A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Vidas Portuguesas: Agostinho da Silva (1906-1994)



“Ecumenismo consiste em ver todas as religiões como os vários aspectos da religião portuguesa, e por Portugal esperemos que humana, da religião do Espírito, que um dia, na sua forma última e pura, abandonará todos os ritos pelo viver a vida graciosa, trocará todas as orações pelo perder-se em Deus, e, tendo atingido a realidade, lhe serão sacramentos símbolos só. O ecumenismo português tem de se afirmar pela igualdade de tratamento teológico e político de todas as religiões que Portugal contém (...). Ecumenismo não é contrato, é vida; vida plena e cogulada, como Deus a quer”.
Agostinho da Silva, Educação de Portugal

Apontamento Biográfico
George Agostinho Baptista da Silva, mais conhecido como Agostinho da Silva, nasceu no dia 13 de Fevereiro de 1906, na cidade do Porto. No fim do Verão, os seus pais mudam-se para Barca D’Alva (aldeia raiana da Beira Alta) e permanecem por lá até 1912. Nesse mesmo ano, regressam ao Porto e Agostinho da Silva frequenta a Escola Primária de São Nicolau. Ingressa na Escola Industrial Infante D. Henrique, em 1914 e, três anos depois, matricula-se no Liceu Rodrigues de Freitas, no qual termina os seus estudos liceais.
Em 1924, entra para a Faculdade de Letras da Universidade do Porto para cursar Filologia Românica mas, no mesmo ano lectivo, transfere-se para o curso de Filologia Clássica. Terminará a sua licenciatura em 1928, ano em que passará a colaborar na Revista Seara Nova. No ano seguinte, conclui a sua tese de doutoramento - O Sentido Histórico das Civilizações Clássicas.
Em 1930, frequenta a Escola Normal Superior de Lisboa e, em 1931, parte para Paris, onde estuda, como bolseiro, na Sorbonne e no Collège de France. Quando regressa de Paris (1933), é colocado, em Aveiro, como professor efectivo no Liceu José Estevão. Dois anos depois, é demitido do ensino oficial por não ter assinado a famosa Lei Cabral. Ganha uma bolsa do Ministério das Relações Exteriores de Espanha e vai estudar para o Centro de Estudos Históricos de Madrid. Com a eminência da Guerra Civil Espanhola, volta para Portugal, em 1936, e lecciona em colégios privados e dá aulas particulares a meninos ricos.
Nos anos seguintes dedicar-se-á à criação de uma escola experimental e do Núcleo Pedagógico de Antero de Quental; publicará as Biografias e os Cadernos de Informação Cultural. Em 1943 é preso, por motivos político-religiosos, na prisão do Aljube, em Lisboa. No fim do ano seguinte parte para a América do Sul.
Entre 1944 e 1947, Agostinho da Silva passa pelo Brasil, pela Argentina e pelo Uruguai. Radica-se definitivamente no Brasil, em 1947, e percorrerá todo o país (Rio de Janeiro, Paraíba, São Paulo, Santa Catarina, Bahia, Goiânia, Brasília) fundando centros de estudo e universidades. Nessa época, desloca-se ainda ao Japão, a Macau, a Timor e aos Estados Unidos. Regressa a Portugal, em 1969, e inicia uma nova fase na sua vida: aprofunda a sua escrita epistolar; participa em programas de televisão; visita o Senegal e a Ilha de Moçambique; recebe ordens de mérito da parte do Governo Português; torna-se numa figura popular e reconhecida pelas massas. Em 1994, no Domingo de Páscoa (3 de Abril), morre, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.

Apontamento Crítico
Agostinho da Silva é um autor que navega por diversos mares sapienciais: da filosofia à pedagogia, da história à arte, da literatura às ciências, da geografia à entomologia, da filologia à metafísica, da religião à poesia, da política à antropologia. Contudo, as áreas onde mais se destaca são as da pedagogia, da política e da metafísica e religião.
Assim como o seu mestre Hernâni Cidade (1887-1975), Agostinho da Silva foi professor quase toda a sua vida. Contudo, só começou a ensinar já depois da sua veia intervencionista em termos sociais e culturais estar alicerçada. Antes de ser objectivamente professor, Agostinho já era um crítico do modus vivendi português, em particular da academia e da falsa intelectualidade.
Agostinho da Silva entrecruza o seu projecto pedagógico com os de Pestalozzi (1746-1827), Montessori (1870-1952), Tolstoi (1828-1910), Cousinet (1881-1973), Freinet (1896-1966), do português Faria de Vasconcelos (1880-1939) em alguns dos seus segmentos, do plano Dalton, das Escolas de Winnetka e das pedagogias platónica, montaigniana, espinosista, rosseauniana – com todos eles, o nosso autor partilha o sentido de liberdade a desenvolver no aluno, a importância dada à vida como denominador de experiência e de enriquecimento pessoal e inter-subjectivo, o enaltecimento da Razão como guia e método auto-gnósico, afinal, o professor será tão-só um orientador, o estímulo que desencadeia o crescimento de cada criança. A partir do momento em que esta discussão se contextualiza temporalmente no período em que Agostinho se relaciona mais intensamente com António Sérgio (1883-1969) - durante toda a década de 1930 -, é natural que a filosofia da educação e o pensamento pedagógico deste teórico racionalista também interfiram no ajustamento e no alicerçar da pedagogia que Agostinho da Silva já reflectia e maturava há algum tempo. Afinal, ambos consideravam os mesmos objectivos, reportavam-se à mesma tradição e, uma vez que estavam inseridos no mesmo contexto sócio-cultural, preocupavam-se com as mesmas questões e com os problemas políticos e educacionais que assolavam o país.
Decepcionado com o rumo político que a 1.ª República levara, Agostinho da Silva, sensivelmente entre 1925 e 1927, defende ideais pseudo-monárquicos. Contudo, estes são atenuados a partir do momento em que o nosso autor entra, em 1928, para a Seara Nova. De pseudo-monárquico, Agostinho passa a defender o ideário seareiro, isto é, em prol do progresso científico da nação, menospreza o tradicionalismo meramente conservador e inócuo. De igual forma, interessa-se, nesta altura, pelos objectivos ético-sociais do cristianismo. Na verdade, o autor duvida da historicidade da personagem divina de Jesus Cristo e direcciona toda a demanda cristã para a esfera da sensorialidade, do real e da materialidade. Nesta perspectiva, Agostinho da Silva faz a apologia da re-implantação do cristianismo primitivo, independentemente de Jesus ter existido ou não historicamente, propondo, simultaneamente, à Igreja Católica, um re-pensar sobre o caminho que trilhou ao longo de todos esses séculos. A publicação de O Cristianismo (1942) e de A Doutrina Cristã (1943) e toda a sua actividade de divulgação cultural vão conduzi-lo a percorrer um caminho idêntico ao de muitos perseguidos políticos da época: censura, perseguição, confiscação de livros e prisão. Diante disto, no dia 24 de Junho de 1943 é preso em Lisboa, na Cadeia do Aljube.
Ao equacionarmos uma análise das orientações políticas que atravessam a vida de Agostinho da Silva, concluímos que ele quase nunca se define filiado a um pensar político específico, apesar da opinião pública assim não o considerar. Se, nas décadas de 30 e 40, é rotulado como comunista e, nos anos 50 e 60, é considerado conservador, na verdade, Agostinho nunca assume essas posições ideológicas.
O Reino do Espírito Santo, para além de se constituir como uma das teses teológico-filosóficas mais fundamentais da sua obra, configura-se igualmente como reflexão sócio-política. Afinal de contas, a demanda espiritual só poderá ser encetada, se houver um domínio daquilo que assegura o material. Neste caso, o Reino do Espírito Santo (simbolicamente referente ao culto que os Reis D. Dinis e D. Isabel criaram, na Idade Média, em Portugal) é também a vitória da luta contra a fome, da melhoria das condições de vida, do fim do capitalismo, da igualdade social, económica e cultural para todos os homens. A bem da verdade, quando o Reino do Espírito Santo se tornar uma realidade objectiva, os problemas da sociedade desigual e desequilibrada terão a sua solução, tão simplesmente porque os bens pertencerão cooperativa e comunitariamente a todos.
Em toda a sua obra, Agostinho tem o escopo de conceptualizar uma ideia de Deus em que, simultaneamente, a transcendência conviva com a imanência, o divino se relacione com o humano - a agostiniana ideia de Deus associa-se ao Espírito Santo. O seu Deus é um Deus Pentecostal. No entanto, a reflexão em torno desta perspectiva encerra-se ao longo de mais de 60 anos e não podemos afirmar que o seu pensamento tenha sido sempre idêntico, apesar de existirem questões que permanecem inalteradas. Porém, sem ser um historiador das religiões, Agostinho deambula pelos principais credos do Ocidente e do Oriente: classicismo, cristianismo, catolicismo, taoismo, budismo-zen, candomblé.
Esta panóplia de diferentes espiritualidades representa já o interesse ecuménico de George Agostinho da Silva. Levando-nos a crer que, desde sempre, por mais formas de credo que tenha defendido e estudado, o seu interesse maior é a demanda do Espírito. No fundo, independentemente do modelo de cultuação, na sua obra só há lugar para a divinização do Espírito, que a tudo acolhe e que a tudo sustem. Na imensidão do Espírito tudo e todos cabem. A experiência do Espírito Santo é a vivência do ecumenismo. No seu pensamento, a doutrina ecuménica é uma filosofia redentora, salvífica e unificadora: no Reino do Espírito Santo, todos os seres estão mais próximos da sua essência. Afinal, todos se reconhecem ontologicamente equivalentes, na medida em que, para além de assumirem a sua individuação, reconhecem no outro a mesmidade que os compõe.

Bibliografia Indicativa
Breve Ensaio sobre Pérsio, 1929
Sentido Histórico das Civilizações Clássicas, 1929
A Religião Grega, 1930
Miguel Eyquem, Senhor de Montaigne, 1933
O Método Montessori, 1939
Sanderson e a escola de Oundle, 1941
O Cristianismo, 1942
Conversação com Diotima, 1944
Diário de Alcestes, 1945
Glossas, 1945
Sete Cartas a um Jovem Filósofo, 1945
Herta. Teresinha. Joan, 1953
Ensaio para uma Teoria do Brasil, 1956
Lembranças sul-americanas de Mateus Maria Guadalupe, 1957
Reflexão à margem da literatura portuguesa, 1957
Um Fernando Pessoa, 1959
Só Ajustamentos, 1962
Educação de Portugal, 1970 (publicado em 1989)
Caderno de Lembranças, 1986 (publicado em 2006)

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