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Donde vimos, para onde vamos...

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sábado, 7 de junho de 2008

Busca do "sentido da vida" e "ideia nacional" atrai leitores russos de Fernando Pessoa

Texto escrito por José Milhazes para a Agência Lusa a propósito do 120º aniversário de Fernando Pessoa.

Uma rápida visita à internet russa mostra que o poeta português Fernando Pessoa (1888-1935) está longe de ser desconhecido entre os leitores russos.

Pelo contrário, traduzido por grandes poetas russos como Boris Pasternak, o autor do romance "Doutor Jivago", e Boris Slutski, Pessoa atrai os que andam à procura do "sentido da vida". Outros buscam na sua poesia a "ideia nacional".

"Os leitores russos não procuram a mesma coisa na poesia de Pessoa. Uns estudam na sua obra o fenómeno da heteronimia, que teve nele o expoente máximo e está ligado à tradição de Dostoievski" refere a professora Olga Ovtcharenko, em declarações à Lusa.

"Mas há outros - continua - que concentram as suas atenções na 'Mensagem', porque nela Pessoa estuda e revela a psicologia e ideia nacionais. Actualmente, na Rússia, assistimos a uma crise de identidade, de nacionalidade, daí o interesse pelo poeta português".

Segundo Olga Ovtcharenko, o escritor nacionalista russo Alexandre Prokhanov escreve muito sobre o Quinto Império, "mas as suas ideias sobre esse tema estão na obra de Fernando Pessoa".

Esta estudiosa da Literatura portuguesa reconhece que, primeiro, descobriu Camões e, depois, ao estudar a continuação da tradição camoniana na literatura lusa, chegou ao séc. XX e a Fernando Pessoa.

O seu interesse por Fernando Pessoa já se materializou na publicação de obras como "Fernando Pessoa e a tradição do ocultismo em Portugal", "Prosa oculta", "Concepção de Deus na obra de Fernando Pessoa" e "Problema do destino histórico de Portugal no ciclo poético de Fernando Pessoa".

Andrei Rodossky, professor de Língua e Literatura Portuguesas da Universidade de São Petersburgo, foi um dos que tentaram traduzir Fernando Pessoa para russo, mas desistiu.

"No início da minha actividade de tradutor, debrucei-me sobre 'Mar Português', mas essa tradução não foi publicada por ter um nível baixo e porque foram editadas traduções da obra de Pessoa de muito boa qualidade. Virei-me para Mário de Sá-Carneiro", disse.

Este professor é conhecido entre a comunidade lusófona na Rússia não só pela excelente tradução de obras de Mário de Sá-Carneiro, mas também de outros poetas portugueses modernos.

Rodossky atribui a existência de numerosas traduções da poesia de Fernando Pessoa para russo ao facto de "ele ser um lírico apurado, profundo, e de existirem traduções que dão uma imagem perfeita da sua riqueza poética".

"Obras como a 'Mensagem' são mais populares entre os russos que se interessam pela História de Portugal, enquanto que a maioria dos admiradores de Pessoa se interessa pela sua lírica, de um psicologismo profundo, que reflecte profundamente sentimentos e emoções", sublinha.

"Além disso - continua - a obra de Fernando Pessoa coincide temporariamente com o Século de Prata da poesia russa (primeiro terço do séc. XX). Este período era censurado pelo regime comunista e, quando cai, os russos estudam-no com intensidade, interessam-se pelo que se escrevia na Europa nessa altura e vão dar a Fernando Pessoa, um dos expoentes poéticos da época".

A obra poética de Fernando Pessoa foi numerosas vezes publicada na União Soviética e na Rússia.

Além das traduções de poemas dispersos por conhecidos poetas russos como Boris Pasternak e Boris Slutski (este ocupou-se da poesia do heterónimo Álvaro de Campos), é de salientar a publicação da colectânea "Lírica", com prefácio de Jacinto Prado Coelho, em 1978, "35 sonetos ingleses de Pessoa", traduzido por Valerii Pereleshin, bem como outras colectâneas em 1988 e 1989.

Pereleshin, pseudónimo de Valerii Salatko-Petryshche, foi um poeta que saiu da Rússia em 1917, depois da vitória da revolução comunista. Viveu na China até 1952 e depois no Brasil. É nesse país lusófono que este poeta traduz para russo parte da obra de Fernando Pessoa e alguns sonetos de Luís de Camões.

Mas a maior edição das obras poéticas de Fernando Pessoa (Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Coelho Pacheco, Álvaro Campos) foi realizada em 1989 e nela participaram conhecidos tradutores russos de poesia portuguesa como E.Vitkovski, A.Guleskul, A.Kosse, B.Dubin, V.Reznitchenko e S. Aleksandrovski.

Em 1977, Olga Ovtcharenko publica a sua tradução da obra "Mensagem" e Boris Dubin edita em russo "Páginas Dispersas".

No ano seguinte, alguns poemas de Fernando Pessoa são publicados na colectânea "Estrofes do século -2", que reúne poemas dos maiores poetas do século XX.

Em 2006, o poeta português chega de novo aos leitores russos noutra colectânea: "Século da Tradução".

O interesse pela obra de Fernando Pessoa na Rússia aumenta consideravelmente nos últimos anos devido à publicação em língua russa dos romances "Os últimos três dias de Fernando Pessoa", de António Tabucchi, e "Ano da Morte de Ricardo Reis", de José Saramago.

"Foi o primeiro autor que li em português e gostei muito, porque não imaginava que numa língua cheia de "ches" se podia escrever poesia tão lírica e bela", declarou à Lusa Nikita Muraviov, estudante do primeiro ano de língua portuguesa do Instituto de Relações Internacionais de Moscovo.

"É o verdadeiro Pushkin português", qualificou. Alexandre Pushkin é considerado o maior de todos os poetas russos.

A poesia de Fernando Pessoa serve também para vender flores. Várias floristas russas citam o poeta português para promover a sua produção: "E o jardim tinha flores/De que não me sei lembrar... Flores de tantas cores... Penso e fico a chorar...".

Os versos de Pessoa "Se te queres matar, porque não te queres matar?" servem de mote a um estudo do Instituto de Psicoterapia e Psicologia Clínica da Rússia com vista a prevenir o suicídio: "Que dizer a um homem que está no telhado. Texto para impedir suicídios".

3 comentários:

Klatuu o embuçado disse...

«Os versos de Pessoa "Se te queres matar, porque não te queres matar?" servem de mote a um estudo do Instituto de Psicoterapia e Psicologia Clínica da Rússia com vista a prevenir o suicídio: "Que dizer a um homem que está no telhado. Texto para impedir suicídios".

A prevenir?? De facto, os intelectuais russos sempre tiveram traços de piedade sinistra, uma espécie de comunhão sado-masoquista com o sofrimento da vítima... Mas que maneira eficaz de apressar o fim de adversários políticos e de toda a sorte de inadaptados à nova Cortina do Hamburguer! :)

Daniel disse...

Não deixa de ser interessante esta noção de ponte que se estende da Rússia a Portugal, mais a mais quando ela também foi içada, e por Pessoa, de Portugal à Rússia. Se olharmos com atenção para os escritos que Pessoa deixou no seu magnífico conto O Banqueiro Anarquista, encontramos tanto críticas ao sistema comunista russo (e afirmações que se vieram a concretizar), e quase que uma defesa do modelo capitalista que surge como um prenúncio daquilo que o nosso bom Agostinho iria defender uns anos mais tarde. Premonitório, decerto; mas também no anarquismo perfilhado por Kropotkine - aliás saudado por Pessoa com admiração. É curioso como aquilo que nos une, sejamos portugueses ou russos, tão facilmente se sobrepõe às diferenças que entre nós existem no cumprimento da nossa individualidade.

Klatuu o embuçado disse...

É uma leitura possível, mas tão esforçada... Não penso que Pessoa defenda o sistema capitalista (como afirmar o mesmo em relação a Agostinho da Silva acho um exagero), nem que critique a Rússia comunista.

A obra referida é uma parábola sarcástica e cínica, que expressa muito mais o individualismo e voluntarismo da geração europeia (e ocidental) a que Fernando Pessoa pertence, que outra coisa qualquer.

Vendo mais fundo... então teríamos um crítica (semelhante a Pound) ao capitalismo financeiro e à usura e até à democracia (como a fez D. H. Lawrence).

O anarquismo Pessoa finge, e torna-o puro individualismo.