Mulher que já depois de tantos anos da revolução e de revolucionárias, a pedirem, a exigir, condições iguais, ainda aí está lavar a roupa no rio, que consigo leva a tábua de esfregar, os alguidares e o detergente, sem água canalizada ou esgotos.
Nem tempo tem para no rio se mirar, galochas altas calçadas, esfregando a roupa do seu homem….
Olho as sombras e os reflexos, e toda esta beleza, quando tempo tenho
Quando era jovem vinha para aqui namorar e ele dizia-me que era a cachopa mais linda, de entre todas a escolhida, e eu ria-me e ficava todo orgulhosa….…. no rio, enquanto por ele esperava, olhava meu reflexo com os outros misturados e gostava do que via, cabelo comprido muitas vezes feito em trança, delgada como um junco…… que rápido passa a juventude, sem termos tempo de nela mergulhar; quando vamos por ela, já não existe, fica só a marca.
Felizmente não sabemos o que o futuro nos traz, não é que tenha queixas a fazer, porque saúde tenho e trabalho não falta, felizmente, mas é vida de labuta que não me deixa em nada pensar, que faz com que chegue à cama derreada, sem vontade de nada e o meu homem ali a querer mais do que lhe posso dar.
Claro que tem razão, a Senhora, a vida não deveria ser só labuta, mas que havemos de fazer, os homens ainda não nos ajudam, nem me posso queixar do meu, que não é homem que venha da taberna bebido, que bebe também, mas não vem para casa a cair como tantos que por aí andam, nem vem a embirrar com ninguém, que nunca me bateu, tem defeitos como todos nós, mas não são nada por aí além.
Com os filhos? Não senhora, não ajuda com os filhos, mas isso é natural, os filhos é com as mães…está bem que também trabalho, mas os filhos sempre com as mães foram, só lá para a cidade é que as coisas mudaram e isso que está a dizer, deve ser só por lá ouvido.
Mas às vezes ao sábado quando o dia está lindo como hoje, venho para aqui sentar-me e às vezes, se não está ninguém à vista, até me banho, muitas vezes fiz isso quando era garota e mais tarde também, as saudades que tenho do tempo livre que então tinha…..
Não era muito que lá em casa éramos tantos que tinha de ajudar minha mãe, mas sempre tinha mais do que agora.
Mas nesses sábados que para aqui venho, até uma alma nova arranjo, e deixo-me ficar a olhar o rio que vai até Lisboa e penso se um dia me deixasse ficar a vogar nele se me levaria também, tão docemente como o faz às folhas que na água caiem.
Não sei nadar não, mas também não preciso, porque o rio só aqui é quentinho, aqui na margem com água pouca, com este sol depressa aquece. Mas hoje não tenho tempo.
Aquilo que estava a dizer era só a pensar…..é o que penso quando tenho tempo para um pouco descansar. Não me faz falta e daqui não quero sair, o que queremos é ter condições melhores de vida.
Então até qualquer dia. Gostei de estar este bocadinho na conversa com a Senhora…….Ui! mas já me atrasei tanto…..Boa Viagem
2 comentários:
Minhas madrugadoras senhoras, nada receiem, a bomba só destrói a mensagem e provoca uma deslocação de ar mínima.
Amanhã poderão comprová-lo, um pouco mais cedo.
E damos por nós a ler.
…e a concordar com tanto que aqui é dito.
Gostei, imenso.
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