Há já quase 400 anos, notava o padre António Vieira, a propósito da governação de Portugal, a apetência dos governantes para a dilação; para a não decisão.
Ao ter que decidir-se um qualquer assunto: estuda-se, consulta-se, pondera-se, questiona-se, ouvem-se opiniões; mais opiniões, estudos, ponderações… e no fim, ou não chega a decidir-se, por ter caducado a situação e ter-se “resolvido por si”, ou decide-se tão tardiamente (e para vigorar ainda mais tarde) que a decisão é já obsoleta e inadequada, por se terem entretanto alterado as premissas que lhe estiveram na origem. Que a causa disso seja procurar cada qual evitar o seu próprio prejuízo (seja individuo ou grupo), vaidade ferida, ou qualquer outra, não é justificação; parece-me a mim que em comunidade, a bondade das decisões deve considerar o seu todo, até porque, em conclusão, todo o benefício geral se traduzirá inevitavelmente em benefício particular de cada membro.
O que fica dito acima, poderia usar-se como preâmbulo à abordagem de ampla diversidade de temas, mas, agora, estou somente a pensar na questão do acordo ortográfico:
Se não é para fazer, encerre-se a questão. Se é para fazer, faça-se! …e rápido; neste tipo de assuntos, nada pior que a indefinição. Não faço qualquer juízo de valor quanto aos conteúdos do dito acordo ortográfico. Todas as decisões se revestem de aspectos positivos e negativos; todas as mudanças são incómodas, no sentido em que nos obrigam a sair da “segurança” dos hábitos adquiridos. Quero, porém, deixar à consideração do leitor o seguinte:
Se gostas da affectaçaõ, & pompa de palavras, & do estylo que chamaõ culto, naõ me leyas. Quando este estylo mays florecia, nacéraõ as primeyras verduras do meo (que perdoarás quando as encontrares) mas valeome tanto sempre a clareza, que só porque me entendiaõ, comecei a ser ouvido: & o começàraõ tambem a ser os que reconhecérão o seo enganno, & mal se entendião a si mesmos.
Padre António Vieira
I Tomo dos Sermões – 1679
A prolixidade está no enjôo: tres versos maos canção mais depressa, que uma obra abundante de imagens, e pensamentos sublimes, por comprida que seja.
Bocage
Tomo II das Rimas – 1802
O Banquete que poz termo ao memoravel dia do ajuntamento solemne dos barões e senhores de Portugal prolongou-se até alta noite. D. Thereza tinha ahi apparecido rodeada de todo o esplendor real.
Alexandre Herculano
O bobo (in O Panorama Vol 2º - Série 2ª) – 1843
E tu que já passaste o Outomno só commigo
Não pensas ao cahir de tantas agonias
Nas minhas, que tu sabes, ó meu melhor amigo?
Cahi, folhas, cahi! tombae melancholias!
António Nobre
Monólogo de Outubro – 1897
…ou o simples cantar de um gallo, uma d’essas insignificancias, enfim, que possuem o condão de nos recordarem mil e mil coisas da propria existencia decorrida; então, se a lembrança d’estas linhas lhe ocorrer, julgará se eu estou em erro, ou se acerto, a escrevel-as.
Wenceslau de Moraes
O tiro do meio-dia (Tokushima) – 1918
Entre turbas de mortos não ser mais
Do que um espectro vivo?
Ser doido cataclismo!
Ser desprendida folha,
Entregue aos vendavaes,
Em negros vôos afflictos!
Olhar seu próprio sêr como quem olha
O fundo d’um abysmo.
Teixeira de Pascoaes
Elegia da solidão - 1921
São fragmentos ao acaso… Muda a forma mas não muda a essência. A língua portuguesa é de facto a mais bela língua do mundo; mas a origem dessa beleza está na Alma que a criou, e da qual ela é instrumento de materialização. E depois, como diz o Poeta: Todo o mundo é composto de mudança / tomando sempre novas qualidades.
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra).
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3 comentários:
Belos pedaços, e gabo-lhe o labor e a paciência. Belos pedaços, todos Língua Portuguesa, concordantes com a etimologia latina e a sua sintaxe!
Yá táçe eskrevinhar qqr koisa komo çe fála é o mote da nova águia!?
Que mal que fica à evocada Águia esta nova.
Mas a (des)propósito compare-se o nº de seguidores do "coiso" , a angariar desde Março, com o nº dos que se lhe opõem, desde sexta-feira passada.
E não venham, os defensores da supremacia dos milhões de falantes da variante Sul Americana, dizer que os números agora que lhes são desfavoráveis não importam.
Émbora esta não seja uma questão de números mas uma questão de identidade, de integridade e de cultura.
É a evolução, quer se concorde ou não com ela.
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