Incorporar as massas na política não quer dizer que se caia na "ditadura" das mesmas. Alexis de Tocqueville fez bem notar que a sociedade civil organizada pode ser um excelente antídoto á "tirania das massas".
Além disso, um aprofundar da democracia através de uma maior participação da sociedade civil não implica uma exclusão das "elites", mas sim uma colaboração mais próxima entre diversos tipos de elites e entre estas e as "não elites". Tal implica necessáriamente o quebrar de "panelinhas", "compadrios" e "vantagens de meninos de boas famílias" que impedem que a verdadeira "nata" da capacidade e realizaçao humanas venha ao de cima e permita que as elites circulem e se renovem, mantendo-se a sssim como verdadeiras elites e não como "interesses instalados".
Também não implica uma exclusão dos partidos políticos ou do "Directório Europeu".
Olhar para os exemplos de organização popular da América Latina (e não para certos caciques megalómanos que se arvoram em 'salvadores da pátria' e se querem perpetuar no poder - há que fazer distinções bem claras) não significa imitar o que por lá se faz, mas sim buscar ideias que possam alimentar debates e ajudem da formação de um projecto próprio.
É mais que óbvio que Portugal e o Brasil ou a Argentina são sociedades muitíssimo diferentes. Isso não significa que não possam aprender uma com a outra.
É de notar que até os países mais "fortes" do "Directório Europeu" estão a olhar para a América Latina em busca de formas de aproximar o Estado da Sociedade Civil, e assim aprofundar a Democracia. Lembrem-se que Segolene Royal falou com bastante frequência de "Democracia Participativa" e até "Orçamento Participativo" durante as sua campanha eleitoral.
Além disso, as regiões do dito "terceiro mundo" onde há mais participação popular são aquelas onde o Estado é mais forte e onde há menos "terceiro mundismo". Senão, veja-se o exemplo do Rio Grande do Sul, ou de Kerala, na Índia. Vários cientistas sociais alegam que a mobilização e participação populares, em interacção com um Estado bem dotado de meios e com uma estrutura aberta ao diálogo com a sociedade civil, são um motor essencial do desenvolvimento económico e social - veja-se o caso das várias sociais-democracias Europeias. Não obstante este modelo estar a passar por uma crise, é de ter em conta que, se não fosse a participação popular e a consequente redistribuição de riqueza e aumento da capacidade governativa do Estado, esses países não teriam atingido a qualidade de vida e o grau de desenvolvimento de recursos humanos que actualmente lhes permite serem competidores fortes no mercado internacional.
A participação popular, como princípio e prática, pouco ou nada tem de terceiro-mundista ...
Vários municípios dos EUA adoptaram modelos de Orçamento Participativo inspirados na experiência de Porto Alegre.
O Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra tem um publicação chamada "O Regresso das Caravelas", sobre a adopção de modelos de governação participativa por vários países Europeus, inspirados em experiências da América Latina.
Além do mais, convem lembrar que o PREC não foi exactamente um projecto de massas ... Embora grande parte tenha acabado por ser incorporada de forma por vezes bastante autoritária e "dirigista" ... Será que um projecto delineado pelas forças militares pode ser chamado de "popular"?
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
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2 comentários:
O PREC não foi exactamente um projecto de "poder popular" porque o "poder popular" nunca existiu nem existirá... Só as Elites exercem realmente o Poder! O resto são quimeras para iludir as massas...
"Incorporar as massas na política não quer dizer que se caia na "ditadura" das mesmas. Alexis de Tocqueville fez bem notar que a sociedade civil organizada pode ser um excelente antídoto á "tirania das massas"."
-> Actualmente assistimos precisamente ao oposto! É precisamente por causa da demissão das massas da "sociedade civil organizada" que vemos algumas oligarquias partidárias e económicas a assumirem o control das democracias e dos Media...
"Além disso, um aprofundar da democracia através de uma maior participação da sociedade civil não implica uma exclusão das "elites", mas sim uma colaboração mais próxima entre diversos tipos de elites e entre estas e as "não elites". Tal implica necessáriamente o quebrar de "panelinhas", "compadrios" e "vantagens de meninos de boas famílias" que impedem que a verdadeira "nata" da capacidade e realizaçao humanas venha ao de cima e permita que as elites circulem e se renovem, mantendo-se a sssim como verdadeiras elites e não como "interesses instalados"."
-> Não vejo nada de negativo na criação de "élites", no sentido em que haverá sempre uma minoria de pessoas interessadas no andamento da coisa pública, especialmente enquanto ela for distante e desligada da vida comum como o é actualmente. Descentralizando, localizando... estabelecendo contactos directos e pessoais entre eleitos e eleitores, talvez possa ser diferente, e talvez aí essas elites se expandam e deixem de existir. Por isso mesmo procuro dar tanto enfoque à descentralização municipalista proposta por Agostinho.
"Também não implica uma exclusão dos partidos políticos ou do "Directório Europeu"."
-> Não... Mas sem dúvida que iria contra a partidocracia de que eles vivem...
"Olhar para os exemplos de organização popular da América Latina (e não para certos caciques megalómanos que se arvoram em 'salvadores da pátria' e se querem perpetuar no poder - há que fazer distinções bem claras) não significa imitar o que por lá se faz, mas sim buscar ideias que possam alimentar debates e ajudem da formação de um projecto próprio."
-> Uma alusão aos populistas Chavez e Morales, está-se mesmo a ver... ;-)
-> E sim, concordo com a leitura...
"É mais que óbvio que Portugal e o Brasil ou a Argentina são sociedades muitíssimo diferentes. Isso não significa que não possam aprender uma com a outra."
-> Com efeito. E ainda que diferentes, nenhuma outra sociedade e cultura são mais parecidas com a portuguesa do que a brasileira!
"É de notar que até os países mais "fortes" do "Directório Europeu" estão a olhar para a América Latina em busca de formas de aproximar o Estado da Sociedade Civil, e assim aprofundar a Democracia. Lembrem-se que Segolene Royal falou com bastante frequência de "Democracia Participativa" e até "Orçamento Participativo" durante as sua campanha eleitoral."
-> Correcto. A Europa tem que começar a deixar de lado este seu europocentrismo, e com ele, esta convicção infundada de que tem um "mandato divino" para levar a civilização ao mundo.
"Além disso, as regiões do dito "terceiro mundo" onde há mais participação popular são aquelas onde o Estado é mais forte e onde há menos "terceiro mundismo". Senão, veja-se o exemplo do Rio Grande do Sul, ou de Kerala, na Índia. Vários cientistas sociais alegam que a mobilização e participação populares, em interacção com um Estado bem dotado de meios e com uma estrutura aberta ao diálogo com a sociedade civil, são um motor essencial do desenvolvimento económico e social - veja-se o caso das várias sociais-democracias Europeias. Não obstante este modelo estar a passar por uma crise, é de ter em conta que, se não fosse a participação popular e a consequente redistribuição de riqueza e aumento da capacidade governativa do Estado, esses países não teriam atingido a qualidade de vida e o grau de desenvolvimento de recursos humanos que actualmente lhes permite serem competidores fortes no mercado internacional."
-> Algo tem que se fazer para reaproximar as democracias das pessoas, se queremos mesmo que elas sobrevivam neste clima de liberalização e globalização. Estes modelos de Kerala e do Brasil são uma opção. Interessante e promissora... Certamente adaptáveis a realidades locais diferentes, e apenas uma de muitas soluções. Por mim, prefiro as potencialidades de uma descentralização radical... mas todos os modelos devem ser ponderados.
"A participação popular, como princípio e prática, pouco ou nada tem de terceiro-mundista ..."
-> A menos que entendamos a democracia como "terceiro mundista" e a oligarquia como "primeiro mundista".
"Vários municípios dos EUA adoptaram modelos de Orçamento Participativo inspirados na experiência de Porto Alegre."
-> E em Berkshire decorre aquela interessante experiência com moedas locais... Os EUA são ainda um dos locais mais dinâmicos do mundo e devem ser observados com muito interesse, e sem... preconceitos!
"Além do mais, convem lembrar que o PREC não foi exactamente um projecto de massas ... Embora grande parte tenha acabado por ser incorporada de forma por vezes bastante autoritária e "dirigista" ... Será que um projecto delineado pelas forças militares pode ser chamado de "popular"?"
-> Como aliás se viu nas votações do PCP, UDP e MRPP logo nas primeiras eleições legistativas pós-25 de Abril...
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