Estava a ouvir ontem Renato Epifânio e Paulo Borges, e relembrando em simultâneo a vida de Agostinho da Silva. Paulo Borges lembrava que o verdadeiro Filósofo ao contrário do ditado de Frei Tomás vive aquilo em que acredita, tal como Agostinho dizia já viver no Vº Império. Tentava ao mesmo tempo equacionar do ponto de vista da ação, como podemos pôr em marcha um projecto de algo que por tão grande nos pode parecer tão utópico. Ressoaram os exemplos de Agostinho e as palavras de Manuel Laranjeira no nº1 da Águia em 1910, “Ha minorias que são o germen de sociedades futuras e minorias que são o residuo de sociedades mortas. Há minorias que são o fermento de geraçoes vindouras e minorias que são os restos de geraçoes extinctas. Há minorias que abraçam o futuro e minorias que abraçam o passado; minorias que estendem os olhos anciosamente para ámanhan e minorias que os estendem, saudosas, para hontem. Há minorias que são uma força germinal e minorias que são uma força esterelizante.
E entre estas duas forças: uma no sentido do futuro, outra no sentido do passado; uma que impelle para diante, outra que pucha para trás: a maioria representa a força conservadora, a que estabelece e garante o equilíbrio social.
E, como não há nada capaz de destruir uma verdade, a minoria progressiva irá conquistando a maioria, irá absorvendo-a e transformando-a no sentido do futuro. A maioria deixar-se-á transformar lentamente, sem ondulaçoens bruscas e penosas, porque esse é o sentido do seu bem-estar.”
Observo com respeito e admiração o trabalho de regeneração dos nossos irmãos galegos da AGAL que tornam real no dia-a-dia o projecto de regeneração e reintegração no universo Lusófono. Não estão à espera que a Real Academia “Galaico-Castelhana” os autorize a escrever em Galego-galego (Lusófono) .... escrevem!
Ainda hoje, temos mais uma notícia de algum desespero Editorial com o desejo de afundar o acordo ortográfico. Desta vez é o Tribunal Constitucional, talvez amanhã o “tribunal dos direitos Humanos”. Para quem acha que esta querela está a ficar um pouco absurda aconselho a que escrevam de acordo com a vossa consciência (pró ou contra) e deixem a formalização legal (ou não) para a Assembleia da República. Quanto aos editores gostava que tentassem desta vez observar uma das máximas (nem sempre salutar) do atual mundo competitivo “não existem problemas, apenas oportunidades” e pusessem em prática o imenso e potencialmente lucrativo trabalho que têm pela frente. Já agora, alguém teve dificuldade em perceber o português de Manuel Laranjeira?....
Como diria Raul Proença ainda na Águia um ano depois perante uma querela ortográfica mais extensa que a atual, "Para longe, portanto, a uniformidade que não nasça, expontaneamente, d' um ditame das consciências."
Sou daqueles que tenho dentro de mim o conflito ortográfico. Se tivesse aprendido latim o apego à etimologia ainda seria maior, mas também reconheço que o sentir da Lusofonia e o passar duma mensagem vão muito para além do grafar. Os mais críticos dizem que não chega a ser um acordo ortográfico mas um acordo sobre o desacordo. Ainda que parcialmente assim seja, o facto do desacordo estar normalizado parece-me potencialmente positivo para Portugal, pois todos os agentes da Língua sobretudo os Internacionais, passam a tomar consciência da especificidade ainda que minoritária do "nosso" Português. Eu por mim vou adotá-lo de forma tentativa ...
O acordo Ortográfico é apenas um pequeno exemplo do que podemos fazer. A vossa Junta de Freguesia ou a Câmara não tem o dinamismo ou a competência que gostariam? Façam sozinhos ou acompanhados, mobilizem-nas, ajudem sem se preocuparem com os louros da ação. Alguém tem um sonho sobre algo que acha que tem competência para fazer? Faça-o independentemente da escala em que o fizer. Se o que fizer tiver valor intrínseco, será acolhido pela comunidade, perdurará e crescerá.
Miguel Santos, Sintra
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
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