A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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terça-feira, 25 de março de 2008

Vidas Portuguesas: Miguel Real (1953)


“Assim, a ‘morte de Portugal’ não significa que Portugal desapareça (...), mas, sim, que o Portugal que as gerações nascidas até à década de 1960 conheceram, animado por aqueles quatro complexos, se encontra em vias de desaparecimento, transfigurado em mais uma das inúmeras regiões da Europa, governado por técnicos medíocres que, lentamente, em nome da segurança internacional, da carência de recursos naturais, ou outra justificação, preparam uma futura ditadura tecnocrática. No futuro, porventura no virar deste para o próximo século, Portugal transformar-se-á em mais uma das inúmeras regiões singulares da Europa, culturalmente tão importante e exótico como a Alsácia ou a Andaluzia, guardando dentro de si, nos seus museus regionais ou nacionais, o retrato de uma velha cultura de 800 anos morta às mãos de um grupo de engenheiros e economistas sem espírito histórico, de uma tecnocracia sem rosto nem alma, para quem conta só, primeiro, a contabilidade das estatísticas, e, segundo, o sentido europeu das estatísticas”.
Miguel Real, A Morte de Portugal

Apontamento Biográfico
Luís Martins, mais conhecido entre nós como Miguel Real, nasceu em Lisboa no dia 1 de Março de 1953. Completou, portanto, há três semanas e meia, precisamente 55 anos. Licenciou-se em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, obteve um mestrado em Estudos Portugueses pela Universidade Aberta, foi bolseiro do Centro Nacional de Cultura e, entre muitas outras atribuições e funções, é também colaborador do Jornal de Letras, Artes e Ideias.
Sintrense por opção, Miguel Real é professor de filosofia na Escola Secundária de Mem-Martins mas não se restringe a esse cargo. É também ensaísta, romancista e crítico literário. Ganhou, a esse propósito, quatro importantes prémios: Prémio Revelação de Ficção da APE/IPLB, em 1979, com o romance O Outro e o Mesmo; Prémio Revelação de Ensaio Literário da Associação Portuguesa de Escritores, em 1995, com o livro Portugal - Ser e Representação; Prémio Ler / Círculo de Leitores, em 1999, com a obra A Visão de Túndalo por Eça de Queirós; e Prémio Fernando Namora da Sociedade Estoril Sol, em 2006, com o romance histórico A Voz da Terra.
Miguel Real continua a escrever, não pára, aliás, de escrever. Para este ano, promete-nos, para além de um romance dedicado ao Padre António Vieira (1608-1697), mais um ou dois ensaios acerca da cultura portuguesa.

Apontamento Crítico
Poder-se-á dizer que Miguel Real só desatou a escrever a partir dos meados da década de 1990, já depois dos seus quarenta anos. Se, aparentemente, assim é, a rigor, Miguel Real começou a publicar muito mais cedo: no início da década de 1980. No entanto, tais publicações surgem muito espaçadas entre si. A bem da verdade, entre 1980 e 1995 (ano a partir da qual, o nosso autor começa a editar mais frequentemente), Real traz à estampa apenas 4 ou 5 livros. Como sabemos, depois dessa data, até aos nossos dias - apenas treze anos passados-, o ensaísta publicou cerca de duas dezenas de obras. Talvez por isso, não seja despropositado afirmarmos que Miguel Real só começou a escrever verdadeiramente a partir de 1995. Contudo, tal só aconteceu porque o autor tinha uma enorme bagagem, repleta de muitas malas: umas já abertas e desveladas, outras semi-abertas e incógnitas, outras ainda por abrir, fechadas mas, potencialmente, carregadas de muito conhecimento e ousadia. Não é por acaso que Miguel Real começou a escrever, portanto, apenas na década de 1990 e nunca mais parou.
Das últimas gerações de portugueses que se têm dedicado ao estudo e à hermenêutica da cultura portuguesa e do pensamento filosófico nascido em Portugal, Real inclui-se no grupo daqueles que mais tem cruzado saberes, sobretudo da Filosofia com a História, com a Literatura e com a Antropologia (António Cândido Franco (1956) tem-no feito também, embora sob outro registo). Por esse motivo, os seus ensaios ou os seus romances não são apenas uma coisa só, uma análise estrita do pensamento ou da vida de José Saramago (1922), de Eduardo Lourenço (1923), do Marquês de Pombal (1699-1782) ou de Agostinho da Silva (1906-1994). São uma proposta de compreensão complexa de um pensar articulado com o mundo que o envolve, explicada claramente, sem decorações falsamente estilísticas, arrojadas ou pretensiosamente esotéricas.
Os seus romances são praticamente todos de natureza histórica e, por esse motivo, propõem-nos um contacto com um passado e com uma tradição que, geralmente são os nossos (de Portugal ou de um Ocidente ao qual pertencemos) mas que conhecemos mal nos seus pormenores, nas suas raízes e na sua vida intrínseca. Por isso é que as personagens e os ambientes de As Memórias de Branca Dias ou de A Voz da Terra, por exemplo, nos empolgam, já que revelam um mundo que foi tão nosso, foi o nosso mundo naqueles séculos, mas que não chegou aos nossos dias: os quotidianos petrificaram-se com a evolução natural dos tempos e muitos costumes não vingaram ou ficaram ocultos, ainda hoje poucas notícias deles temos.
Num dos seus últimos ensaios, dedicado à análise da cultura portuguesa - A Morte de Portugal -, Miguel Real vai mais longe do que fora nos seus outros escritos. Para além de nos explicitar que, enquanto portugueses, nos inserimos e nos fomos enformando, ao longo da nossa existência, em quatro grandes complexos culturais (viriatino, vieirino, pombalino e canibalista), alerta-nos veementemente para o perigo da perda da nossa identidade cultural se não soubermos lidar com a europeização que, a cada dia e massivamente, invade Portugal e a vida quotidiana dos portugueses, de uma forma quase imperceptível. Não se trata de negar ou rejeitar uma relação de Portugal com a Europa (que, como sabemos, sempre foi complexa), mas de atentar para a invasão tecnocrata que nos é imposta, contrariando alguns dos valores morais e espirituais dos portugueses, provocando aquilo que Real chama de a segunda morte de D. Sebastião, ou seja, a vitória europeia de Portugal. A morte de Portugal estará, pois, eminente, se nos lançarmos definitivamente nos braços de uma Europa que, em vez de nos aceitar com as nossas especificidades, nos engolirá e nos emoldurará a seu bel-prazer, transformando-nos em mais uma das suas regiões ou subsecções, semelhante a tantas outras. A proposta de Miguel Real não é nem optimista (como a de um Agostinho da Silva) nem pessimista (como a de um Eduardo Lourenço): põe na mesa todas as cartas, isto é, alerta para a inevitabilidade de uma morte caso não se curem todas as feridas e não se previna o aparecimento de novas chagas, mas acredita, no fundo ainda acredita, que é possível varrer do comando de Portugal aqueles que o burocratizam e o jogam à tecnocracia a despeito de uma ignorância da história e do passado de Portugal, dos reais valores que sempre o animaram (sem ser necessário exaltar nacionalismos ou patriotismos).

Bibliografia Indicativa:
Ensaio

A situação actual da filosofia em Portugal (1985)
G. W. Leibniz: o paradoxo e a maravilha (1995)
Narração, Maravilhoso, Trágico e Sagrado em Memorial do Convento, de José Saramago (1995)
Introdução à Filosofia da Saudade no Século XX (1998)
Portugal - Ser e Representação (1998)
Padre António Vieira e o Ano de 1666 (1999)
A Geração de 90 - Romance e Sociedade no Portugal Contemporâneo (2001)
Eduardo Lourenço - Os Anos de Formação: 1945-1958 ( 2003)
O Essencial sobre Eduardo Lourenço (2003)
O Último Eça (2006)
A Morte de Portugal (2007)
Agostinho da Silva e a cultura portuguesa (2007)
Ficção
O Outro e o Mesmo (1980)
Carta de Sócrates a Alcibíades, seu vergonhoso amante (1987)
A Verdadeira Apologia de Sócrates (1998)
A Visão de Túndalo por Eça de Queirós (2000)
As Memórias de Branca Dias (2003)
A Voz da Terra (2005)
O Último Negreiro (2006)
O Último Minuto na Vida de S. (2007)
Dramaturgia
(em co-autoria com Filomena Oliveira)
Os Patriotas, sobre a Geração de 70 (2001)
O Umbigo de Régio (2003)
Liberdade, Liberdade! (2004)
1755 (2006)

3 comentários:

Ricardo Ventura disse...

Caros amigos,
Uma curiosidade a acrescentar à bibliografia indicativa. Trata-se de uma brochura praticamente desconhecida e muito difícil de encontrar:
Luís Martins, A situação actual da filosofia em Portugal, Lisboa, ed. autor, 1985, 28 pp.
Os meus parabéns pela rubrica!

Romana Valente Pinho disse...

Muito obrigada, Ricardo, pela dica! Vou já acrescentar.

OCTÁVIO DOS SANTOS disse...

Permita-me, a propósito da bibliografia do Miguel Real, «puxar a brasa à minha sardinha» - que é também, aliás, a «sardinha» dele! Em Janeiro último, foi editado «A República Nunca Existiu!», projecto (colectânea de contos) que eu concebi, organizei e em que participei juntamente com outros 13 autores... um dos quais o Miguel, com «D. Amélia - Mini-peça em dois actos».