A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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domingo, 27 de abril de 2008

A Língua-Filosofia Portuguesa como uma Via Aberta...

Ainda que, a nosso ver, caia por vezes Álvaro Ribeiro numa visão demasiado sectária da “filosofia portuguesa”, tal não significa que o seu esforço de fundamentação das filosofias nacionais em geral – e, em particular, da “filosofia portuguesa” –, não seja meritório. Quem, de boa-fé, ler a sua obra, não pode deixar de reconhecer a pertinência de muitas das suas reflexões, em particular as relativas às “línguas nacionais”. Assim, na esteira de outros pensadores – nomeadamente, de Ferreira Deusdado, que escreveu que “um idioma é uma filosofia inteira em potência e em germe” –, considera Ribeiro que a cada língua corresponde uma determinada cultura, uma determinada mundividência, e, nessa medida, uma determinada filosofia. Daí, a título de exemplo, estas suas palavras: “…uma língua não vive apenas da expressão oral ou escrita, nem é tão somente utensílio, instrumento ou meio de que os oradores e escritores usem com maior ou menor perícia. A língua é muito mais ainda: vale, para cada homem que a cultiva, de caminho para integração numa comunidade espiritual. Mais do que um caminho é um rumo, mais do que um rumo é um barco e, transformando os remos que sulcam as águas em asas que dominam os ares, a palavra dos homens dos portos parece em tudo falar da viagem que vai da terra ao céu.”.

Aliás, para Álvaro Ribeiro, como ele próprio fez questão de frisar, “a filosofia só irrompe da sua originalidade quando atinge, pelo vigor e pela autonomia da expressão, e dentro da particularidade de cada idioma, um modo próprio de existência”. Sob esta perspectiva, só há pois filosofia quando esta, de forma umbilical, brota de uma determinada língua, enquanto sua obra, a sua obra por excelência. Assim como nós não podemos caminhar senão através dos nossos próprios pés, assim conclui Ribeiro pela “impossibilidade de o pensamento próprio prosseguir à custa da expressão alheia”. Sempre que há filosofia, sempre que a filosofia germina, ela é sempre já expressão de uma determinada cultura, de uma determinada língua. Por mais que o filósofo o negue – e assim se renegue, tenha ou não consciência disso – ele próprio é sempre já expressão de uma determinada mundividência. Como escreveu José Marinho a este respeito, “o homem é um animal com asas mas com raízes" – ele só aliás, acrescentamos nós, terá asas na exacta medida em que tiver raízes, ou seja, ele só erigirá o seu próprio pensamento na exacta medida em que assumir as suas raízes, a sua radicação numa determinada mundividência, numa determinada cultura, numa determinada língua. Só assim, com efeito, quando o pensar se (re)liga às raízes do qual umbilicalmente brota, as palavras, como escreveu ainda o autor d’ A Arte de Filosofar, “servem de velas, ou valem de asas”.

Na medida em que a cada língua corresponde, em última instância, uma determinada filosofia, negar a “filosofia portuguesa” é para Álvaro Ribeiro tão absurdo quanto negar a língua portuguesa. Eis, em suma, a sua tese, por si expressamente defendida em múltiplas passagens da sua obra – a título de exemplo, atentemos nestas: “Negar a filosofia portuguesa seria negar a língua portuguesa, não já como utensílio de tradução do pensamento alheio, negação absurda, mas como portadora de palavras intraduzíveis cuja significação só nós podemos imaginar."; “Não há fundamentado argumento que torne lícito negar à língua portuguesa, à língua de um povo cuja história é um símbolo, a maravilhosa faculdade de relacionar a temporalidade do Verbo com a eternidade do Espírito.”. Obviamente que, diremos agora nós, também não há “fundamentado argumento” que prove a tese do autor d’ A Arte de Filosofar. Se o há, ele, pelo menos, não o apresenta. Apresenta-nos, contudo, um caminho, o seu caminho, para conseguirmos essa prova – ainda nas suas palavras: “Vencer a opacidade do idioma português, dar a expressão dialéctica ao tipo de imaginação e de ideação que nas obras de arte se revela em beleza exuberante, dar transcendência à subjectividade, é – exactamente por virtude da imagem verbal como pela força do raciocínio – desvendar a existência de uma autêntica filosofia nacional.”.

Poderão alguns, porventura, contestar toda essa importância dada à língua, à nossa língua, alegando que, ela, a língua portuguesa, é “destituída de qualidades que a tornem apta para a expressão filosófica”. Talvez, quem sabe, tenham realmente razão – como no parágrafo anterior dissemos, não há “fundamentado argumento” que prove qualquer das duas teses. Talvez que, no entanto, neste caso – como quase sempre – a razão seja sinónimo de perdição. Talvez que, com efeito, a possibilidade de existência de uma “filosofia portuguesa” derive, precisamente, da “destituição de qualidades” da nossa língua, da sua “pobreza”. Eis, nomeadamente, a tese de José Enes, que antevê nessa “pobreza” uma latente fertilidade, na medida em que, ao contrário de outras línguas, a língua portuguesa, por circunstâncias várias – desde logo, pela nossa circunstância, pela nossa situação espácio-temporal –, foi menos sobredeterminada pela evolução da história da filosofia ocidental, estando por isso, pelo menos à partida, mais apta a trilhar alguns dos caminhos por essa história ignorados, quando não mesmo reprimidos – nas palavras do próprio autor: “…a pobreza da nossa cultura eximiu a nossa língua da instrumentalização linguística da razão que construiu as teologias, as filosofias, as ciências e as tecnologias. Em estado de latência, dormem nelas as potencialidades significativas de todas as culturas que a influenciaram (…). Pode ser que através dela se torne possível uma reflexão fenomenológica sobre os fundamentos ontológicos, ou seja, na direcção do recesso onde se recata o ser.".

Por isso, aliás, falou José Marinho, por diversas vezes, da “via aberta do pensamento português e da filosofia portuguesa” – ao contrário de outras tradições filosóficas, mais reféns dessa “instrumentalização linguística da razão que construiu as teologias, as filosofias, as ciências e as tecnologias”, a tradição filosófica portuguesa, pela sua “pobreza”, seria ainda uma via aberta, ou, pelo menos, não inteiramente fechada.

Excerto de Fundamentos e Firmamentos do pensamento português contemporâneo (IN-CM, no prelo)

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