, fosse também o evento que precipitaria o homem para uma dedicação ao trabalho nunca antes vista na história até aquela altura.
Maiores são as considerações de Hanna Arendt acerca deste assunto, mas como faço um esforço de memória acerca das suas palavras e por não ter aqui o livro comigo neste momento, recomendo a leitura do texto original a quem ainda não o tenha feito.


Hoje, ao reler Pinharanda Gomes deparo-me com algo que me fez completar um pensamento acerca desta palavra "Trabalho":

(...)"Para se designar uma qualquer actividade produtiva, ou produtora, com uso, ou da mente, ou das mãos, os latinos tinham uma palavra, labor, palavra esta que subsistiu até aos nossos dias, em duas formas: a erudita, labor, significando esforço, tarefa, doação, e a popular, lavoura, significante do que os latinos designavam por cultura dos campos, a agricultura." (...)

(...)"Trabalho, na acepção que históricamente lhe temos dado, era coisa inexistente. De tudo isso sabiam os escritores bíblicos do Génesis, muito especialmente aqueles que, redactores do cap. 3, versículo 18, receberam de Deus a mensagem, segundo o qual o homem comeria o pão amassado com o suor do rosto. Aí, nessa perícopa bíblica, ia-se ligeiramente introduzindo uma noção penitencial do labor. Em todo o caso, os mestres rabinos negaram-se a aceitar que o criador pudesse infinitamente castigar sem pau nem pedra, só por causa de um pecado, devido à condição humana.
Deram, aí, os exegetas rabínicos, uma volta ao texto. E, no livro acerca da observância das festas da Páscoa, o Pesakhim, que pertence ao segundo livro do Talmud, à passagem 118 a, extrairam da sentença uma certa e dinêmica moralidade: Em virtude do seu labor, o homem eleva-se acima da condição animal. "(...)

(...)" Cultivar a terra, transformar matéria, transportar objectos, prestar serviços, foram coisas que houve sempre. O que não obrigou desde logo à surgência desta palavra terrível - o trabalho.
Com efeito, trabalho é, na origem, um termo depressivo. Era ignorado dos que laboravam, era conhecido doas que não laboravam, sobretudo nos últimos dias do Império Romano. Aos preguiçosos e vadios era, por vezes, imposto o castigo terrível das três estacas, o tri-palium, que sucessivamente deu tripalo e tribalho e trabalho. Aliás, no meio do nosso povo, que fala português, ainda é frequente alguém dizer não desejar meter-se em trabalhos, e, há poucos anos, nas bermas das estradas, havia sinais com o letreiro «trabalhos» - que tanto podia significar obras como os trabalhos em que os motoristas se iriam meter e que, por isso - ao tempo em que o Dr. Raul Machado fazia «charlas» na televisão - as Obras Públicas mandaram apagar e substituir por «obras»." (...)


As alterações numa lingua serão mais do que a tentativa de a não deixar morrer apagando o que cai em desuso e introduzindo o que se usa correntemente. As palavras são imbuidas de intencionalidade, emocionalidade e significado, a mudança de apenas uma delas pode determinar e significar inicios e términos de modos de vida ou de modos de aproximação à própria 'vida' de milhões de pessoas. A lingua portuguesa não deve morrer por diversas razões que me escuso a enumerar mas que a principal que me ocorre neste momento é o facto de eu mesma a estar a escrever neste momento; mas o que dizer de certas palavras?

Ao ler as palavras de Hanna Arendt, fiquei a perceber que o conservadorismo Inglês até servia para algumas coisas boas, pelo menos serviu para manter lado a lado as palavras 'labour' e 'work'. A partir de hoje junto ao meu dicionário corrente a palavra labor não abandonando a palavra trabalho, pois como me respondeu alguém a quem li algumas passagens do texto que transcrevi: "Pois! Deve de ser por isso que eu, por vezes, me sinto empalado!"

E logo por três estacas...

Fontes: Hanna Arendt - "Verdade e Política" (Deixarei as referências correctas do texto mal lhe deite a mão... é o que dá espalhar livros por vários sítios...)
Pinharanda Gomes - "Meditações Lusíadas", 2001, Fundação Lusíada - pp. 25-26.

Imagem aqui.

4 comentários:

Casimiro Ceivães disse...

Cara A Estranha, excelente texto este. A meditação sobre o significado espiritual do labor (ou do trabalho...) é um dos maiores caminhos de libertação das "câmaras de gás da alma", para citar um anónimo daqui que adivinho ilustre.

Seria muito curioso estudar a "guerra" semântica que nos fins do séc. XIX e primeira metade do séc. XX ocorreu em Portugal entre as expressões "classes laboriosas" e "classes trabalhadoras"... E não foi só o marxismo a combater pela segunda.

Como sempre (como aliás está a ser patente aqui...), as coisas ocultam coisas.

Ora et labora.

Cordiais cumprimentos e, se permitido, dois beijos

jawaa disse...

Na verdade um texto excelente pela pertinência, ao lembrar que a língua é um organismo vivo e assim se deve manter e perdurar.
Oportuno lembrar que o trabalho é labor, com as nuances que cada um lhe dá através do que realiza por amor ou por castigo.
Um abraço e obrigada pela partilha de documentos.

andorinha disse...

Como já foi dito, este é um excelente texto.
A dignificação do labor/trabalho é um meio poderoso de elevação espiritual e permite escapar, como muito bem diz o Casimiro às "câmaras de gás da alma".

Não li esse livro de Hanna Arendt.
Mais um a acrescentar à minha já grandita lista para férias.:)
Obrigada pela indicação.

Beijnhos

Jo disse...

Penso que a relação entre o termo "trabalho" e a ideia de sacrifício teve o seu auge na Era Moderna com a hipervalorização axiológica do esforço, da razão e do formalismo e a consequente negação de valores como o prazer, a subjectividade e o humor, associados à ideia de "pecado".
Lipovetsky diz que a moral individual identificou-se largamente com uma pedagogia do “trabalhador infatigável”, glorificou o obstáculo e o esforço em si, pensados como viáticos da liberdade e da dignidade humanas.. E acrescenta que essa época ficou para trás. Hoje, na chamada pós-modernidade, com as alterações axiológicas observadas desde a segunda metade do século XX, o valor moral da procura da felicidade sobrepõe-se cada vez mais ao do dever, e o trabalho liberta-se da ideia de obrigação interior: o evangelho do trabalho foi destronado pela valorização social do bem-estar.

Não me alargo mais, que já vai longo o comentário. Fica só esta reflexão que o teu texto (excelente, como é habitual em ti) me suscitou, ao reavivar memórias de estudos passados.

Um beijo*

PS: a obra de Lipovetsky aqui citada é:
Gilles Lipovetsky, O crepúsculo do dever. A ética indolor dos novos tempos democráticos, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1994